sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Projeto Aceleração de Estudos II

Ainda não consegui me encaixar no Projeto Aceleração de Estudos da PBH/FRM.
O que competia à Fundação Roberto Marinho, 1ª etapa, já foi realizado dentro do programado, mas a parte da Prefeitura de Belo Horizonte (SMED) ainda está capengando, principalmente na organização das turmas do projeto.
Os alunos estão sendo convocados, para que se organizem em turmas de no mínimo 20 e no máximo 35 alunos.
Até onde sei, 90 turmas já estão funcionando e fazendo a etapa chamada de "Integração", para, em fevereiro, iniciarem-se as teleaulas, ou seja, os estudos propriamente ditos.
Enquanto isso, alunos continuam sendo convocados... Soube de professores percorrendo, pessoalmente as comunidades, para listarem seus alunos!
Não consigo entender o por quê desses alunos não serem convocados diretamente pela Prefeitura,via Televisão, propaganda no rádio ou algo similar.Por que recorrer a carta e/ou lista feita de porta-em-porta, em pleno século XXI?!
Pudores ideológicos? Será?!
A Prefeitura Socialista tem vergonha de assumir abertamente a parceria que fez com a iniciativa privada, no campo da Educação? Será que é porque está associada a um Projeto que deu certo e que não surgiu da cabeça dos grandes pensadores progressistas de plantão no ensino público?
Será que é por isso que tudo vem sendo feito sem muita divulgação?!
Se for, pobres dos alunos, público-alvo da iniciativa. Talvez percam a oportunidade de resolver de vez  o problema que têm da não completude do ensino fundamental, o que lhes impede  prosseguir nos estudos, fazer um curso técnico-profissionalizante, ou mesmo o ensino médio e o superior. E tudo isso, por falta de informação e por pudores ideológicos fora de moda...

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Projeto Aceleração de Estudos

Conforme o prometido, fiquei de dar notícias a respeito do "Curso de Formação de Professores",  advindo da parceria PBH/Fundação Roberto Marinho, denominado "Projeto de Aceleração de Estudos".
Esse Projeto está direcionado a todas as pessoas que, por um motivo ou outro, ainda não concluíram seus estudos e, portanto, não possuem o certificado referente à conclusão do "Ensino Fundamental" e/ou "Ensino Médio". Participam do projeto todos os que atendem às condições descritas anteriormente, e que têm idade superior a 15 anos.
Interessei-me pelo Projeto, como professora da Rede Municipal que sou. Por isso, fiz minha inscrição.
Foi uma experiência espetacular!
A Equipe de professores/educadores da Fundação Roberto Marinho conseguiu, a meu ver, dar forma e tornar possíveis e factíveis as teorias educacionais em voga, bem como as propostas e concepções de ensino/aprendizagens, oriundas dos "Parâmetros Curriculares Nacionais".
Há uma metodologia de trabalho  bem delineada, centrada no aluno -  sujeito do seu processo de estudo - mediada pelo professor e equipe pedagógica da Fundação.
Os recursos pedagógicos vêm dos textos extraídos das diversas literaturas  disponíveis e perfeitamente adaptados à linguagem televisiva, dentre outros recursos conhecidos pelos professores.
Diariamente, a rotina de sala de aula se desenvolve a partir da "Roda de Conversas", com equipes de trabalhos (alunos do projeto) previamente definidas, nas suas funções específicas tais como: coordenação, socialização, síntese e avaliação das atividades de estudos realizadas e a se realizarem.
Após a apresentação, pelas equipes, da pauta de trabalho do dia, inicia-se a apresentação da "Teleaula".
O conteúdo do dia é apresentado em 15 minutos de vídeo, que todos assistem: alunos e professor. Acontece, então, uma atividade denominada "Alfabetização do olhar - Leitura da imagem.
A seguir, as atividades se desenvolvem com o suporte do livro didático do aluno e atividades afins.
Já estão previstas também as diversas modalidades e finalidades das avaliações dos trabalhos e do desempenho pedagógico dos alunos, bem como as atividades extra-curriculares incluindo-se, aí: excursões, seminários, cinema, vídeos, feiras culturais e exposição das inúmeras produções dos alunos.
O Projeto "Aceleração de Estudos", constitui-se de um  trabalho planejado, com tempo previsto para iniciar, se desenvolver e terminar. Há objetivos, metas, processos e produtos a serem alcançados!!!
Isso é tão óbvio, que quem não é do meio educacional, principalmente do ensino público, deve estar pensando: mas, qual é a novidade? Todo trabalho, principalmente aquele que se refere ao ensino/aprendizagem, já não é assim? Planejado? Organizado? Processual? Com resultados a serem cobrados/alcançados ao final?...
Infelizmente, não!
Há muito  tempo   estamos a  deriva, na  Rede Municipal de Ensino de BH. Precisamente, desde 1995, ano do advento da "Escola Plural".
Não por acaso temos uma clientela enorme, que deverá participar do projeto  "Aceleração de Estudos", ora em implantação na Rede.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Novos Ares

Fiz minha inscrição, na Rede Municipal de Ensino, para participar de um projeto de educação de adolescentes, (15 a 19 anos) que ainda não concluíram o ensino fundamental. É uma parceria da Prefeitura de Belo Horizonte com a Fundação Roberto Marinho.
Por enquanto, essas são as únicas informações, de que disponho, a respeito .
Devo passar por um  treinamento sobre as metas, o funcionamento e os objetivos dos trabalhos, na semana que vem,  do dia três ao dia seis de novembro, no período de 13h às 22h.
Estou curiosa para saber  como serão esses trabalhos e  como serão conduzidos;  animada também com a nova perspectiva de atuação profissional. Acho que é a primeira vez, nestes 34 anos de Rede Municipal, que presencio a iniciativa privada atuando com o poder público em prol da educação. Novos ares, que sejam bons ventos e que deem bons frutos. Estou animada.
Mudando de "alhos pra bugalhos", li no jornal "OTEMPO" do dia 28/10/09, uma notinha com o seguinte conteúdo:
"Educação
Livros no lixo
A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo determinou o afastamento de diretora e da vice-diretora da escola Eugênia Vilhena de Morais, em Ribeirão Preto. Ao lado da escola foram encontrados cerca de 1.500 livros didáticos, alguns embalados, em caçamba de lixo".
Ih!!! Se a moda pega... Se o Congresso resolvesse levar em frente a CPI do livro didático... E as Universidade Brasileiras, principalmente as públicas, o que teriam de responsabilidade a respeito do uso dos livros didáticos, pelos professores, nas escolas? E a equipe de "doutos" que seleciona e classifica os livros, que só então são "escolhidos" pelos professores, o que teria a dizer? Por que os livros "cinco estrelas" estão sempre além da capacidade do público-alvo ao qual se destinam? Por que os professores, sempre que podem, escolhem os chamados livros "sem estrelas", da lista?
Estas e outras questões dariam uma bela investigação e abririam a "caixa preta" dos livros didáticos brasileiros.
Fica a sugestão de quem já fez muito "bazar da pechincha" na escola, para garantir aos alunos, pelo menos os livros didáticos de Português e de Matemática; num tempo em que os professores escolhiam diretamente das editoras, os livros mais adequados ao nível de conhecimento de seus alunos.
Darei notícias do treinamento da RME, do qual participarei.
Até mais...
Ângela Matos.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

12 de outubro

Doze de outubro, dia das crianças! É também conhecido entre nós professores como sendo "'O Dia do Saco Cheio". Alunos de "saco cheio" dos professores e da escola, e vice-versa.
Poderia ser o "Dia do congraçamento"; o "Dia de Passar a Relação Professor/Aluno a Limpo", ou simplesmente o "Dia de Ser Criança"; o "Dia de Brincar", que é a coisa que criança mais gosta de fazer e sabe fazer bem feito.Se nenhum adulto atrapalhar, ela brinca até sozinha...
Mas o "Dia das Crianças"  e  três dias depois,  o "Dia dos Professores", transformaram-se, sintomaticamente, na "Semana das Escolas Vazias".
Vazias de alunos, vazias de professores; e ambos torcendo, e como, para que a semana, não só chegue depressa, mas que, de preferência, dure para sempre!
Que pena!
 Há algo de muito errado no reino da Educação...
Quem se habilita a descobrir o que é?
 Isso daria uma bela pesquisa de campo, não?!

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Matriz Curricular da Língua Portuguesa

Andei lendo nesses dias de "Férias-prêmio", um material disponível no portal do MEC, sobre as avaliações que vêm sendo feitas pelo governo, do desempenho escolar dos alunos das escolas públicas e privadas, do nosso país.
Segundo  considerações dos mentores do SAEB ,(Sistema de Avaliação do Ensino Brasileiro) as avaliações do desempenho escolar do alunado brasileiro, concebidas e levadas a efeito periodicamente nos últimos anos, têm por base uma "Matriz Curricular" que leva em conta duas dimensões: o objeto do conhecimento (Língua Portuguesa e as Linguagens Matemáticas) e as competências referentes a ambas.
Quanto à Língua Portuguesa, destaco as competências e as habilidades  avaliadas no 5º ano de escolaridade do ensino fundamental e no 3º ano do ensino médio.
Os quesitos da avaliação em Língua Portuguesa distribuem-se em seis tópicos e  em cada um deles, seguindo uma ordem crescente de aprofundamento, as habilidades concernentes.
Assim, tem-se:
Tópico I - Procedimentos de Leitura
1- Localizar informações explícitas em um texto dado.
2- Inferir o sentido de palavras ou expressões nos textos lidos.
3- Inferir a informação implícita em texto lido.
4- Identificar o tema de um texto lido.
5- Distinguir fatos de opiniões relativas aos textos lidos.
Tópico II- Implicações do Suporte, Gêneros e/ou Enunciados na Compreensão de Textos
1- Interpretar textos com o auxílio de material gráfico diverso (propaganda, quadrinhos, fotos,etc).
2- Identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros.
Tópico III - Relação entre textos
1- Reconhecer as diferentes formas de tratar uma informação.
2- Comparar textos do mesmo tema.
3- Perceber como o texto foi produzido; as circunstâncias dessa produção e como será recebido.
4- Reconhecer posições distintas sobre um mesmo fato.
Tópico IV - Coerência e Coesão no Processamento do Texto
1- Estabelecer relações entre partes do texto; identificar repetições e substituições que permitem a    
    continuidade do texto.
2- Identificar o conflito gerador do enredo e os elementos que constroem a narrativa.
3- Estabelecer a relação causa/consequência entre  partes e  elemento do texto.
4- Estabelecer relações lógico-discursivas presentes no texto, marcadas por conjunções, advérbios, etc.
5- Identificar a tese de um texto.
6- Estabelecer relação entre a tese e os argumentos oferecidos para sustentá-la.
7- Diferenciar as partes principais e as secundárias de um texto.
Tópico V- Relações entre Recursos Expressivos e Efeitos de Sentido
1- Identificar efeitos de ironia e humor em textos variados.
2- Identificar efeitos de sentido decorrentes da escolha de uma determinada palavra ou expressão.
3- Reconhecer o efeito de sentido decorrente da exploração de recursos ortográficos e/ou morfossintáticos.
Tópico VI- Variação Linguística
1- Identificar as marcas linguísticas que evidenciam o locutor e o interlocutor de um texto.
Há ainda no material pesquisado comentários pertinentes a cada descritor e/ou conteúdos/habilidades necessárias a qualquer leitor/escritor proficiente da Língua, no caso, a Língua Portuguesa.
Porém, enquanto lia e concordava com o que lia pensava na dificuldade que é para um professor colocar em prática tudo o que a teoria  recomenda, mesmo que pertinente.
A meu ver, o maior problema do ensino/aprendizagem atual é a falta de interesse do aluno pelo estudo em si.
Estudar um texto, desconstruindo-o para entender por completo como se deu a sua construção e toda a sua estrutura, requer do aluno não só a vontade de estudar, mas esforço, concentração, foco, persistência, domínio do corpo e trabalho físico e mental.
Esses elementos geralmente são encontrados nos alunos com certa estrutura emocional e social, bem como naqueles que trazem o "bichinho" do gosto pelo estudo na genética.
Oportunamente, faremos comentários a respeito da "Matriz Curricular de Matemática".

domingo, 27 de setembro de 2009

Vale a Leitura Atenta

Há muito que me preocupo com a nossa falta de identidade educacional. Desde o Brasil Colônia que o  nosso modelo educacional não nos pertence; seguimos sempre os ideais e os métodos educacionais dos outros e, pior ainda, com no mínimo 50 anos de atraso.
Jesuítas portugueses, americanos em diversos momentos históricos, franceses, espanhóis e até argentinos (vide Emília Ferreiro) foram e ainda são nossos mentores educacionais. Jamais fomos capazes de organizar o "Sistema Educacional Brasileiro" conforme nossa cultura e nossas necessidades sociais. E aí deu no que deu! Em matéria de Educação Escolar Formal (pública ou privada) estamos nos últimos lugares do ranking. Perdemos pra todo o mundo!
Digo tudo isso para recomendar a leitura de uma reportagem da "Veja" dessa semana (30/09/09) que se intitula "Um triste cenário do ensino no Brasil", página 132.
O texto da reportagem faz comentários a respeito do trabalho de pesquisa do professor doutor em economia pela Universidade de Chicago, o Sr. Martin Carnoy, de 71 anos.
Segundo a revista , o professor da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, veio ao Brasil em 2008 para coordenar um estudo cujo objetivo maior era o de entender, sob o ponto de vista da sala de aula, algumas das razões do mau ensino brasileiro. Dentre as várias constatações, óbvias para mim há muitos anos, feitas pelos pesquisadores, a respeito da realidade das salas de aula brasileiras, quero destacar:
  • as escolas brasileiras, públicas e particulares, não oferecem grandes desafios intelectuais aos estudantes;
  • há predominância do improviso, por parte dos professores e minutos preciosos de aula se esvaem com a indisciplina e a quantidade absurda de trabalho em grupo sem nenhum objetivo de aprendizagem controlável  tanto pelos mestres quanto pelos alunos;
  • falta ao Brasil entender o básico: os professores devem ser bem treinados para ensinar;
  • o construtivismo, que é hoje aplicado em escolas brasileiras, está tão distante do conceito original de Jean Piaget, que não dá para dizer se se está diante dessa teoria;
  • falta um olhar mais científico e apurado sobre o que diz respeito à sala de aula;
  • há um excesso de ideologia nas salas de aula e há falta de bons professores;
  • a chave para o bom ensino é atrair para a carreira de professor aqueles que foram os melhores estudantes, cérebros brilhantes, ensino brilhante mediante salário motivador;
  • os professores brasileiros precisam ser inspecionados e prestar contas do seu trabalho, visto que atualmente, cada um faz o que quer e ensina "aquilo que lhe dá na telha".
Termina a reportagem com a afirmação de que os brasileiros começam a colocar a educação como uma de suas prioridades.
Isso é bom desde que as políticas educacionais levem em conta o nivelamento do aprendizado dos alunos brasileiros aos  melhores no ranking das avaliações internas e externas e não aos piores resultados, como acontece ainda hoje.

Leiam o texto na sua íntegra, vale a pena!

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Produção de Material Didático

Sigo nas minhas "Férias-prêmio" e na produção de material didático. Tenho me sentido bem e satisfeita com o material já produzido. Tudo me interessa e trabalho como se estivesse diante de uma turma. Prevejo a reação dos alunos, imagino suas possíveis dificuldades e desafios a cada um dos trabalhos pensados para serem postos em prática com eles o ano que vem.
Fico pensando ainda de como é importante ter tempo para a construção e a elaboração de aulas, atividades e trabalhos concernentes. É tão óbvio isso! Por que, então, continua sendo privilégio somente dos professores titulares das universidades públicas e de algumas escolas do sistema privado de ensino?
Vá saber! Coisas do Brasil...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Memória de infância

Sou do tempo em que o governo já mandava livro didático para as escolas públicas. Estudei até a antiga 4ª série primária em um grupo escolar (era assim que se chamava) público e lá aprendi as primeiras letras. Lí a Cartilha de "Lili, Lalau e o Lobo" na primeira série. Lembro-me das histórias lidas em voz alta por minha professora da 2ª série e, dentre elas, uma que nunca mais esqueci foi a história do "Patinho Feio". Ficava muito brava com meus colegas que preferiam conversar a ouvir as histórias lidas ou contadas pelas professoras.
Quando cursava a quarta série primária entrei em contato com um poema que me invadiu a alma desde a primeira vez que o li. Fiz dele, quase que inconscientemente, um lema de vida. Pelas séries de estudo seguintes, num livro ou outro de Português, aparecia o poema entre tantos e novamente eu me encantava com ele como  da primeira vez . O título era sempre o mesmo (como não poderia deixar de ser) "Ode" de Ricardo Reis e... a seguir... os seguintes versos:
"PARA SER GRANDE, sê inteiro: nada
           Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
           No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
           Brilha, porque alta vive".
Apesar do arrebatamento que o poema sempre me causou , nunca procurei saber a respeito do seu autor: Ricardo Reis. Só muito mais tarde, já cursando Letras, entrei em contato com a obra do grande "Fernando Pessoa" e tomei conhecimento dos seus heterônimos e de que Ricardo Reis era um deles.
Desde então fiquei mais orgulhosa ainda da minha sensibilidade de menina...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Acerte na escolha

 "Quem avança confiante na direção de seus sonhos e se empenha em viver a vida que imaginou para si, encontra um sucesso inesperado em seu dia-a-dia".

Henry D. Thoreau

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Estou aqui

Não sumi, não! Estou aqui de "Férias-prêmio". De "bobêra", também. Não vou viajar... Tenho lido jornais, revistas, ouvido os noticiários do rádio, ouço basicamente a rádio CBN, tenho visto TV, feito musculação e estou produzindo material didático para quando eu voltar à lida, se voltar.
Beijos.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Prazer e Frustração

É muito bom perceber o desenvolvimento social, emocional e intelectual dos alunos; talvez sejam esses os motivos que nos mantêm lecionando em situações adversas, por vezes penosas e extenuantes da sala-de-aula.
Conforme relato no post anterior, o último dia de aula do semestre letivo com meus alunos foi reservado para as comemorações dos aniversários de todos da turma, nascidos entre janeiro e julho, de seus respectivos anos.
Na semana que antecedeu o dia 15 de julho, organizamos a festa e distribuímos tarefas para cada um da turma. Todos (inclusive eu) se responsabilisaram por algo relativo a festa: enfeites, refrigerantes, copos, garfos, pratos e guardanapos, toalhas de mesa e velinhas, convites às outras professoras da turma e à direção/coordenação pedagógica da escola, som e CDs, bolos e salgadinhos; cartões com mensagens aos aniversariantes.
Tudo foi feito a tempo e a hora, sem nenhum furo, sem brigas, sem censura a esse ou aquele, sem correria, sem bagunça e com muita, muita alegria... São pré-adolescentes e adolescentes, é bom lembrar, portanto uma festa que durante mais de duas horas transcorre nessa paz toda é digna de admiração! Fiquei orgulhosa deles e de mim mesma.
Porém, tudo que é bom dura pouco e a vida tem lá seus percalços ou momentos ruins que precisam ser vivenciados tanto quanto os bons. Chegou o momento das despedidas e eu não quis que eles descobrissem, somente no dia 03 de agosto, que não voltaria para trabalhar com eles o restante do período letivo; como já disse em outro momento, vou entrar de "Férias-prêmio" de agosto a dezembro do ano em curso.
Preferi eu mesma dar essa notícia aos meus alunos para evitar mal-entendidos do tipo: "tá vendo, vocês fazem tanta bagunça que a professora não aguentou e nem voltou para dar aula pra vocês; tirou licença de tão cansada que tava, coitada! E outras "coisitas mas" muito comuns nas escolas, quando alguma explicação para determinado fato precisa ser dada, mas usa-se do expediente de culpar o aluno pela indisciplina reinante e vitimisar a professora de "plantão".
Fiz uma carta aberta a turma dizendo-lhes que não voltaria no segundo semestre, que entraria de "Férias-prêmio" e que esse é um benefício legal, concedido aos professores com mais de dez anos de efetivo exercício em sala-de-aula. Pedi-lhes que colaborassem com a professora que ficará no meu lugar, que continuassem responsáveis e estudiosos; que sentirei saudade deles e que contassem comigo, que mantivessem contato... (Deixei meu endereço eletrônico no quadro-giz).
A surpresa foi geral. No semblante de cada um pude perceber: surpresa, surpresa e tristeza, surpresa, tristeza e frustração e até indiferença. Também fiquei triste e estou frustrada por não continuar o trabalho que comecei. Mas, não tive saída.
Como pretendo encerrar a minha carreira de professora, não quero deixar para trás um benefício a que tenho direito. Caso eu não retorne ao trabalho em 2010, já terei gozado desse benefício e estarei livre para pedir exoneração ou tentar uma outra saída que espero surja nesse tempo de afastamento da sala-de-aula.
Vou estudar, nesse período, a possibilidade de fazer convergir meus conhecimentos em educação, adquiridos ao longo do meu fazer pedagógico, em algo que possa ser útil a mim e aos estudante/familiares, que necessitem de um suporte pedagógico fora do ambiente, escola formal.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Indo Embora

Estou indo embora. Amanhã será o último dia de aula da turma e o último contato meu com ela. Entro em recesso escolar e a partir do dia 03 de agosto, de Férias-prêmio. Originalmente essa modalidade de lincença remunerada é concedida ao professor municipal (não sei se o estadual e o federal, também) com mais de dez anos de efetivo exercício do magistério, para fins de estudo e/ou atualização.
Ainda não tenho definido o que fazer nestes seis meses que virão. Talvez estudar, talvez investir na produção de material didático, talvez passear, viajar, descansar e até mesmo pensar na possibilidade de deixar de vez o magistério...
Meus alunos ainda não sabem desses meus planos. Confesso sentir um certo constrangimento de interromper o meu trabalho na metade do ano letivo; porém sinto que devo fazê-lo agora. Não só porque me é permitido fazê-lo, mas também porque estou em dúvida se continuo ou não trabalhando como professora do ensino fundamental.
Amanhã, último dia letivo do 1º semestre, faremos uma festa para comemorar os aniversários dos alunos que nasceram entre janeiro e julho. Espero, então, contar a eles sobre minha decisão de não retornar para os trabalhos do 2º semestre letivo de 2009.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Alunos em fúria

Meus alunos ficaram enfurecidos, e com razão, por causa da mudança do horário da aula de Educação Física sem um aviso prévio. Eles amam essa aula e não abrem mão dela, nem por decreto.
A escola sabe disso e mesmo assim faz de conta que não sabe.
Então... São 9h20min, término do 2º recreio; conforme o combinado e já assimilado pela turma, toda segunda feira, após o recreio, todos permanecem no pátio e tem-se o início da tão esperada aula de Educação Física.
Eles nem esperam a professora chegar... Meninos jogam futebol e meninas jogam queimada. Times definidos de ambos os sexos e começam a jogar, pois não admitem perder um minuto sequer dessa aula.
Vai daí que, sem mais e sem menos, chega uma professora que não é a deles e lhes informa que aquele não era mais o horário da Educação Física da turma. Ah! Pra que... Não deixaram por menos. Cobraram e cobraram mesmo. Pediram explicações, permaneceram na quadra e, não convencidos de que a escola estava certa, mandaram palavrões pra todos os lados!
Tive que intervir e prometer que buscaria explicações mais convincentes da direção da escola para tal atitude. Também fiquei indignada e demonstrei para a direção minha insatisfação. Só assim consegui acalmar os ânimos e continuar um trabalho de literatura já em andamento. Lemos, coletivamente, um texto ótimo intitulado "Minhas Férias, parágrafo, vírgula e ponto final".

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Economia de "palitos de fósforos"

Diz o dito popular : a "economia é a base da porcaria". Em tempos de escândalos e mais escândalos no Senado Federal por causa do mal uso do dinheiro público , saber da relação Senadores/funcionários da Câmara Alta do país 81 para 8.000... Uhum! Chega a doer só de pensar na economia que o poder público municipal anda fazendo na Educação atual.
Houve um tempo em BH que o cálculo do número de funcionários por escola (professores, coordenadores e auxiliares de serviço, por exemplo) era feito em função do número de turmas por turno.
Assim, se a escola tivesse até 16 turmas por turno teria o direito a ter em seu quadro de funcionários: um regente de classe para cada turma, dois professores para as aulas de Educação Física, dois professores para as aulas de Artes, um professor para aula de Literatura, dois professores, chamados eventuais, específicos para assumir as turmas dos professores faltosos do dia, um professor para ministrar as aulas de "Reforço Escolar" no contra turno, sendo possível mais de um, conforme a necessidade de cada escola, um orientador educacional, um supervisor pedagógico, o diretor e o vice, os funcionários da limpeza e da merenda escolar conforme o número de turmas da escola.
Cada escola contava ainda com outros serviços de apoio aos alunos tais como: gabinete dentário montado na escola para atender às necessidades primeiras dos alunos, bem como fazer o trabalho profilático em favor da saúde bucal deles; médico pediatra que fazia uma avaliação anual da saúde da meninada e encaminhava os casos mais graves para os tratamentos necessários, na rede hospitalar do município; serviço de acompanhamento psicológico, social e pedagógico aos professores, alunos e seus familiares. Esses profissionais se distribuíam em grupos e atendiam quinzenalmente às escolas municipais. Todos pertenciam ao quadro da educação municipal uns trabalhando diretamente em cada unidade escolar da Rede e outros atendendo a um grupo determinado de escolas, por região.
Mudanças ideológicas e partidárias na administração municipal determinaram a perda desses profissionais e da organização do quadro de funcionários por escola.
Em nome de "mais verbas para a educação, política sindical inclusive", tudo se perdeu... Da organização curricular à organização e autonomia das escolas para construir os seus "Projetos Políticos Pedagógicos".
Ah! Que saudade da Professora e Ex-secretária Municipal de Educação, Maria Lisboa.
Éramos felizes e não sabíamos.

domingo, 14 de junho de 2009

Conhecer o Brasil Via MPB

É sabido que música, ritmo, dança,movimento, conhecimento, novidade, prazer e pré-adolescência têm tudo a ver.
A meninada atual motiva-se facilmente por tudo o que vem configurado pela imagem, pelo som e pelo ritmo.
Pensando nisso, propus aos meus alunos estudarmos o Brasil, suas regiões e tudo o que os caracterizam, via MPB (Música popular brasileira).
A ideia é fazer o levantamento de letras musicadas que têm por temática o Brasil: seu povo, seus costumes, sua cultura, sua religiosidade, seus sofrimentos e seus sucessos, seus fracassos e suas glórias, ideologias e movimentos políticos; enfim, sentimentos do povo referenciados pelos autores das respectivas músicas/letras.
Estudar essas letras em sala e ao mesmo tempo cantar e dançar, conforme o ritmo de cada uma. Todos os ritmos e todas as letras são válidos; músicas do passado e músicas do presente; músicas de raiz e músicas representativas de cada tribo; não importa; o que conta mesmo é a temática: Brasil.
Portanto, os objetivos do trabalho são:
-caracterizar a vida político-social do país, via MPB;
-estudar a estrutura formal, rítmica e temática das letras musicadas disponíveis;
-aprender a cantar e a dançar as/os letras/ritmos estudados;
-apresentar em um festival de canto e de dança o resultado do estudo feito em sala de aula.
Estou ansiosa para dar início a esse trabalho. Penso que os alunos se envolverão muito com ele.
O futuro dirá!

terça-feira, 9 de junho de 2009

O Inesperado da Sala de Aula

Estava eu fazendo uma aula expositiva e ao mesmo tempo lendo com os alunos o texto do Livro Didático de Ciência. Trabalhávamos a unidade sobre "Rochas e Solo". Líamos e conversávamos sobre um texto que dissertava a respeito da constituição da Terra, suas camadas _ crosta, manto e núcleo... Elementos constitutivos e caracterizadores de cada uma dessas camadas, etc, etc, etc...
A turma, para meu prazer, estava atenta e interessada no assunto.
De repente, um aluno pediu educadamente (fato inusitado) a palavra e perguntou:
_Professora, por que é que o seu pescoço, numa parte dele é vermelho e na outra, bem debaixo do queixo é branco?
Respondi ( na mesma toada da aula) que aquilo era resultado de mancha de sol e... Continuamos a falar sobre "Rochas e Solo".

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Pode?!

Estamos na metade do ano letivo. Em julho, dia 16, encerraremos as atividades escolares do 1º semestre e teremos um recesso escolar no restante do mês. No dia 03 de agosto iniciaremos o 2º semestre letivo , que terá o seu término no dia 16 de dezembro do ano em curso.
Até o momento, nós professores da RME/BH não recebemos nenhuma atenção especial por parte de quem quer que seja da cúpula da administração municipal: nem do Prefeito, nem da Secretária de Educação, nem dos administradores regionais, nem dos acompanhantes pedagógicos das escolas. Nova administração, novo Prefeito, novas(?!) políticas educacionais e nós professores continuamos transparentes, invisíveis, inodoros e incolores para os administradores municipais, estaduais e federais.
Ninguém nos ouve, ninguém se interessa sobre como, quando e em quais circunstâncias desempenhamos o nosso trabalho ...
As mudanças administrativas, organizativas e/ou pedagógicas desabam sobre nós e o único direito que temos é o de desenvolvê-las sem questionar, mesmo que absurdas, insustentáveis e
inócuas, isso só para dizer o mínimo.
Senão, vejamos. Trabalho durante 4h30min, no turno da manhã, com uma turma do 3º Ano do 2º CiclO (antiga 5ª série). Sou habilitada em Letras e em Pedagogia, mas sou responsável por lecionar além de Língua Portuguesa (concernente à minha formação profissional) também os conteúdos de Matemática, Geografia, História e Ciência. Os alunos, além dessas, assistem com outras professoras as aulas de: Educação Física, Artes (Informática) e Literatura Infantil.
Até o ano passado a escola dispunha no seu quadro de professores, de dois profissionais para as eventuais (cotidianas) substituições daqueles faltosos. Isso garantia ao professor referencial e frequente (o meu caso) o chamado "Horário de Projeto". Ou seja, todos os dias, enquanto minha turma assistia aula com outra professora (Artes, Ed. Física, Literatura e Informática, uma hora por dia) eu poderia organizar, planejar e avaliar o trabalho a ser realizado com a turma.
Hoje, nova administração, isso não é mais possível. Transformaram-nos em professores eventuais (diários) também. Trabalho com os alunos as matérias da minha responsabilidade já citadas e quando (todos os dias) falta algum professor do turno, devo substituí-lo. Explicando melhor, se é o dia da turma ter aula de Educação Física e o professor dessa disciplina falta ou está substituindo a um outro que tenha faltado, minha turma não terá a aula de Educação Física, a menos que eu (professora não habilitada em Educação Física) me disponha a ministrar essa aula para eles. Claro está que quando a aula acontece nestas circunstâncias, ela se dá na base do improviso, sem planejamento, sem organização, sem nenhum outro objetivo a não ser "tapar buraco"! Pode?!
Outro absurdo, "café requentado de administrações anteriores à mal fadada "Escola Plural", é o retorno da aula de "Reforço Escolar". Não que isso seja desnecessário. Claro que é preciso o reforço escolar . Os alunos do final do 2º Ciclo apresentam enormes defasagens em Leitura/Escrita/Matemática, para ficar só nestas disciplinas e, portanto, precisam saná-las de alguma forma. Mas, _ pergunto eu_ concomitante ao horário normal do turno?! Claro que não! _ eu mesma respondo _ Esse trabalho só é concebível se realizado no contra-turno de estudo do aluno.
Todos entendem assim: professores, pais e alunos. Menos a direção da escola, a administração pedagógica municipal, a Secretaria Municipal de Educação, o Prefeito da Capital...
Pode?! Até quando?!...
Em tempo! A revista "Veja" de 10 de junho ,de 2009, apresenta em suas "Páginas Amarelas", uma excelente entrevista com o "Prêmio Nobel de Economia em 2.000", James Heckman. "O bom de educar desde cedo", tema da entrevista. Senti-me contemplada nos meus anseios e angústias quanto aos rumos da educação escolar no Brasil. Recomendo a leitura.
Vale a pena, também, a leitura, na mesma revista, do artigo do economista Cláudio de Moura Castro, quando discorre lindamente e com toda razão sobre "Educar é Contar Histórias".
Fico sempre encantada quando leio ou ouço alguém "de peso"(no caso os dois economistas citados) verbalizando exatamente o que sinto ou penso sobre "Educação Escolar". É um alivio, do tipo: ah, não estou só!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

O5 DE JUNHO, DIA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

Em 2002, o "Globo Rural", programa exibido aos domingos, 8h, pela TV Globo/Minas, apresentou um episódio especial sobre o "Rio São Francisco" e suas penúrias de degradação, mal uso, poluição e destruição geral.
O repórter e apresentador do programa, Nelson Araújo, fez o texto que apresentava as respectivas imagens do rio, na forma de poema. Achei tão interessante essa forma de mostrar o "São Francisco" no seu total abandono, que gravei o programa para trabalhar em sala-de-aula com meus alunos e fiz uma adptação do texto que ouvi. Segue abaixo o texto adaptado por mim, direto do programa assistido e citado acima.

PRECE DO RIO SÃO FRANCISCO
De Nelson Araújo

Adaptação: Ângela Matos

Sergipe, Alagoas, chego ao mar.
Pernambuco, Bahia, Minas, existo.
Em quatro de dezembro, de mil quinhentos e um
sou batizado "São Francisco"
pelos portugueses aqui chegados.
Os índios já me chamavam Opara, rio-mar...

Fiozinho de água, na Serra da Canastra nasci.
Regato de água cristalina,
quedas d'água...
Casca D'anta cachoeira maior,
pouso de um véu, rio murmurante,
largueza silenciosa...

Maior rio brasileiro.
O rio da unidade nacional.
O dobro do Rio Reno,
igual ao Danúbio e a mesma bacia do Colorado,
equivalente à área da França e de Portugal,
vazão maior que a do Nilo!

Pessoas se estabelecendo nas margens,
o povo do São Francisco...
Pastos, gado, peixes, alimentos.
O panorama de Sertão mudou:
de cinza ficou verde.
O semi-árido deu frutas!

Represadas águas, energia elétrica...
Lamento os maltratos!
Alteração dos hábitos naturais,
artérias entupidas ou dilatadas,
abastecimento minguado.

Mesmo assim na natureza dou show!
Quênios, vales, precipitações de cachoeiras,
pedraria, verde, cerrado, bichos, gente, verde,
mistério, lendas, carrancas, amores, músicas,
catedral na gruta, oração.

Chão rachado,
drenos, desmatamentos, leito seco...
Morte dos afluentes.

Movimento dos "sem água".
Presságio ruim.
Arrepios só de pensar no futuro próximo.

Não guardo mágoas.
Compreendo, perdoo e espero mudanças.
Quero continuar levando alimentos, beleza,
leveza, alegria, vida!

Tornei-me Francisco
e, por isso sei
"que é dando que se recebe"...

Amém!

sábado, 23 de maio de 2009

Aula de Didática da Literatura

Fui, com meu marido, assistir a uma palestra e ao lançamento do livro "O Menino que Vendia Palavras", do escritor Inácio de Loyola Brandão. Saí de lá bastante reconfortada e muito feliz com minha profissão.
Tomei conhecimento do evento pelo rádio "Rádio CBN", da qual sou ouvinte assídua. Estava no carro, ia para casa após o trabalho, ouvia rádio, era uma entrevista já iniciada, quando entrei no carro. Uma voz firme, segura e suave chamou-me a atenção; depois fixei-me na temática da entrevista. Percebi que o entrevistado falava sobre leitura, escola, professora, literatura e de um jeito que demonstrava domínio sobre o que discorria. Comentei com meu marido: "esse aí sabe do que está falando".
O entrevistado lembrava, provocado pela entrevistadora, dos ótimos conselhos que recebera de suas duas professoras primárias "Rute" e "Lourdes". Tais conselhos, segundo o entrevistado, serviram-lhe e servem até hoje, como "dicas" ou "técnicas" do bem redigir: "o final do texto deve surpreender o leitor"; "escreva pouco, pois terá a chance de errar menos"; "anote fatos e acontecimentos interessantes presenciados em um determinado percurso para reescrevê-los em sala de aula _ pedia-lhe uma das professoras. "Invente histórias sobre cenas ou gravuras observadas, mas não descreva simplesmente o que vê, crie algo a respeito.
No instante final da entrevista o entrevistado relatou um trabalho com literatura presenciado por ele em Teresina. Escola pública, crianças carentes, filhas de traficantes, bairro violento, comunidade violenta... No entanto, nem os pais queriam aquela vida para seus filhos e nem os filhos queriam reproduzir a vida dos pais. E a escola, mediada pela literatura apresenta a essas crianças um mundo possível fora das drogas e da violência. Falou ainda, na tal entrevista, do modo pelo qual a sociedade brasileira vê e trata os professores hoje. Com total desprezo, descaso, desimportância e falta de valor; tão diferente de tempos atrás!
Ao final da entrevista, a repórter falou do evento (lançamento do livro e o nome do entrevistado) Aí não tive dúvida! Quis participar. Nos inscrevemos, meu marido e eu, e à noite, lá fomos nós...
Duas horas, mais ou menos, de puro prazer e encantamento. Ouvimos um pouco de tudo, com muita graça e humor. Verdadeira aula de como produzir literatura seja ela conto, crônica, romance ou poesia. Técnicas das quais o autor se utiliza para produzir sua obra. Tudo generosamente compartilhado com os participantes do evento.
Senti-me encorajada como professora de Língua Portuguesa, pois boa parte da fala do escritor a respeito do que aprendeu com os professores enquanto foi aluno, eu tenho o orgulho de dizer que desenvolvo com meus alunos durante as aulas: leio muito com eles e para eles; incentivo-os, o tempo todo, a ler e a escrever; discutimos as obras em sala, relacionamos o que é lido ao dia-a-dia de cada um, nos emocionamos e rimos e sofremos e gostamos ou não dos textos que lemos, mas sobretudo lemos.
Saí da palestra mais animada ainda com a mini-biblioteca que mantenho em sala de aula, com os registros feitos por meus alunos, dos livros que leem; com o trabalho de leitura/escrita que venho desenvolvendo com eles. Enfim, agora só quero dizer:
_ Obrigada, professor, escritor Inácio de Loyola Brandão.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Cumprir o estabelecido

Desde o início do ano letivo, no primeiro contato com os pais dos meus alunos, combinamos os dias e os horários da semana em que poderia recebê-los, para quaisquer necessidades e/ou conversas, referentes aos filhos deles. Entreguei-lhes os horários em que estaria disponível em cada dia da semana. Tudo combinado, acordado, consensuado e sem nenhum questionamento. Só que os pais não cumprem esse acordo! E a escola permite o não cumprimento...
Então, em nome dessa mania brasileira de querer dar um "jeitinho" prá tudo e de não valorizar o cumprimento de regras, acordos, leis, etc, tudo pode acontecer...
Só neste ano letivo, tive vários embates com as mães de alguns alunos, que descumprindo o que fora acertado em reunião, procuraram-me durante o horário em que dava aulas e, na porta da sala, pediram-me explicações, para as quais necessitaria de, no mínimo, 1h de conversa ou mais.
Como já disse, a escola permite, não faz funcionar os horários estampados na portaria, os pais insistem, mesmo sabendo que estão fora do horário adequado e o professor se vê de repente, sozinho, frente a frente a pais muitas vezes enfurecidos e querendo tirar satisfações de fatos, para os quais detêm a versão do filho e a predeterminação de dar crédito a ele...
Encerrei mal a semana passada porque cedi à pressão de uma mãe que chegou à escola às 11h, querendo conversar comigo sobre o filho. Quando retornei à sala, 10min depois, encontrei-a em pé-de-guerra; bolinhas de papel voavam para todos os lados, ninguém permanecera fazendo a atividade de Língua Portuguesa interrompida por eles no momento em que pus os pés fora da sala.
Fiquei brava, briguei, cobrei deles responsabilidade para com o término do exercício que os deixara fazendo; só dispensei a turma, 10min após o sinal de término das aulas daquele dia e após a entrega da atividade realizada por eles.
Iniciei mal esta semana! Como consequência dos fatos narrados anteriormente, uma das mães não gostou do "castigo" dado à filha, achando injusto que ela pagasse pelo que não fizera (opinião da mãe).
Mantive minha posição quanto ao castigo à turma, "bati-boca" com essa mãe na porta da sala-de-aula, na presença de todos os alunos e de alguns outros funcionários da escola.
Erramos todos. Eu por ter me envolvido numa discussão inútil e feia, a mãe por ter me procurado fora do horário combinado e a escola, que mais uma vez, não controlou a entrada dos pais...
Um desgaste só! Até quando?!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Quando menos vale mais

Já disse nesse espaço, por várias vezes, que pertenço à RME de BH, desde 1976. Entrei por concurso, como professora do ensino fundamental e no ano seguinte fui "Enquadrada" como Supervisora Pedagógica. Estive nessa função até 1999 e no período de 91 a 94 fui diretora da escola, cargo ocupado por eleição direta.

Portanto, tenho uma longa experiência como funcionária da educação municipal; passei por várias administrações e, consequentemente, adaptei-me às diversas políticas educacionais da "RME".

Dos meus primeiros anos de professora municipal, até os dias atuais, lidei com alunos oriundos das famílias de baixa renda, moradores da periferia da cidade; alguns contando com o total apoio familiar, outros nem tanto e outros mais, de jeito nenhum!

Sendo assim, em qualquer época, de bonança ou de crise, de bolsa família ou não, entra ano, sai ano e as turmas apresentam um perfil econômico, social e psicológico, muito semelhante.

Grosso modo, uma turma constitui-se de mais ou menos 10% de alunos de baixo rendimento escolar, outros 10% com alto rendimento e um grupo intermediário, em torno de 80% deles, de rendimento regular, esperado.

Nesse perfil, destacam-se alunos muito motivados a estudar, alunos apáticos em relação aos estudos e alunos dependentes de estímulos familiares e da própria escola, para alcançar um bom rendimento escolar. Geralmente alcançam, quando há interesse real tanto de professores quanto de pais.

No grupo dos alunos apáticos, percebemos diversos problemas extra-pedagógicos que interferem na sua qualidade de estudo e de rendimento; vão desde queixas constantes de "dor de dente; dor de barriga; sonolência; apatia e/ou hiperatividade, a abandono familiar, uso de droga, violências várias,etc

Estou realçando tudo isso para dizer que nós professores trabalhamos sob as condições citadas acima e isso nos dá crédito, pois detemos conhecimentos da rotina escolar do aluno e do acompanhamento que recebem de seus familiares, que outros profissionais da educação, mas fora da sala de aula não detêm.
No entanto, nada disso importa aos "políticos de plantão", quando resolvem fazer mais uma "Reforma do Ensino".

Há 15 anos, a "Escola Plural" chegou para nós da "Rede"na forma de " pacote-que- nivelava- todas- as- escolas-municipais-por-baixo". O ensino fundamental (1ª a 8ª série) enquadrou-se primeiro à tal fórmula e o ensino médio (hoje de responsabilidade do Estado) sofreu depois e continua sofrendo, as consequências desse projeto de escola maluco e irresponsável.

Até 1994, todas as escolas municipais contavam com diversos serviços extra-pedagógicos, oferecidos aos alunos que deles necessitavam.
Cada escola, por exemplo, contava com o "professor recuperador" e este trabalhava, extra-turno, as defasagens de aprendizagens daqueles alunos que evidenciavam um ritmo de aprendizagem diferenciado, para menos, dos demais. Pois bem, esse serviço foi simplesmente desmontado, com o advento da "Escola Plural".

Hoje, 15 anos depois, a nova administração da Prefeitura oferece com "pompas e circunstâncias" e, mais uma vez, sem ouvir os professores, o serviço de "Reforço Escolar"...

Na escola onde trabalho , esse serviço acontece no mesmo turno de estudo do aluno. Ou seja, o aluno vai à escola para assistir aulas de "Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História, Ciências, Artes e Educação Física". E é deslocado da sua turma de origem, para fazer "aulas de reforço escolar"! Pode, uma coisa dessas?!

"É A TREVA", como diz a personagem adolescente de uma novela atual...
Se não, vejamos. Sou professora de uma turma de 25 alunos do final do 2º Ciclo, (antiga 5ª série). Desse grupo, 10 alunos apresentam sérias defasagens de conhecimentos em Língua Portuguesa e em Matemática, para ficar nessas duas disciplinas de ensino. A partir da dinâmica de "Reforço Escolar" em curso, não sei mais o que fazer quanto ao ensino a ser ministrado a esses alunos. Eles pertencem ao mesmo tempo à minha turma e ao grupo dos alunos em reforço escolar. O trabalho que está sendo desenvolvido com eles pela professora recuperadora (orientada e acompanhada por profissionais ditos "Acompanhantes Pedagógicos" da escola, vindos da Secretaria Municipal de Ensino), não guarda nenhuma relação com o que tenho desenvolvido com os mesmos alunos, quando estão comigo em sala; sequer conheço a proposta pedagógica desse reforço escolar. E tem mais, sou a professora referencial da turma, portanto a responsável pela aprendizagem e consequente promoção do grupo ao 3º Ciclo do ano que vem(6ª, 7ª e 8ª séries).
O que fazer? A sala de aula virou um entra-e-sai de aluno, não importa que conteúdo eu esteja desenvolvendo com a turma. Os alunos do "reforço" estão desorientados, não sabem a quem seguir, se a mim ou à professora de reforço. E eu não sei como esses alunos serão avaliados durante e ao final do ano letivo, pois se vão para a aula de reforço, perdem o que está acontecendo em sala de aula com o restante do grupo; se permanecem na sala, perdem a oportunidade do "reforço escolar".
O óbvio, para mim, seria fazer a aula de "reforço escolar" extra-turno, mas quem convence à cúpula pensante, disso?!

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Caiu a Ficha

Hoje pela manhã, estava eu à espera do 2º ônibus que me deixaria na escola, quando chamou-me a atenção uma enorme fila, de dobrar quarteirão, em frente a um órgão da PBH ,de atendimento ao público do bairro onde moro. Era a fila do "Minha Casa, Minha Vida"; programa habitacional do governo federal, destinado, dentre outros motivos menos nobres, ao atendimento à demanda pela casa própria da população carente, aquela que recebe até três salários mínimos.
Enquanto o ônibus não vinha, às 6h30min da manhã, pus-me a pensar:
-Quem são as pessoas da fila? Certamente as que recebem até 3 salários mínimos e que terão direito a uma casa lá "onde o Judas perdeu as Botas" e que pagarão uma prestação por dez anos, de R$50,00. Essa é a promessa do governo. Desse público alvo, pensei eu, faço parte...
Após 14 anos de efetivo trabalho em sala de aula, no ensino fundamental, (3º Ano do 2º Ciclo) dois cursos superiores, (Pedagogia e Letras) e uma especialização ( Leitura e Produção de Textos) recebo menos que três salários mínimos. Portanto, posso me inscrever no programa!
Provavelmente, alguém pode pensar assim: é, mas professor só trabalha meio horário, de 2ª a 6ª feira e com vários recessos durante o ano!
É verdade, mas para por aí.
Os pouquíssimos professores que trabalham em meio horário, e também todos aqueles que têm jornada dupla e/ou tripla , levam serviço para casa.
Sou exemplo disso. Passo praticamente todas as minhas tardes e finais de semanas, feriados e recessos corrigindo, planejando, organizando, registrando os trabalhos realizados ou a serem realizados por meus alunos; e, inclusa nesse pacote está a preocupação com o desempenho pedagógico e/ou com o comportamento social/emocional deste ou daquele aluno.
Um professor atualizado, dizem os sábios, deve ser leitor voraz, consumidor de teatro, cinema, exposições de arte, ativista político e social, competente ao ministrar suas aulas! Ah! Deve também cuidar para que as suas aulas sejam criativas, lúdicas, dinâmicas, interessantes, tecnológicas (onde já se viu um professor do século XXI ainda utilizar-se do cuspe-quadro-giz para dar aulas?!
Pois bem, eu estou me candidatando a uma casa de R$50,00 a prestação! Vou concorrer com a minha ajudante doméstica e eu só a tenho, porque conto com o salário do meu marido.
Que país é esse!? Ehein Cazuza? Que Deus o tenha.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Cotidiano

"Todo dia ela faz tudo sempre igual/ me sacode as seis horas da manhã"... já dizia, ou melhor, já cantava/canta Chico Buarque de Holanda. Pois é, escola também é assim: rotineira, previsível, cotidiana, igual há séculos!Ou seja,todos os dias acontecem fatos previsíveis: chegar ao trabalho, receber os alunos, ocupar o espaço sala de aula, seguir o horário das aulas, dar sequência ao ensino anterior... Mas a rotina, o previsível param por aí. Isto porque a escola é feita de uma "rotina dinâmica", se é que se pode dizer assim, forjada no resultado da relação entre pessoas . Os resultados pedagógicos de tudo o que foi planejado e definido em metas a serem alcançadas, dependem do subjetivo, do estado emocinal, motivacional e orgânico de cada um dos sujeitos envolvidos no processo.
Às vezes o professor está super-motivado a desenvolver determinado trabalho com os alunos e estes, por vários motivos, não se empolgam, não se mobilizam e/ou vice-versa.
Então, o jeito, no caso do professor, é valer-se do currículo, ou do livro didático, ou de algum outro recurso que a escola tenha. Nada disso, porém, é garantia de que o transcurso e o final daquele dia escolar será de satisfação, tanto de professores, quanto de alunos.Lidamos com o imponderável! É comum estarmos totalmente motivados e envolvidos com determinado projeto e por motivos não previstos ele, de repente, desanda, vai por água abaixo, deixando um gosto insuportável de frustração na alma de todos.
Assim somos nós, professores, alunos e todo o ambiente que permeia o ato de ensinar/aprender: voláteis, imprevisíveis, inconstantes, inseguros, incompletos...Humanos, enfim.

sábado, 28 de março de 2009

Gênero textual, poesia.

Lá pelos idos de 1983, uma grande amiga e eu, então supervisoras pedagógicas em escola municipal, publicamos um trabalho na "Revista AMAE EDUCANDO" cujo título fora o seguinte: "Drummond e Poesia para Criança".
Naquela época, trabalhávamos com crianças de 9/10 anos interessadíssimas pelos textos literários, dentre eles especialmente a poesia. O comum, então, nessa faixa etária, era que se trabalhasse com os poemas de Henriqueta Lisboa, Cecília Meireles e até Olavo Bilac, mas Drummond, poesia e criança parecia não se encaixar muito bem. Conversando sobre isso, resolvemos apresentar Drummond aos nossos alunos a partir do poema "Infância". Desenvolvemos, para tal um plano de aula, que passo a relatar, fazendo, no entanto, algumas adaptações às concepções pedagógicas atuais:
"Planejamento de Aula de Poesia (Hoje, sequência didática)
Módulo: Língua Portuguesa
Gênero textual: Poesia
Tema: Infância
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Objetivos:
-Entrar em contato com o texto de Drummond a partir do poema "Infância".
-Identificar o "eu lírico" do poema e estabelecer relações entre a temática abordada e a vida de cada leitor.
-Citar trechos do poema que produziram sentimentos ao serem lidos, explicitando-os.
-Pesquisar sobre Drummond e listar outros poemas de interesse da turma.
Conteúdos
- Poema, um gênero textual.
-Carlos Drummond de Andrade, grande escritor mineiro de Poemas e Crônicas, cujo público alvo principal é o adulto.
-Algumas características do poema em estudo.
-Pesquisa sobre Drummond e de outros poemas seus adequados à faixa etária em questão.
Material necessário
Cópias do poema em estudo.
Recursos adequados (livros, enciclopédias, Internet) à pesquisa sobre Drummond.
Desenvolvimento
-1ª etapa
Inicie a atividade com uma roda de conversa, apresentando aos alunos o autor:
_Vocês conhecem ou já ouviram falar a respeito de Carlos Drummond de Andrade? Já leram algo sobre ele?
_Carlos Drummond foi e permanece sendo um grande poeta brasileiro. Nasceu em Itabira, Minas Gerais, mas viveu bastante tempo no Rio de Janeiro.
Foi escritor consagrado de Crônicas, Contos e Poemas; publicou muitos livros. Nasceu no dia 31 de outubro de 1902 e morreu no ano de 1987. Pois bem, hoje vocês conhecerão um poema escrito por ele.
-2ª etapa
Resolução de dificuldades (estudo do vocabulário)
Comente com o aluno:
_No poema a ser lido, vocês encontrarão palavras e/ou expressões, cujos significados estudaremos primeiramente.
Escreva no quadro (ou use algum outro recurso), as expressões: cosendo, Robinson Crusoé, meio-dia branco de luz, senzala e campeava, por exemplo.
Converse com os alunos, incentive-os a dizerem o que sabem sobre cada uma das expressões destacadas:
cosendo (coser) = costurando (costurar)
Robinson Crusoé = personagem de uma história infantil
meio-dia branco de luz = dia muito claro, de luz intensa
senzala = casa onde moravam os escravos
campeava = andava a cavalo pelo campo cuidando da fazenda
3ª etapa
Apresentação do poema à turma
Converse com os alunos e pergunte-lhes:
_ Como é que cada um de vocês passa o dia?
_E seu pais o que fazem durante o dia? Como eles são? Calmos, tranquilos, ou não?
_ Pois bem, o poema que eu trouxe para vocês fala sobre a vida de Drummond criança.
_Como terá sido a sua vida de menino de 1910?
_Vocês gostariam de saber?
4ª etapa
Primeira leitura do poema
Da professora para os alunos, que acompanham-na a partir das cópias distribuídas.
Infância
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé.
Comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala _ e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
_Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!

Por ser esta a leitura/modelo, deverá ser feita:
-com expressão e ritmo próprios;
-com modulação da voz conforme a musicalidade dos versos;
-com naturalidade, sem afetação ou declamação.
Segunda leitura do poema
Professora e alunos leem juntos, com o mesmo cuidado da leitura anterior.
5ª etapa
Debate e/ou conversa sobre a temática do poema e sobre as impressões causadas nos leitores:
_Estimular os alunos a relatarem suas primeiras percepções a respeito do poema.
_Fazer questionamentos, tais como: quais fatos da memória afetiva do autor estão presentes no poema; de que sentimentos ele se lembra; que expressões são usadas para descrever o dia; como ele se refere à preta velha; o que ela representava para ele; como o autor nos apresenta seus pais; a que conclusão o autor chega ao final do poema; por quê?
6ª etapa
Leitura coletiva do poema.
AVALIAÇÃO:
Divida a turma em grupos para que cada aluno possa compartilhar, nos pequenos grupos, as emoções vividas e percebidas com a leitura do poema.
Expressar esses sentimentos a partir das seguintes atividades:
-colar o poema no caderno de "Língua Portuguesa";
-copiar o verso ou a estrofe que mais chamou-lhes a atenção;
-ilustrar o poema;
-fazer um coro falado ou imaginar uma forma de o poema ser apresentado à turma;
-pesquisar sobre Drummond a apresentar aos colegas o resultado da pesquisa.
-coletar outros poemas de Drummond para serem lidos pela turma.

Obs. À época, os alunos de uma das turmas que trabalharam com o poema de Drummond, produziram o seguinte texto:

"Homenagem à Carlos Drummond de Andrade

Em 1902, nasce em Itabira, Minas Gerais, uma criança igual às outras, para mais tarde tornar-se um homem especial, um grande poeta, você: Carlos Drummond de Andrade.
Carlos Drummond, você enriquece a literatura brasileira, tornando-a conhecida em vários países.
O Brasil inteiro reconhece seu talento e lhe presta merecidas homenagens no seu octogésimo aniversário.
Continue elevando sempre o nome do Brasil.
Que Deus lhe dê força e saúde para continuar aproveitando a sua sensibilidade e sua capacidade de observar coisas comuns e torná-las especiais em forma de poemas, crônicas ou contos.
Apesar de seus oitenta anos, você continua com a cabeça jovem e atuante.
A você, o nosso respeito e gratidão por tanto talento acumulado.
Você é motivo de orgulho de todos nós mineiros.
Por tudo, muito lhe agradecemos".
Revista AMAE EDUCANDO, agosto de 1983,
nº156, ano XVI, p.5-7.
Bons tempos aqueles! Que saudade!

sexta-feira, 20 de março de 2009

A Senha do Mundo

Distinção
O Pai se escreve sempre com P grande
em letras de respeito e de tremor
se é Pai da gente. E Mãe, com M grande.

O Pai é imenso. A Mãe, pouco menor.
Com ela, sim, me entendo bem melhor:
Mãe é muito mais fácil de enganar.

(Razão, eu sei, de mais aberto amor.)

Andrade, Carlos Drummond de,
A Senha do Mundo, Rio de Janeiro,
Coleção Verso na Prosa
Prosa no Verso, Ed. Record, 1997,p. 38

quinta-feira, 12 de março de 2009

A Palavra Mágica

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.

Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.

Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.


Professor

O professor disserta
sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudi-lo?
Não.
O professor baixa a voz
com medo de acordá-lo.

Andrade, Carlos Drummond de, 1902-1987
A Senha do Mundo - Rio de Janeiro: Record
1997. 9Verso na prosa-prosa no verso)

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Dar um Tempo

Hoje em dia ouvimos com naturalidade expressões como: "estou dando um tempo; vou dar um tempo; estamos dando um tempo", principalmente entre namorados, que de repente necessitam parar para refletir sobre o relacionamento e, mais pra frente, romper de vez ou então retomar, com mais força, quem sabe, com mais vigor, entusiasmo e paixão, aquilo que parecia morrer, acabar, esvair.
Sinto-me assim com minha profissão: quero continuar, mas não sei se devo. O entusiasmo e o gosto pelo ofício ainda estão presentes; vibro quando alcanço objetivos e metas estabelecidos, quando consigo organizar um projeto de trabalho que envolva não só minha turma, mas o turno, a escola e principalmente quando meu aluno percebe, feliz, que aprendeu algo de novo que o coloca em outro patamar do conhecimento.
Como nem tudo são flores e as decepções e frustrações em educação às vezes são maiores que os sucessos, até o momento estou no seguinte pé: já identifico algumas características dos meus novos alunos; fiz uma primeira reunião com os pais deles; estabelecemos metas de trabalho pedagógico para o ano em curso; combinamos nos ajudarmos mutuamente; estabelecemos regras de conduta em sala de aula; organizamos os horários das aulas; os livros didáticos que serão utilizados. Após os testes de conhecimentos em Língua Portuguesa e em Matemática, listei e organizei um gráfico das habilidades já consolidadas por cada aluno e aquelas que precisam ser retomadas não só com a turma, mas também individualmente com alguns alunos que apresentaram maiores defasagens de conhecimentos. Estou gostando deles, estou entusiasmada e louca para colocar em prática tudo o que foi planejado para esse ano e para essa turma.
Mas, tenho direito, devido ao meu tempo de serviço como professora (14 anos) a tirar "Férias-prêmio". Ficarei 180 dias afastada da escola e, logicamente, longe da turma. Tomei essa decisão porque ando pensando em pedir exoneração do cargo ao final desse período de férias. Porém, estou confusa. Não sei se quero mesmo abandonar a minha profissão. Então... Vou "dar um tempo", mas com pena de interromper o trabalho já iniciado com a turma de 2009.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Realidade Nua e Crua

Estamos há 14 anos do advento da "Escola Plural" e um dos seus pilares foi/é o trabalho por ciclo de idade de formação. Desde 1995, que todas as escolas da RME de BH deixaram de agrupar os alunos sob a lógica da seriação/repetência ao final de cada ano letivo.
Pois bem, desde essa época está em vigor, com uma ou outra alteração, a lógica do Ciclo de 3 anos de duração e de Formação (infância, pré-adolescência e adolescência) e, conforme esta organização os alunos deveriam ser agrupados seguindo-se os seguintes critérios: 1º Ciclo - alunos de 6/7 e 8/9 anos de idade - com uma retenção ao final do ciclo, para o aluno abaixo do nível mínimo de conhecimentos adquiridos durante os estudos do ciclo; 2º Ciclo - alunos de 9/10 e 11/12 anos de idade, com uma retenção ao final do ciclo para os alunos abaixo da média; 3º Ciclo - alunos de 12/13/14/15 anos de idade estando previsto, também neste ciclo, a possibilidade de retenção ao final do mesmo. Ou seja, caso o aluno seja retido por três vezes, ao final de cada ciclo cursado, ele encerrará o ensino fundamental, ou chegará ao final do 3º ciclo com 15 anos, correto? Não! Se ele ficar retido ao final de cada um dos 3 ciclos de formação, encerrá o ensino fundamental aos 17 anos.
Minha turma atual, composta por um total de 28 alunos está subdividida da seguinte forma: 2 alunos de 14 anos, 10 alunos de 13 anos, 11 alunos de 12 anos e 5 alunos de 11 anos. Trabalho com meninos e meninas no início da pré-adolescência e meninos e meninas já adolescentes.
Isso pode parecer de menor importância, mas no dia-a-dia do trabalho com eles, faz toda a diferença: no aspecto físico, na maturidade e no comportamento; há uma heterogeneidade tão acentuada entre eles, que torna o trabalho pedagógico pesado, tenso e de expectativa frustrante já no início do ano letivo. São questões pedagógicas, (defasagens de toda ordem) familiares,(desestrutura, rejeição, abandono) econômicas,(desemprego, baixa renda, só o "Bolsa Família" como recurso) culturais, (o mundo deles e seus valores são outros, não "batem" com os valores difundidos pela escola, por exemplo: justiça, responsabilidade, valor do estudo, honestidade, etc) . Também há problemas sérios na ordem da saúde orgânica (dor de dente, anemia, verminose, raquitismo, dentre outros) e de saúde emocional: dispersão, desinteresse, apatia, hiper-atividade, depressão, uso de drogas...
Trabalhar nessas condições é muito difícil; é quase um milagre percebermos que apesar de tudo há aprendizagem, há progresso pedagógico, há sucesso escolar, para muitos deles!

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Novos Alunos

Hoje tive um primeiro contato com meus novos alunos. São ao todo 28, idades variando entre 11/14 anos; alguns muito pequenos e franzinos para a idade, outros fisicamente já pré-adolescentes e adolescentes. Encontrei-me com eles na quadra, pois sabia de antemão que seriam meus alunos. Ali mesmo fiz uma checagem alunos/lista que tinha em mãos. Subimos. A sala já estava organizada por mim, para que se sentassem em grupos de quatro. Apresentei-me a eles, e eles também se apresentaram a mim. Todos já se conhecem. Estão juntos, na mesma turma, desde o pré-escolar.
Conversamos sobre nossas (minhas e deles) expectativas para este ano letivo; mostrei-lhes os livros didáticos que usaremos e como serão os estudos da 5ª série ( 3º ano do 2º Ciclo, para eles ).
Realizamos um teste sondagem de "Língua Portuguesa" - habilidades já consolidadas, ou não, em fluência em leitura em voz alta. Realizamos também um "Ditado" de um pequeno trecho do texto lido em voz alta, para os primeiros levantamentos das questões ortográficas a serem trabalhadas. Nenhum aluno lembrou-se de perguntar ou comentar a respeito do "acordo ortográfico" dos países de Língua Portuguesa, em vigor desde 1º de janeiro...
Fizemos ainda um levantamento da percepção dos alunos quanto a presença da "Matemática" do cotidiano, estampada diariamente nos jornais, por exemplo. Trabalhamos com textos, ou partes de textos de matérias veiculadas no jornal "O TEMPO" do mês de janeiro. Pedi a eles que fizessem uma leitura do material recebido e que identificassem nele a presença da "Matemática"- medidas (tempo, valor monetário, perímetro, área ); números (quantidades várias ) ;números ( ordinais, cardinais, racionais ); espacialidade; tratamento das informações em tabelas e gráficos.
Eles gostaram da atividade, participaram, mas demonstraram dificuldade para relacionar a informação propriamente dita aos números e símbolos matemáticos presentes.
No último horário saíram felizes para a aula de Educação Física, que eles amam! Eu, encontrei-me com minhas novas colegas de grupo, para as primeiras considerações a respeito do trabalho a ser realizado por nós com nossas turmas. Estou animada.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Começar de novo

Retorno à escola no dia 02 de fevereiro, dia escolar, sem aluno. Estarão presentes professores, direção, coordenação pedagógica e funcionários. Nesse dia faremos o planejamento das atividades pedagógicas a serem desenvolvidas com os alunos durante o ano letivo de 2009. Ou seja, dispomos de 4h30min do dia 2/02, para definir metas, objetivos, projetos; delimitar procedimentos e priorizar capacidades a serem desenvolvidas com os alunos de 6 a 12 anos de idade.
Nosso calendário escolar, definido previamente pela PBH, não prevê dias de formação continuada, de encontros pedagógicos e nem dias de planejamento dos trabalhos escolares. Faremos isso, como sempre, nas brechas do horário de trabalho - 1h diária para cada professor - porém sem a chance do momento adequado, com tranquilidade para a pesquisa e/ou a avaliação mais acurada dos trabalhos dos alunos.
Tenho lido nos jornais locais de que a "Escola Plural" sofrerá mudanças do tipo: "boletim escolar constando de notas e não de conceitos, após avaliação formal dos conteúdos trabalhados com o aluno"; "aulas de recuperação ao final do ano letivo, para o aluno que não alcançar o mínimo desejável, durante o processo de ensino/aprendizagem"; "retenção do aluno, ao final do ano letivo e, após recuperação, caso não demonstre um nível desejável de aprendizagem"...
Sabe há quando estamos retrocedendo? Há 1994. Até essa época, tudo o que a PBH vem anunciando como "mudança"era fato, era norma nas escolas da RME. O que resta hoje do chamado "Projeto Político Pedagógico da Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte - Escola Plural" é somente esse nome pomposo e, infelizmente, uma geração de alunos mal formados e que carregam em seus "Históricos Escolares" a marca: "Escola Plural" . Pejorativa, desgastada e de tristes lembranças.
De quem é a culpa? Ninguém responderá por esse engodo chamado "Escola Plural"?

domingo, 4 de janeiro de 2009

Férias

Estou de "Férias". Fico em casa. Tenho lido, coisa de que gosto de fazer. Além de jornais e revistas já li "Saramago" - Ensaio Sobre a Cegueira. Não sei por quê, mas ao ler "Ensaio sobre a Cegueira" lembrei-me de Machado de Assis, "Papéis Avulsos" - "O Alienista" e de um livro que li ainda adolescente sobre "As Viagens de Gulliver" de Jonathan Swift. Numa dessas viagens Gulliver chega a ilha de Luggnagg. Lá viviam os struldbruggs ou os imortais, era onde todos tinham vida eterna, porém envelheciam. Ao envelhecer sofriam todas as mazelas do corpo e da alma inerentes ao próprio envelhecer. Pretendo reler essas obras e conferir por que Saramago me remeteu a elas.
Tenho acompanhado, também, pelos jornais, os movimentos do novo prefeito da capital. Interessa-me, particularmente, as ações a respeito da educação municipal. Até agora, pelo que li e ouvi, nada muda; a ordem é continuar a mesma política educacional implementada pelo prefeito anterior. Que pena!
Estou relendo a proposta curricular para a "Rede Municipal" e, com mais vagar, tentando transformar aquelas ideias e proposições em aulas concretas, exequíveis e, ao mesmo tempo, interessantes, criativas, lúdicas, desafiadoras, motivadoras para os alunos. Ufa! Como é difícil. Tudo o que penso, tudo o que pesquiso envolve debates, leitura, escrita, pesquisa, apresentação oral e sistematização do conhecimento via registro escrito e fala. E isso é tudo o que os alunos não querem. Eles se recusam a ler - seja em livros, jornais, revistas ou na tela - ; eles se recusam a registrar sistematizadamente o estudo feito; recusam-se a participar com interesse de qualquer aula que envolva o debate, a argumentação, o respeito à vez do outro de expor suas ideias.
Todos querem falar, mas ninguém quer ouvir. Todos têm opinião formada sobre qualquer assunto, mas ninguém quer modificar o que pensa em favor de uma outra argumentação melhor elaborada ou que traga novos olhares a respeito do tema em pauta.Todos solicitam o professor para si, mas não têm paciência de ouvi-lo numa explanação coletiva.
O que impera em uma sala de aula atual é o barulho das conversas paralelas e desconectadas do tema em questão desenvolvido pelo professor.
O que impera, infelizmente, é a agressividade de uns para com os outros; é a falta de interesse pelos estudos de um modo geral...