sexta-feira, 24 de abril de 2009

Caiu a Ficha

Hoje pela manhã, estava eu à espera do 2º ônibus que me deixaria na escola, quando chamou-me a atenção uma enorme fila, de dobrar quarteirão, em frente a um órgão da PBH ,de atendimento ao público do bairro onde moro. Era a fila do "Minha Casa, Minha Vida"; programa habitacional do governo federal, destinado, dentre outros motivos menos nobres, ao atendimento à demanda pela casa própria da população carente, aquela que recebe até três salários mínimos.
Enquanto o ônibus não vinha, às 6h30min da manhã, pus-me a pensar:
-Quem são as pessoas da fila? Certamente as que recebem até 3 salários mínimos e que terão direito a uma casa lá "onde o Judas perdeu as Botas" e que pagarão uma prestação por dez anos, de R$50,00. Essa é a promessa do governo. Desse público alvo, pensei eu, faço parte...
Após 14 anos de efetivo trabalho em sala de aula, no ensino fundamental, (3º Ano do 2º Ciclo) dois cursos superiores, (Pedagogia e Letras) e uma especialização ( Leitura e Produção de Textos) recebo menos que três salários mínimos. Portanto, posso me inscrever no programa!
Provavelmente, alguém pode pensar assim: é, mas professor só trabalha meio horário, de 2ª a 6ª feira e com vários recessos durante o ano!
É verdade, mas para por aí.
Os pouquíssimos professores que trabalham em meio horário, e também todos aqueles que têm jornada dupla e/ou tripla , levam serviço para casa.
Sou exemplo disso. Passo praticamente todas as minhas tardes e finais de semanas, feriados e recessos corrigindo, planejando, organizando, registrando os trabalhos realizados ou a serem realizados por meus alunos; e, inclusa nesse pacote está a preocupação com o desempenho pedagógico e/ou com o comportamento social/emocional deste ou daquele aluno.
Um professor atualizado, dizem os sábios, deve ser leitor voraz, consumidor de teatro, cinema, exposições de arte, ativista político e social, competente ao ministrar suas aulas! Ah! Deve também cuidar para que as suas aulas sejam criativas, lúdicas, dinâmicas, interessantes, tecnológicas (onde já se viu um professor do século XXI ainda utilizar-se do cuspe-quadro-giz para dar aulas?!
Pois bem, eu estou me candidatando a uma casa de R$50,00 a prestação! Vou concorrer com a minha ajudante doméstica e eu só a tenho, porque conto com o salário do meu marido.
Que país é esse!? Ehein Cazuza? Que Deus o tenha.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Cotidiano

"Todo dia ela faz tudo sempre igual/ me sacode as seis horas da manhã"... já dizia, ou melhor, já cantava/canta Chico Buarque de Holanda. Pois é, escola também é assim: rotineira, previsível, cotidiana, igual há séculos!Ou seja,todos os dias acontecem fatos previsíveis: chegar ao trabalho, receber os alunos, ocupar o espaço sala de aula, seguir o horário das aulas, dar sequência ao ensino anterior... Mas a rotina, o previsível param por aí. Isto porque a escola é feita de uma "rotina dinâmica", se é que se pode dizer assim, forjada no resultado da relação entre pessoas . Os resultados pedagógicos de tudo o que foi planejado e definido em metas a serem alcançadas, dependem do subjetivo, do estado emocinal, motivacional e orgânico de cada um dos sujeitos envolvidos no processo.
Às vezes o professor está super-motivado a desenvolver determinado trabalho com os alunos e estes, por vários motivos, não se empolgam, não se mobilizam e/ou vice-versa.
Então, o jeito, no caso do professor, é valer-se do currículo, ou do livro didático, ou de algum outro recurso que a escola tenha. Nada disso, porém, é garantia de que o transcurso e o final daquele dia escolar será de satisfação, tanto de professores, quanto de alunos.Lidamos com o imponderável! É comum estarmos totalmente motivados e envolvidos com determinado projeto e por motivos não previstos ele, de repente, desanda, vai por água abaixo, deixando um gosto insuportável de frustração na alma de todos.
Assim somos nós, professores, alunos e todo o ambiente que permeia o ato de ensinar/aprender: voláteis, imprevisíveis, inconstantes, inseguros, incompletos...Humanos, enfim.