sábado, 28 de fevereiro de 2009

Dar um Tempo

Hoje em dia ouvimos com naturalidade expressões como: "estou dando um tempo; vou dar um tempo; estamos dando um tempo", principalmente entre namorados, que de repente necessitam parar para refletir sobre o relacionamento e, mais pra frente, romper de vez ou então retomar, com mais força, quem sabe, com mais vigor, entusiasmo e paixão, aquilo que parecia morrer, acabar, esvair.
Sinto-me assim com minha profissão: quero continuar, mas não sei se devo. O entusiasmo e o gosto pelo ofício ainda estão presentes; vibro quando alcanço objetivos e metas estabelecidos, quando consigo organizar um projeto de trabalho que envolva não só minha turma, mas o turno, a escola e principalmente quando meu aluno percebe, feliz, que aprendeu algo de novo que o coloca em outro patamar do conhecimento.
Como nem tudo são flores e as decepções e frustrações em educação às vezes são maiores que os sucessos, até o momento estou no seguinte pé: já identifico algumas características dos meus novos alunos; fiz uma primeira reunião com os pais deles; estabelecemos metas de trabalho pedagógico para o ano em curso; combinamos nos ajudarmos mutuamente; estabelecemos regras de conduta em sala de aula; organizamos os horários das aulas; os livros didáticos que serão utilizados. Após os testes de conhecimentos em Língua Portuguesa e em Matemática, listei e organizei um gráfico das habilidades já consolidadas por cada aluno e aquelas que precisam ser retomadas não só com a turma, mas também individualmente com alguns alunos que apresentaram maiores defasagens de conhecimentos. Estou gostando deles, estou entusiasmada e louca para colocar em prática tudo o que foi planejado para esse ano e para essa turma.
Mas, tenho direito, devido ao meu tempo de serviço como professora (14 anos) a tirar "Férias-prêmio". Ficarei 180 dias afastada da escola e, logicamente, longe da turma. Tomei essa decisão porque ando pensando em pedir exoneração do cargo ao final desse período de férias. Porém, estou confusa. Não sei se quero mesmo abandonar a minha profissão. Então... Vou "dar um tempo", mas com pena de interromper o trabalho já iniciado com a turma de 2009.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Realidade Nua e Crua

Estamos há 14 anos do advento da "Escola Plural" e um dos seus pilares foi/é o trabalho por ciclo de idade de formação. Desde 1995, que todas as escolas da RME de BH deixaram de agrupar os alunos sob a lógica da seriação/repetência ao final de cada ano letivo.
Pois bem, desde essa época está em vigor, com uma ou outra alteração, a lógica do Ciclo de 3 anos de duração e de Formação (infância, pré-adolescência e adolescência) e, conforme esta organização os alunos deveriam ser agrupados seguindo-se os seguintes critérios: 1º Ciclo - alunos de 6/7 e 8/9 anos de idade - com uma retenção ao final do ciclo, para o aluno abaixo do nível mínimo de conhecimentos adquiridos durante os estudos do ciclo; 2º Ciclo - alunos de 9/10 e 11/12 anos de idade, com uma retenção ao final do ciclo para os alunos abaixo da média; 3º Ciclo - alunos de 12/13/14/15 anos de idade estando previsto, também neste ciclo, a possibilidade de retenção ao final do mesmo. Ou seja, caso o aluno seja retido por três vezes, ao final de cada ciclo cursado, ele encerrará o ensino fundamental, ou chegará ao final do 3º ciclo com 15 anos, correto? Não! Se ele ficar retido ao final de cada um dos 3 ciclos de formação, encerrá o ensino fundamental aos 17 anos.
Minha turma atual, composta por um total de 28 alunos está subdividida da seguinte forma: 2 alunos de 14 anos, 10 alunos de 13 anos, 11 alunos de 12 anos e 5 alunos de 11 anos. Trabalho com meninos e meninas no início da pré-adolescência e meninos e meninas já adolescentes.
Isso pode parecer de menor importância, mas no dia-a-dia do trabalho com eles, faz toda a diferença: no aspecto físico, na maturidade e no comportamento; há uma heterogeneidade tão acentuada entre eles, que torna o trabalho pedagógico pesado, tenso e de expectativa frustrante já no início do ano letivo. São questões pedagógicas, (defasagens de toda ordem) familiares,(desestrutura, rejeição, abandono) econômicas,(desemprego, baixa renda, só o "Bolsa Família" como recurso) culturais, (o mundo deles e seus valores são outros, não "batem" com os valores difundidos pela escola, por exemplo: justiça, responsabilidade, valor do estudo, honestidade, etc) . Também há problemas sérios na ordem da saúde orgânica (dor de dente, anemia, verminose, raquitismo, dentre outros) e de saúde emocional: dispersão, desinteresse, apatia, hiper-atividade, depressão, uso de drogas...
Trabalhar nessas condições é muito difícil; é quase um milagre percebermos que apesar de tudo há aprendizagem, há progresso pedagógico, há sucesso escolar, para muitos deles!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Novos Alunos

Hoje tive um primeiro contato com meus novos alunos. São ao todo 28, idades variando entre 11/14 anos; alguns muito pequenos e franzinos para a idade, outros fisicamente já pré-adolescentes e adolescentes. Encontrei-me com eles na quadra, pois sabia de antemão que seriam meus alunos. Ali mesmo fiz uma checagem alunos/lista que tinha em mãos. Subimos. A sala já estava organizada por mim, para que se sentassem em grupos de quatro. Apresentei-me a eles, e eles também se apresentaram a mim. Todos já se conhecem. Estão juntos, na mesma turma, desde o pré-escolar.
Conversamos sobre nossas (minhas e deles) expectativas para este ano letivo; mostrei-lhes os livros didáticos que usaremos e como serão os estudos da 5ª série ( 3º ano do 2º Ciclo, para eles ).
Realizamos um teste sondagem de "Língua Portuguesa" - habilidades já consolidadas, ou não, em fluência em leitura em voz alta. Realizamos também um "Ditado" de um pequeno trecho do texto lido em voz alta, para os primeiros levantamentos das questões ortográficas a serem trabalhadas. Nenhum aluno lembrou-se de perguntar ou comentar a respeito do "acordo ortográfico" dos países de Língua Portuguesa, em vigor desde 1º de janeiro...
Fizemos ainda um levantamento da percepção dos alunos quanto a presença da "Matemática" do cotidiano, estampada diariamente nos jornais, por exemplo. Trabalhamos com textos, ou partes de textos de matérias veiculadas no jornal "O TEMPO" do mês de janeiro. Pedi a eles que fizessem uma leitura do material recebido e que identificassem nele a presença da "Matemática"- medidas (tempo, valor monetário, perímetro, área ); números (quantidades várias ) ;números ( ordinais, cardinais, racionais ); espacialidade; tratamento das informações em tabelas e gráficos.
Eles gostaram da atividade, participaram, mas demonstraram dificuldade para relacionar a informação propriamente dita aos números e símbolos matemáticos presentes.
No último horário saíram felizes para a aula de Educação Física, que eles amam! Eu, encontrei-me com minhas novas colegas de grupo, para as primeiras considerações a respeito do trabalho a ser realizado por nós com nossas turmas. Estou animada.