sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Ai, que cansaço!

(...) "Um dia faço escândalo cá a bordo,
Só prá dar que falar de mim aos mais.
Não posso com a vida, e acho fatais
As iras com que às vezes me debordo."(...)

Fernando Pessoa

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Turma Nova Velhos Problemas

Assumi a turma de 2011 no dia dois de fevereiro; são vinte e oito alunos de 11/12 anos; cursam o 6º ano do Ensino Fundamental. Nessa altura do campeonato já tenho ideias claras a respeito do que são capazes, da bagagem de conteúdos consolidados que trazem e dos conteúdos que deverão ser retomados, trabalhados ou mesmo introduzidos. Como antes, trabalharei com cinco disciplinas de ensino: Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História e Ciências. Sou habilitada em Pedagogia e em Letras, mas segundo a atual política pedagógica da PBH, posso lecionar os conteúdos para os quais não sou habilitada, nesta etapa de ensino ( 6º Ano do Ensino Fundamental ).
Isso não é fácil para o professor, pois exige dele estudo e pesquisa das matérias para as quais não está habilitado sem falar da necessidade do estudo constante e da pesquisa permanente até mesmo na área de habilitação específica do profissional.
Fico na regência de classe diariamente por um período de três horas e meia, exceto em um dos dias da semana, no meu caso às segundas feiras, momentos em que fico em tempo integral com a turma: quatro horas e trinta minutos.
De qualquer forma, o tempo de estudo com os alunos é exíguo independentemente de se ficar com eles por três horas e meia ou por quatro horas e meia.
Tirando-se o tempo de chegada dos alunos as sete horas, o agrupamento de todas as turmas na quadra, a oração que é feita com os mesmos, não importando se o ensino público é laico ou não, a fala da direção da escola com os alunos e a ida para a sala de aula, leva-se de dez a quinze minutos. Até que todos tomem os seus lugares e tenha início a primeira aula do dia, no mínimo uns vinte minutos do tempo de quatro horas e meia já foram embora.
Indisciplina, conversas paralelas, alunos que chegam atrasados, alunos sem o material necessário àquela aula... Estes são outros complicadores do cumprimento do horário integral de aula. Até o final do dia seguramente perde-se de quarenta minutos a uma hora na administração dos entraves para que uma aula aconteça na sua plenitude de tempo e de conteúdo sendo apresentado aos alunos.
Com tudo isso, sinto que nos últimos três anos a Rede Municipal de Belo Horizonte vem se reorganizando em todos os sentidos e o reflexo disso já pode ser percebido na prontidão do aluno para acompanhar os estudos do ano escolar no qual está matriculado, ou seja, as defasagens de conteúdos vêm diminuindo; os alunos têm chegado ao sexto ano com um domínio razoável de leitura/escrita e dos conceitos básicos das outras disciplinas de ensino. Isso é bom.
Faz-se necessário, no entanto, a reestruturação das condições de trabalho do professor. Em dias atuais, uma sala de aula que se preze deveria ter as características de uma ilha de edição de uma redação de jornal de televisão, por exemplo. Conteúdos são apresentados aos alunos diariamente e os recursos disponíveis, sem perigo de falhas, são ainda a velha e boa aula na base do "cuspe-e-giz", mimeógrafo a álcool e o mais sofisticado dos recursos e que já se tornou comum também nas escolas que é a reprodução de textos e de exercícios, via xerox.
No mais são professores, boa parte deles, abominando o uso do livro didático, por vários motivos: dos puramente ideológicos àqueles das inadequações dos livros ao nível de conhecimento dos alunos; geralmente os conteúdos dos livros didáticos estão além da capacidade dos alunos de compreendê-los e até mesmo de se interessarem por eles. Então o professor tem que se virar com o xerox de outros textos mais simples e/ou adaptados ao nível de seus alunos.
Eu priorizo o uso do livro didático, mesmo precisando fazer infinitas adaptações a cada página apresentada. No entanto, o livro me permite um direcionamento de trabalho que de outra forma não teria como organizar.
Para o professor que trabalha em dois e até três turnos diários, não há tempo de planejar, organizar material e até mesmo de fazer as correções necessárias dos exercícios dos alunos. A rotina desses professores é: chegar as sete horas, assumir sua turma (e então o que fazer com ela já deveria estar organizado, como na apresentação de um programa de televisão); sair daquela escola, almoçar correndo, assumir outra turma no horário de treze as dezessete horas e trinta minutos; voar para casa, quando dá tempo e assumir outra turma à noite, ou ir para casa, enfrentando a loucura do trânsito, mal ver seus familiares, deitar-se "esbudegada" para no dia seguinte, repetir a mesma jornada.
Como dar atenção ao aluno desmotivado? Como preparar aulas interessantes o suficiente para motivar os alunos e não favorecer as conversas paralelas em sala de aula? Como corrigir trinta textos em uma hora observando se o aluno ortografa e redige dentro do esperado?
Penso que nas condições que são dadas aos professores para desenvolver o seu trabalho diariamente, diariamente ele faz milagres, visto que, embora tudo isso, percebo mudanças positivas no nível de aprendizagem demonstrado pelos atuais alunos (da minha escola, pelo menos) do final do 2º Ciclo de Formação da RME. 
Que venham as mudanças favoráveis ao planejamento e a organização de material didático na vida dos professores...