sábado, 19 de abril de 2014

Turma homogênea X Turma heterogênea

Vamos combinar que não há turma essencialmente homogênea, portanto não vou defender algo que não existe na prática. O ser humano é uno, diferente por si mesmo e em qualquer grupo que  esteja a heterogeneidade estará lá, também.
O que me deixa deveras angustiada é a formação atual das turmas, principalmente das escolas públicas, que se apega a uma ideologia da convivência do mais fraco (defasagem de conteúdo/idade/ano de escolaridade) com o aluno adequado à sua idade/ano de escolaridade.
Tenho trabalhado há dezenove anos com turmas extremamente heterogêneas no domínio de conteúdo e isso se torna um transtorno no momento de organizar e planejar as aulas. Sei que vão dizer que professor bom é aquele que consegue trabalhar individualmente com o aluno, conforme sua necessidade, mesmo que ele faça parte de uma turma de trinta, por exemplo.
Isso é  bonito de se pensar, mas impossível de se realizar.
Na prática, o professor é responsável por trinta alunos de determinado ano do ensino fundamental e para esses alunos há uma gama de conteúdos com suas habilidades específicas e que se encaixam em determinado perfil de aluno esperado para aquele ano de ensino.
As turmas atuais apresentam em média as seguintes características: vinte por cento de alunos conforme a idade/ano de escolaridade; quarenta por cento dos alunos apresentam aptidão abaixo do esperado para a leitura/escrita e conceitos matemáticos básicos. Os vinte por cento restantes apresentam defasagens de aprendizagens que deveriam ter sido alcançadas nos dois primeiros anos de escolaridade: leitura, escrita (ortografia e caligrafia); produção de texto, seja de que gênero for e leitura e escrita de números até a quarta ordem, fatos fundamentais das quatro operações, resolução de problemas simples aplicando os conhecimentos citados.
O que fazer, no sexto ano, com o aluno de uma turma de trinta  que literalmente não lê, não escreve, não reconhece números, não faz cálculos, não domina fatos e apresenta uma caligrafia ilegível?
O mais triste disso tudo é que o aluno com tais características se sabe assim. Não "rola" colocá-lo ao lado de um colega mais pronto, mais maduro; os dois se prejudicam por motivos óbvios. O professor não consegue dar a esses alunos a tão propalada assistência individual. Há uma série de intercorrências durante o dia escolar e essa assistência não se torna eficiente.
Penso que um grupo de alunos que apresente mais ou menos as mesmas características de conteúdos consolidados, alcança um ritmo de aprendizagem mais consistente, se assim estiver formado. E não importa o nível dos alunos se de acordo com a idade/tempo de escolarização, ou não. O trabalho a ser desenvolvido tenderá a ser mais eficiente do que com os grupos de defasagens extremas entre seus membros.