sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O primeiro interlocutor

Faço questão de repercutir, nesse espaço, o primeiro comentário recebido a respeito das postagens que tenho feito até o momento. Isto porque sinto nele o pulsar inicial de uma rede de interlocuções e, a partir dela, o iniciar de idéias e ações em favor do que é urgente fazer, a meu ver, pela educação pública (no meu caso) e pela saúde pública, no caso dele - Leonardo, médico recém-formado e, por coincidência, atendendo à mesma população que eu, na Região do Barreiro.

Leonardo faz constações, no atendimento aos seus pacientes, semelhantes às que venho observando, no meu tempo de trabalho em escola da mesma região.

A primeira delas é que os alunos mais novos demonstram gostar e esperar mais da escola do que os mais velhos, que na medida em que crescem se desiludem com a escola e passam a vê-la somente como lugar para merendar. Por que será?

Outro aspecto ressaltado por ele e que eu também percebo diz respeito à desestruturação das famílias das crianças e/ou adolescentes atendidas.
Todos sabemos que o conceito de família mudou muito e são várias as situações relacionais vividas pelas crianças e adolescentes atuais. Porém, quando falamos da desagregação familiar, não estamos fazendo nenhum juízo de valor à essa ou àquela família, seja a tradicional pai, mãe e filhos; ou, mãe solteira cuidando do filho e vice-versa, ou crianças sendo cuidadas por avós, tios, primos ou vizinhos... O problema maior é o do abandono afetivo dessas crianças e adolescentes, abandono esse muito maior e mais danoso do que as outras carências experimentadas por elas/eles.

A minha preocupação, e Leonardo expressa isso também no comentário que fez, é com a falta de perspectiva de futuro que essas crianças/adolescentes demonstram ter; são meninos e meninas num começo de vida sem sonhos. Quando pergunto a eles o que desejam como profissão a resposta que trazem na ponta da língua é a de ser jogador de futebol os meninos e as meninas "ser modelo" algumas e a maioria nem resposta tem. Um outro fator que me intriga muito é o de perceber neles a satisfação com o que já alcançaram em termos de aprendizagem. Para eles saber decifrar o texto já é leitura e escrever algumas palavras ou frases, por mais simples que sejam, já está bom demais. Não querem e não esperam mais do que isso da escola. Penso que aí está refletida uma característica da sociedade brasileira: a de não valorizar a educação formal. Por isso, as frases repetidas à exaustão: "escola é chato"; "estudar não vale a pena"; fulano não estudou e nem por isso morreu de fome" etc, etc, etc.
Daí a necessidade, a meu ver, de um envolvimento total de todos nós numa super valorização da escola: de acolhimento, de interesse pelo que acontece nas salas de aula, de "glamourização" do ato de estudar, de tornar a escola visível. Quem sabe, dessa forma, os pais não se interessariam mais pelo estudo dos filhos, não se sentiriam orgulhosos do sucesso deles - como no "Soletrando" do Luciano Ruck, por exemplo! Seria mais ou menos assim: "Minha escola está na Globo, logo ela existe e eu existo também"!

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