segunda-feira, 17 de maio de 2010

Inclusão

Toda escola pública e/ou particular, por força de Lei, não pode deixar de receber os alunos deficientes de qualquer natureza. Pelo que sei, o aluno com necessidades especiais da escola particular, participa normalmente das turmas regulares, mas conta com todo o suporte do qual necessita para participar eficazmente das aulas: fono, tradutor de libra ou braile, psicólogo, terapeuta, pediatra e o professor da turma, dentre outros aparatos necessários, ou melhor imprescindíveis ao bom desempenho pedagógico do aluno.
Na escola pública tal não acontece. Há dois anos contávamos com professores-estagiários que nos davam suporte, atendendo pessoalmente ao aluno deficiente. Isso nos dava tranquilidade para desenvolver o pedagógico desse aluno, pois sabíamos que o estagiário o atenderia particularmente, deixando-nos tranquilos para seguir com as orientações e atividades dos outros alunos.
No momento, nem esse suporte temos mais. Ou melhor, só contamos conosco mesmos.
Sou professora de uma aluna portadora da "Síndrome de Down". Ela tem 12 anos, faz parte do grupo desde os 6 anos de idade. Percebo que ela não interage com o grupo apesar da longa convivência. Mas, comporta-se em sala de aula como os colegas; já assimilou todo o ritual da rotina pedagógica de uma sala de aula: entrar em fila, encontrar o seu lugar, portar mochila com livros, cadernos, lápis e outros objetos; prestar atenção às orientações e explicações dadas; fazer trabalhos ora usando cadernos, ora textos xerocados, ora registros escritos dos assuntos abordados. Ela "faz" tudo como os outros, mas não demonstra nenhuma consciência do que faz. Seu registro é a partir de garatujas, não lê, não se interessa pelos assuntos discutidos em sala, não conversa com os colegas, no recreio permanece sempre isolada, mas sobe e desce, sem ajuda as escadas, vai até ao banheiro sozinha, reconhece todas as professoras e funcionários da escola pelos nomes, sabe o que fazem, qual é a função de cada um.
Não se interessa pelas histórias infantis contadas e/ou lidas em sala; gosta de dançar e de brincar de boneca. Identifica os nomes dos colegas, mas não os lê, ela reconhece boa parte desses nomes, porque  as fichas foram personalisadas, ou seja, além do nome escrito em letra grande e cursiva, cada aluno fez um trabalho de "enfeitar" o próprio nome; assim ela os reconhece pelo visual colorido e pelo desenho diferente em cada ficha. Essa tarefa foi dada a ela por mim, num rasgo de luz, pois sentia-me e sinto-me angustiada por não conseguir fazer quase nada por ela,  no aspecto pedagógico do ensino de conteúdo.
Minha escola será núcleo para o recebimento e o acompanhamento especializado e personalisado aos alunos portadores de deficiências, da região, porém fui informada de que o atendimento não se estenderá ao aluno com "Síndrome de Down". Explicaram-me, mas não entendi o por quê disso.
Enfim, seguiremos em frente, da melhor forma possível, porém conscientes de que "há algo de estranho na inclusão do aluno pobre às turmas regulares das escolas públicas".