quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

No Reino Perdido

Era uma vez um reino perdido do novo mundo. Lá viviam pessoas felizes e perfeitamente integradas à natureza. É certo que brigavam, pois se subdividiam em várias tribos cada qual com seus costumes, suas crenças e modo de viver. Eles eram  povos primitivos que viviam da caça, da pesca e da coleta de raízes e de frutos. Como a região era tropical, não se vestiam, andavam nus e não se importavam com a exibição de seus corpos. Isso, sequer era problema para eles.
Certa vez, as tribos do litoral desse reino avistaram ao longe, ainda em alto mar, algo que mudaria para sempre as suas vidas.
Os enormes monstros que deslizavam na superfície do mar  se dirigiram a eles, que estavam na praia. De dentro dos monstros saíram uns seres estranhos querendo estabelecer contato.
Medo e estranhamento foi o primeiro sentimento de ambas as partes, mas com o tempo e algumas trocas de  presentes  a confiança se estabeleceu e a amizade se fez.
No entanto, achando-se superiores àqueles nativos, com perspicácia e argúcia, os visitantes apossaram-se das novas terras e das pessoas que nela encontraram: ensinaram-lhes seus costumes, vestiram-lhes os corpos, mostraram-lhes outro Deus, aproveitaram-se da força de trabalho daquele povo dócil e ensinaram-lhe uma nova forma de falar e de pensar... Mas não ensinaram tudo; ensinaram-lhes somente o que fosse útil ao novo senhor daquele imenso reino.
Tornaram-se amigos, tornaram-se amantes, misturam-se com outros estrangeiros, igualmente dominados e escravizados e dessa mistura, surgiu um novo ser do reino...
Passou o tempo, o reino mudou, as pessoas mudaram, o mundo mudou.
Porém, uma coisa não mudou. Ainda existe nesse reino aqueles que se sentem superiores aos outros. E isso fica evidente na forma de ensinar/aprender das pessoas do reino. Quem tem mais aprende mais quem tem menos aprende menos ainda.
O reino se diz democrático, fato verdadeiro, pois no sistema de ensino, não importa se pobres ou ricos todos privam da mesma mediocridade. As notas alcançadas pelos cidadãos do reino, quando comparadas às notas de outros povos evidenciam a ignorância de todos. Mas ninguém liga. Nem ricos, nem pobres; não há nenhuma mobilização popular ou da elite letrada para mudar o quadro do desastre educacional do reino.
Está em voga, no entanto, dizer que os professores são culpados pelo fracasso educacional de lá. Dizem que os professores são fracos e não têm domínio do conteúdo a ser ensinado; não dominam igualmente a tecnologia de ponta que lá existe como recurso educacional.
O que eles não dizem é que são eles mesmos que formam o professor; são eles que definem as políticas educacionais que o professor deve seguir; são eles que determinam os recursos a serem utilizados no sistema educacional do reino.
Durante toda a existência do reino os donatários de plantão sonharam e ainda sonham com uma fada madrinha que faça o milagre ou a mágica do ensinar/aprender sem esforço, sem gasto de tempo ou de recurso. Mas essa fada não existe e o "Pó de Pirlim-pim-pim", criado por um gênio que habitou o reino tempos atrás, está trancado no "Sítio do Pica-Pau-Amarelo"(obra maior do gênio) e o mesmo, por incrível que pareça, está sendo perseguido(de novo!) por alguns súditos  que não compreendem ou não querem compreender o contexto histórico da criação literária desse súdito.
Pode ser que a história da educação do povo desse reino tenha um final feliz, como soe acontecer em todos os contos de faz-de-conta. Mas, para isso, faz-se necessário deixar-se de lado a esperança de que um milagre aconteça, para apostar no trabalho sério, duro, árduo, contínuo e persistente de todos os habitantes do reino em prol da educação de qualidade para todos.
Sendo assim, as palavras mágicas para que o milagre aconteça são: avante, em frente, planejamento, foco, persistência, conhecimento, tecnologia e disciplina...
E assim, quem sabe, encontrar-se-á a luz no fim do túnel.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Brasileira Feliz ou O Dia em que o Brasil ficou Adulto

Em 2005 iniciei o curso de especialização em "Leitura e Produção de Textos" pelo "UNIBH". Excelente curso, deu-me uma nova visão, mais moderna, do trabalho com a "Língua Portuguesa"direcionado aos meus alunos e não só isso, revi conceitos, entrei em contato com professores - mestre e doutores - de alta qualificação.
À época veio a tona as primeiras denúncias sobre o "Mensalão" do Governo Lula...
Uma das disciplinas cursadas por mim no  referido curso chamava-se "Análise do Discurso" e ao final do estudo tínhamos de produzir um trabalho de análise de textos veiculados na mídia e que refletisse algo que estivesse em voga no momento.
Então, fiz um trabalho de análise comparativa de reportagens sobre o "Mensalão" veiculadas na Revista Veja da época e no jornal "Folha de São Paulo". Em decorrência desse trabalho fui obrigada a estudar com afinco o tema e analisá-lo à luz das teorias estudadas na disciplina "Análise do Discurso".
Orgulho-me de dizer que fiz um belo trabalho a respeito ficando com a nota máxima - 100!
Por interesse meu, porque gosto de acompanhar os fatos políticos e sociais do nosso país, veiculados pela mídia: jornais, revista, rádio e televisão, continuei acompanhando tudo o que dizia respeito a esse episódio lamentável da política brasileira, tendo por protagonistas os componentes do alto escalão do governo Lula.
A ação penal foi aceita pelo Ministério Público, o Supremo Tribunal Federal a acolheu e os réus foram determinados, num total de 38. Todos envolvidos em desvio de dinheiro público para rechear a conta do Partido dos Trabalhadores e para comprar a consciência de parlamentares inescrupulosos que se venderam votando a favor do governo as medidas que lhe interessava ganhar no parlamento da Câmara dos Deputados, principalmente.
No início quase ninguém acreditava que essa Ação chegasse a termo de julgamento. O que ninguém sabia, no entanto, era do caráter imparcial da maioria dos ministros do supremo envolvidos e responsáveis pelo julgamento da Ação 470.
Dentre os ministros, um deles trabalhou mais que os outros - O Ministro Joaquim Barbosa. Responsável pela relatoria do processo, debruçou-se sobre os fatos com responsabilidade, persistência e afinco. Não deu outra. Ganhou quase todos os votos dados por ele; os réus foram julgados e condenados e hoje deu-se por terminada a Ação.
Estou feliz e orgulhosa. O Brasil, finalmente, mostra que está chegando à maturidade. Virou gente grande e, a continuar assim, gente grande e de respeito.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Mais Uma Turma que se Vai

Amanhã terei o último contato com os alunos de 2012. Chego ao final dessa etapa com uma sensação estranha; não consigo avaliar a qualidade do trabalho desenvolvido por mim com a turma, no curso do ano letivo, que ora finda.
Desde fevereiro, logo nos primeiros contatos com os alunos, percebi que interagir com eles seria difícil. Um primeiro estranhamento deles para comigo referia-se à minha idade. Tenho 58 anos completos, posso ser avó de todos eles e logo no primeiro dia de aula a pergunta inevitável apareceu: "Fessôra, quantos anos cê tem? E quando disse a minha idade houve um suspiro geral: "Nóooh!
Como este ano não foi diferente do ano que passou, começo a desconfiar que estou sofrendo o preconceito que os idosos sentem, na pele, todos os dias... O de que ser velho é um defeito imperdoável para a nossa sociedade.
O pior é que eu não me sinto velha! Tenho energia para trabalhar, gosto de estar na sala de aula, interajo bem com os pré-adolescentes, minha turma preferida de trabalho. Sempre escolho trabalhar com os alunos de 11/12 anos...
Gosto desse momento de vida deles, que é o do corte do cordão umbilical familiar; vivem o momento da descoberta de que o mundo vai muito além do portão das suas casas; de que o universo é imenso e de que há controvérsias quanto a quem criou o mundo e quanto ao primeiro ser humano que apareceu no planeta.
É o momento mágico de vida para eles ao perceberem que há pessoas de fora do círculo familiar que pensam e dizem coisas diferentes de seus pais.
Gosto de participar desse momento deles de ganhar autonomia, de pensar por conta própria, de descobrir o grupo, de se fazer gente...
Mas percebo a cada ano e este não foi diferente, que os alunos que chegam estão muito dispersos, muito envolvidos consigo mesmos e têm pouco interesse pelas propostas de estudos que a escola lhes oferece. Sequer querem ouvir o que os professores pretendem fazer pedagogicamente falando.
Não ouvindo também não discutem o que lhes é apresentado como tema de estudo. Os mais comprometidos e conscientes do que estão fazendo ali naquela sala de aula, desenvolvem as atividades propostas, sem maiores questionamentos, meio que para "ficar livre daquilo" o mais rápido possível. É comum dizerem assim: "Cabei, fessôra. Que tem mais pra fazer?
Outra parte da turma, aquela que não ouve e não se envolve com nada, continua lá, na sua carteira, pensando se vai se dispor ou não a tirar da mochila o material necessário à aula. Enquanto isso, um outro grupo sequer ocupou o seu espaço na carteira, circula pela sala, fala alto, aborrece um colega aqui, outro ali, não se importa se está ou não atrapalhando àqueles que já estão focados em seus trabalhos de estudo; a professora chamar-lhe a atenção, ou não, não faz a menor diferença; não se importa com isso, quer mesmo é perturbar, atrapalhar, brincar. Nada lhe motiva. Em qualquer trabalho ou atividade seu comportamento é sempre o mesmo e recorrente.
Isso mexe comigo, sempre. Sinto-me frustrada e incompetente ao mesmo tempo. Busco novas estratégias, novas formas de apresentar os conteúdos de estudo; recursos motivadores, assuntos pertinentes a idade deles, Mas nada. Sou e fui vencida, sempre.
Percebi, neste ano, maior afinidade dos alunos com uma professora bem mais jovem que eu, que esteve por algum tempo trabalhando os conteúdos de Arte, e, tempo depois, Educação Física. Embora ela também tivesse dificuldade com a (in)disciplina e o desinteresse de alguns, por acaso, os mesmos que não me "dão bola"...
Então? "É a velhice chegando e eu chegando ao fim"?!

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Fiquei sem chão

De novo, mais uma vez e tudo se repete. Listagem do IDEB na mídia e todos ficam apavorados. Como vamos resolver o problema do fracasso dos alunos  das escolas públicas? Procurem os culpados. Quem são?! Perguntam todos. São os professores. Eles não sabem ensinar. Então vamos treiná-los para que aprendam a dar aulas. Aulas mais dinâmicas, mais divertidas, mais desafiadoras para os alunos...
E tome de gastar o dinheiro do FUNDEBE  no pagamento a algum professor do Mestrado, melhor se for do Doutorado para o treinamento, em serviço, dos ignorantes professores.
Dispensar os alunos para que os professores participem das aulas no seu próprio ambiente de trabalho, não pode. Afinal como ficaria o Calendário Letivo, não é mesmo? Além do mais. Com quem ficariam os alunos, já que seus pais saem de casa para o trabalho e só retornam a casa altas horas?
Pensa daqui, pensa dali e... Bingo! Oficinas Pedagógicas.
É as oficinas pedagógicas estão na moda; quem é do meio sabe do que estou falando.
Pois bem. Depois do recreio deixo minha turma com um oficineiro; meus alunos perguntam o que eu vou ficar fazendo enquanto eles participam da oficina e eu lhes respondo que vou aprender a dar aulas de Matemática para eles.
Entro na sala juntamente com minhas colegas de trabalho. A professora convidada está a postos, nos esperando e enquanto isso tenta conectar sua aparelhagem de projeção multimídia. Moderna, ela! Tem mais ou menos a média da idade de todas nós; entre 40 e 50 anos. É simpática; se apresenta, preocupa-se em nos dizer de que lugar ela está falando para nos convencer de que não é uma "estrangeira" entre nós.
Faz um pequeno histórico do ensino da Matemática no mundo; relembra o movimento mundial da Matemática Moderna; desqualifica sutilmente esse período do ensino da disciplina e de alguma forma sugere que o fracasso mundial dos alunos em Matemática em parte se deve àquele movimento, que tinha por finalidade última formar cientistas... Discordo dela, falo da minha experiência e formação nessa época; argumento que a teoria de conjuntos era introdutória e ajudava na concretização e posterior compreensão dos números, ( leitura, escrita, representação, cardinalidade, ordenação, seriação...), mas fui me calando, pois percebi que defendíamos ideias e que ambas tínhamos convicções das quais não abriríamos mão. Calei-me. Porém uma sensação de " já vi esse filme" me invadiu a alma.
De novo! Não! Como na Teoria Construtivista, como na defesa político/filosófica da Escola Plural, dentre tantas outras mudanças, os professores são o elo frágil e sempre perdem. Nós não somos autônomos porque fazemos parte de um Sistema e quando o Sistema quer "manda quem pode e obedece quem tem juízo".
Pena que ainda não existe cadeia para os teóricos de plantão, os pensadores fracassados em seus projetos de alavancar o ensino das escolas públicas brasileiras; caso contrário e não estaríamos nessa peleja até hoje. Penso que no dia em que a academia e afins forem responsabilizados por seus atos... O  ensino/aprendizagem dos alunos tomará outro rumo; o rumo do sucesso.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Ainda por aqui

Não tive coragem de dar um basta. Voltei atrás, cancelei meu pedido de licença sem vencimentos e continuo na ativa.


Mesmo desmotivada, continuo trabalhando; mesmo me sentindo sem valor profissional, continuo na ativa; mesmo sem entender qual é a prioridade educacional da RME/PBH, continuo na ativa; mesmo pedindo maior participação dos pais na vida escolar dos filhos e não obtendo nenhuma resposta por parte deles, continuo na ativa; mesmo fazendo uma aula dialogada com meus alunos e percebendo em boa parte deles nenhum interesse pelo conteúdo de ensino, continuo na ativa.
Continuo na ativa e inventando moda. 

Quero, juntamente com alguns alunos e com o apoio da direção da escola, reeditar um periódico, que já existe na escola desde o ano 2003 fruto do meu trabalho com a turma de então.


Este periódico tem por objetivo principal trabalhar, na prática, com os alunos, os gêneros textuais do domínio jornalístico.
Será, igualmente, a voz dos alunos do 6º ano; o meio pelo qual eles farão reflexões e as converterão em textos e imagens, sobre o dia a dia deles na escola.


A experiência de 2003 foi excelente! Espero a mesma excelência para a experiência de agora.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Quase

Quase saí da RME. Transtornada com a (in)disciplina dos meus atuais alunos, entrei em "parafuso". Passei a rejeitar meu trabalho ( até então motivo constante de prazer e de realização pessoal) a tal ponto que não conseguia mais sair de casa e chegar à escola com a mesma disposição que sempre tive.
Um aluno em especial levou-me à loucura. Perdi completamente o controle sobre ele; não sabia mais o que fazer, como agir, e como impedir que ele desestabilizasse de vez a mim e aos colegas de turma.
A solução apresentada pela coordenação pedagógica não me satisfazia; queriam, simplesmente, trocá-lo de turma e isso, para mim, seria assinar um atestado de incompetência da minha parte. Por outro lado, recursos como acionar a família e conversar com o aluno não surtiram nenhum efeito. Ele, cada vez mais, sentia-se fortalecido e ganhava adeptos na classe. Outros alunos passaram a imitar o comportamento irresponsável e irreverente dele.
Tive crises de herpes labial, de desânimo total, de falta de vontade de sair de casa para trabalhar...
No meio desse turbilhão de sentimentos ruins e negativos, dei entrada na gerência de recursos humanos da SMED, ao processo de "Licença sem Vencimentos" por um período de dois anos, renováveis por mais dois anos. Ficaria em casa, sem receber e tendo que pagar, eu mesma, a Previdência Social, para efeito de aposentadoria posterior. Nesse meio tempo, montaria uma franquia "kUMON", ou, uma "Sala de Estudos" de orientação ao "PARA CASA", à pesquisa escolar e/ou às defasagens de alunos do 1º ao 6º ano do ensino fundamental.
Tudo isso passou por minha cabeça enquanto vivia o problema da indisciplina do aluno.
O deferimento ou o indeferimento ao meu pedido de licença só se concretizaria num período de dois a três meses (julho/agosto) portanto. O que fazer?! "Chutar o pau da barraca"? Jogar fora dezessete anos de trabalho, um lugar de professora alcançado por mérito próprio, segundo lugar em um universo de mais de trinta mil candidatos? Trabalhar por conta própria, investir uma quantia razoável em um negócio arriscado que poderia ou não dar certo?!
Em meio a toda essa angústia, o aluno transferiu-se  da escola. O pai veio a BH para resolver outros problemas familiares e ao tomar conhecimento das atitudes do filho resolveu levá-lo consigo para São Paulo.
Aleluia! Cancelei meu pedido de licença...

sábado, 28 de abril de 2012

Economia Porca

Trabalhamos diariamente por três horas e meia na sala de aula e fazemos mais uma hora fora dela, porém no ambiente da escola. Essa uma hora é destinada a planejamento das aulas, correção de provas, trabalhos e exercícios dos alunos, organização do material didático a ser utilizado durante as aulas, atendimento personalizado aos alunos e aos seus pais, quando necessário.
Quem é do meio sabe que essa "uma hora diária de projeto" só funciona na teoria... Não que ela não seja necessária, ou, pior ainda, que ela não seja utilizada.
Ela é utilizada, é necessária e não é suficiente para o quanto precisa ser feito em função das necessidades dos alunos e do que caracteriza uma aula bem planejada.
Uma aula bem planejada demanda tempo, recursos, material de pesquisa, domínio do que se deseja, estrutura física, recursos de toda ordem, etc ...
Pois bem, nós, professores municipais de BH, depois de muita argumentação, conquistamos, novamente, o que a Lei já nos permitia: o tempo de projeto de uma hora por dia, fora da regência de sala, para o planejamento das próximas aulas.
Mas, tem sobrado para os professores referenciais da RME/BH, a correção das "Avaliações Sistêmicas", e até aí tudo bem, e a montagem da planilha com os dados estatísticos que irão alimentar os computadores da SMED.
Dito assim parece simples. Pode-se dizer: e daí, estão reclamando do quê?
Acontece que a avaliação sistêmica da PBH coincide com o período de avaliação trimestral da Rede. O mês de abril.
Então, descontando-se o período de elaboração, digitação, xerox e aplicação das provas trimestrais estamos envolvidas com essa questão "avaliação trimestral" desde o primeiro dia do mês de abril.
Na semana de 09 a 13 de abril, cada professora aplicou as ditas avaliações, na sua turma. O momento seguinte é o da correção, levantamento das notas alcançadas pelos alunos; levantamento do número de alunos que faltou no dia da prova; organização, com a Coordenação Pedagógica, de um local para que esses alunos (que são muitos) façam as suas avaliações; correção destas, levantamento das notas.
Etapa seguinte, lista dos alunos em "Recuperação".
Ficaram abaixo da média, têm o direito à "Recuperação Paralela" e, o processo em si da "Recuperação" dos alunos que ficaram abaixo do esperado.
Só então, parte-se para a etapa final do período avaliativo que é o lançamento dos dados dos alunos no sistema da INTRANET da PBH. Gera-se o boletim do aluno, marca-se a "Reunião de Pais e Professores' para a entrega dos resultados da primeira etapa de avaliações. Tudo isso, até o dia 11 de maio.
Tudo muito bem, tudo muito bom, se no meio desse caminho não estivessem as "Avaliações Sistêmicas" da PBH.
Elas nos chegaram às mãos para serem aplicadas nos dias 18,19 e 20 de abril. Avaliações diagnóstica?! em abril?! de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências da Natureza. São 24  questões de múltipla escolha, num total de mais ou menos 10 páginas para cada disciplina...
Tudo bem, aplicamos, corrigimos, registramos o total de acertos de cada aluno, nas três disciplinas de estudo. E mais, colorimos de azul, numa planilha oferecida pela PBH, cada questão acertada pelo aluno, uma por uma.
Fazendo-se as contas do trabalho físico que isso demanda chega-se ao seguinte cálculo: são 3 x 30 provas num total de 90 provas e 3 x 24 questões, 72 questões. Estas são corrigidas uma primeira vez; numa segunda vez são olhadas novamente para se passar o total de acertos para a planilha; olha-se novamente, questão por questão, de aluno por aluno, para se colorir os acertos de cada um...
Quando pensamos que o trabalho estava terminado, no apagar das luzes, antes do recesso e feriado de maio, recebemos a notícia de que, dessa vez, deveríamos marcar também, para cada aluno, nas respectivas planilhas, a letra correspondente à questão errada que cada aluno marcou...
Como assim?! Já estamos fazendo um trabalho( e, consequentemente, desviando-nos do nosso foco) que interessa diretamente às estatísticas municipais sobre o desempenho escolar dos alunos da Rede... Num tempo exíguo!
Fico pensando. Por que  a PBH não contratou uma equipe para fazer esse trabalho mais mecânico de organização das planílhas e lançamento dos dados nos computadores do sistema?!Por que utilizar uma mão de obra, a dos professores, tão especializada, para fazer um trabalho puramente mecânico, que qualquer um pode fazer? Por que utilizar, pergunto novamente, a mão de obra dos professores, que nessa altura do campeonato, deveriam estar voltados para o planejamento e a organização da segunda etapa de ensino? Pensar na dinâmica das escolas da Rede é o mínimo que se espera de gestores realmente preocupados com a qualidade do ensino municipal... 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Minha Tia e Professora

Fui alfabetizada por minha tia, irmã de meu pai, na década de 60. Era uma professora intuitiva: animada, criativa, segura do método de alfabetizar, alegre, responsável e feliz, muito feliz em sala de aula.
Lembro-me da Cartilha "Lili, Lalau e o Lobo". Lembro-me dos Contos Infantis: "O Patinho Feio", "Cinderela", "Soldadinhos de Chumbo" e tantos outros.
Tornei-me adulta e professora. Foi com minha tia, na escola onde ela trabalhava, que entrei pela primeira vez numa sala de aula, agora eu também, professora!
Trilhei outros caminhos na Educação; tornei-me Supervisora Pedagógica, Diretora e novamente Professora, meu cargo atual.
À época, foi com grande surpresa que recebi a notícia de que minha tia iria se aposentar. Tive pena dela e dos alunos... Como, tia! Você vai parar de trabalhar? Deixar de fazer algo de que você gosta tanto e faz tão bem... E ele calmamente respondeu-me:

_ Já não tenho mais tanta energia e não consigo mais interagir com meus alunos... Meu tempo passou.

Pois é! Meu tempo passou...
Essa foi mais uma das tantas lições que aprendi com ela, que soube parar no momento certo.
Eu também vou parar e vou parar antes que a minha energia e a minha saúde acabem de vez. Chegou a hora e o momento é agora. Deixo tudo: alegria, entusiasmo, vibração, realização pessoal e profissional, mas e sobretudo deixo a convicção de que um dia a educação brasileira terá a sua própria identidade e uma "cara" que reflita a alma dos brasileiros.  Ou será esse mais um um ledo engano?

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Ser professora

Ser professora nos dias atuais é estar sempre em crise de identidade. Que profissional sou eu? Tenho todas as competências para lidar com o aluno que me diz na "lata" que só vai à escola porque a família o obriga?
O professor tem que ser competente, dominar o conteúdo que vai lecionar, saber "ganhar" o aluno para a aula que será ministrada, mas como fazer isso? O que fazer com o aluno de 11/12 anos que olha pra você e lhe diz na cara que não vai fazer a atividade proposta; que não trouxe, pela enésima vez, o material de estudo; que não fez o "Para Casa" porque se esqueceu de fazer...
Como dar continuidade ao ensino de Matemática para o aluno do 6º ano que sequer domina os fatos fundamentais das quatro operações básicas. Como trabalhar os números racionais, as medidas, os gráficos e as tabelas, a geometria, o cálculo do perímetro e da área se o aluno não reconhece quantidades além das centenas? Como trabalhar a organização textual, a escrita coerente e coesa, com um padrão semântico e ortográfico razoável se o aluno, ainda na fase da silabação, jura de pés juntos pra você que já sabe ler e escrever e que não precisa estudar mais?
Como desenvolver os conceitos geográficos, históricos e científicos com o aluno que lhe faz se sentir transparente em sala de aula, que não lhe dá a chance de introduzir os assuntos a serem estudados? Como fazer uma aula dialogada com o aluno que não dá a mínima para o tema em discussão, qualquer que seja ele? E a leitura? Pesquisa recente confirma que o brasileiro de qualquer nível social lê pouco, quando muito, dois livros por ano... O que fazer? Ler para o aluno, ele não ouve. Ler com o aluno, ele lhe deixa lendo sozinha. Ler coletivamente, metade lê e a outra metade voa, não participa. Incentivá-los a ler individualmente é pregar no deserto... O que fazer? Como sair dessa inércia?

quarta-feira, 14 de março de 2012

Heterogeneidade

De repente virou moda a formação de turmas heterogêneas. Afirmam os que defendem essa ideia que numa turma heterogênea o aluno mais forte pode ajudar àquele mais fraco. Ledo engano. O mais fraco sabe que é mais fraco e o mais forte sabe que é mais forte. Um não tem paciência, nem solidariedade para compreender a situação do outro e ajudá-lo ou ser ajudado.
Na prática sobra para o professor descascar esse abacaxi. Volta-se aos primórdios da educação brasileira onde coexistiam numa mesma classe e sob o comando de uma única professora várias séries, ou vários grupos de alunos; tão diferenciados em seus níveis de conhecimento que à professora só restava agrupá-los, na classe, e planejar aulas diferentes para atender às necessidades dos diferentes grupos.
Hoje, vejo-me na mesma situação da professorinha dos anos 30, do século passado. No meu grupo atual de 29 alunos do 6º ano do ensino fundamental, um deles é analfabeto, metade da turma está semi alfabetizada e o restante distribui-se entre os níveis de aprendizagens que vão do 3º ao 6º ano. Somente dois ou três alunos estão prontos para para os estudos específicos do 6º ano de escolarização formal. Os recursos didáticos que tenho à minha disposição atendem somente aos alunos que estão prontos para cursar o 6º ano; no entanto, todos os dias em qualquer das aulas a serem dadas preciso voltar a conteúdos que já deveriam estar consolidados na bagagem de aprendizagens dos alunos. Consequência disso: a aula não rende, pois muito dos conteúdos sequer foram apresentados aos alunos nos seus anos anteriores de estudo.
É comum na turma o texto ilegível, a caligrafia misturada contendo letras maiúsculas no meio da palavra, por exemplo. Na Matemática, o não automatismo dos fatos fundamentais e dos conceitos básicos das quatro operações impedem qualquer avanço no ensino dessa matéria; leitura sem ritmo, entonação de voz ou domínio do vocabulário básico torna-se enfadonha e sem graça para os alunos. Sendo assim, como ensinar os conteúdos relativos à História, Geografia ou Ciências?    Meus alunos não dominam o mínimo da Língua Escrita. São falantes do Português Oral,  mas não são escritores e nem leitores em Língua Portuguesa...