segunda-feira, 21 de agosto de 2017

Motivação... desmotivação

Estive distante do blog por um longo tempo. Perdi a motivação para escrever, registrar os sentimentos relativos ao ofício de ensinar.

É que a rotina da escola, da sala de aula, ou do meio educacional é tão imutável, tão rotina, tão sedimentada, que não há assunto!

Vocês poderiam me dizer: "como não há assunto com tanta coisa a estudar, a aprender; com tantas ferramentas e tantos recursos, tanta tecnologia..."

Sim. Concordo. Há tudo isso. Inclusive novos alunos. Novos seres com hábitos e costumes totalmente diferentes: postura em sala de aula, disposição para o esforço do aprendizado da leitura e da escrita. Aprendizados esses fundamentais ao domínio consciente da tão propalada tecnologia. De que adianta a tecnologia se eu não sei ler e filtrar o que importa nos conteúdos ali à disposição?

Não fosse tudo isso, há algo no ato de aprender que independe do tempo e dos recursos tecnológicos, porque é inerente ao ser humano. A motivação, a vontade, o valor que se dá individualmente ao estudo.

Para os alunos desmotivados, mais do que nunca, faz-se necessária a presença familiar na vida escolar deles. Pois lhes garante o estudo, mesmo que obrigados. Auxilia o professor, que tem a árdua tarefa de ensinar a ler, a escrever, a dominar os conceitos matemáticos, históricos, geográficos e científicos básicos e fundamentais à continuidade exitosa na vida escolar acadêmica.

Qualquer ser humano precisa  passar por esses aprendizados, para então dominar  todos os outros  que estão por vir.

Assim, o ensino fundamental não muda porque sua natureza se assemelha ao nascimento e ao desenvolvimento do ser humano até, mais ou menos, o final da adolescência.

 Nessas etapas da vida aqui, na África, na Índia, na China ou na Noruega o desenvolvimento humano se assemelha: física, orgânica, emocional e intelectualmente. Aprender a se expressar na própria língua é tão semelhante quanto aprender a se por de pé. Consolidadas essas habilidades e consolidados esses conhecimentos o céu é o limite para cada um em cada canto do mundo.

A diferença entre todos, no entanto,  se dará conforme os cuidados alimentares, emocionais e culturais recebidos nesta primeira etapa de vida. E a motivação para estudar, dominar o mundo pelo conhecimento é construída aí, também. Naquilo que o indivíduo recebeu de estímulos, de atenção, de carinho, de cuidados alimentares e emocionais.

Boa parte dos alunos atuais está carente destes recursos vitais... E nós professores nos sentimos desmotivados, também.


sexta-feira, 26 de junho de 2015

Estudar

O que é estudar?
Verbo transitivo. Estudar é aprender, entender, compreender,  examinar, analisar, observar.

Quem estuda? Quem estuda é o estudante, é a pessoa, é o discípulo, é o aluno, é o escolar.

E o que é o estudo? O estudo, substantivo masculino, constitui-se da aplicação intelectual, da diligência de espírito, do trabalho preparatório para projetos, do exercício de técnica.

Estudioso, quem é? É aquele que é aplicado, atento, diligente.

Esses são alguns dos conceitos que constituem a matéria prima do trabalho do professor. Ideologias a parte, o que todo professor almeja é que seu aluno estude e aprenda.

Chegar nesse denominador comum  estudar/aprender é o nó de todo e qualquer professor desde que a escola existe.

Isso porque, não está nas mãos do professor fazer o aluno estudar/aprender. Entre o desejo e a ação variáveis mil interferem e às vezes inviabilizam o alcance do intento.

Existe o que é inerente ao aluno e somente ele pode acionar; existe o que é inerente ao professor e somente ele pode acionar; existe o que é inerente ao ambiente escola/família/estado e que somente eles podem acionar cada qual por sua vez e obrigação.

Então? Parece milagre, mas apesar de todas as variáveis muito se faz, muito se constrói, muito se perpetua. E muito se perde, também! É a vida? É assim mesmo? Deixa pra lá?

Olá, todo mundo!

Confesso que nem eu mesma sei porque resolvi escrever hoje. É o meu primeiro post de 2015. Continuo na mesma escola, trabalhando com uma turma do sexto ano do ensino fundamental.

Acho que não escrevi nada ainda, porque nada mudou. Mudam-se os alunos, muda-se o ano letivo, mas a educação continua a mesma.

Numa mesma turma, dita do sexto ano, vários níveis de aprendizagem e de maturidade, embora sejam da mesma faixa etária e nível social semelhante. Onze, doze anos as idades e moradores da periferia.

Percentualmente dividem-se assim: vinte por cento do grupo está apto a cursar o sexto ano; sessenta por cento caracteriza-se por um nível razoável de leitura e de escrita, mas com defasagens sérias, graves, na construção de conceitos básicos de leitura, escrita, linguagem oral, padrão de vocabulário, legibilidade de texto e de letra. Em Matemática também a coisa não é muito diferente: baixo domínio dos fatos fundamentais e do cálculo; da leitura e da escrita dos números até seis ordens; da resolução de problemas, da geometria, das grandezas e das medidas... Enfim não estão aptos a cursar o sexto ano.

Os vinte por cento restantes mal decifram uma ou outra palavra da Língua Portuguesa e de resto não compreendem o que lhes é apresentado como conteúdo de estudo.

Os recursos disponíveis para o trabalho pedagógico com os alunos são escassos e inadequados às demandas do grupo.

Resta ao professor fazer o que lhe é possível com o que tem em mãos. Choradeira de professor que só reclama, mas não quer trabalhar? Não! Realidade nua e crua.

É visitar qualquer escola pública, ou até mesmo particular pra verificar o caos no qual estamos metidos.
Solução a curto, médio ou longo prazo? Não vislumbro. 

sábado, 19 de abril de 2014

Turma homogênea X Turma heterogênea

Vamos combinar que não há turma essencialmente homogênea, portanto não vou defender algo que não existe na prática. O ser humano é uno, diferente por si mesmo e em qualquer grupo que  esteja a heterogeneidade estará lá, também.
O que me deixa deveras angustiada é a formação atual das turmas, principalmente das escolas públicas, que se apega a uma ideologia da convivência do mais fraco (defasagem de conteúdo/idade/ano de escolaridade) com o aluno adequado à sua idade/ano de escolaridade.
Tenho trabalhado há dezenove anos com turmas extremamente heterogêneas no domínio de conteúdo e isso se torna um transtorno no momento de organizar e planejar as aulas. Sei que vão dizer que professor bom é aquele que consegue trabalhar individualmente com o aluno, conforme sua necessidade, mesmo que ele faça parte de uma turma de trinta, por exemplo.
Isso é  bonito de se pensar, mas impossível de se realizar.
Na prática, o professor é responsável por trinta alunos de determinado ano do ensino fundamental e para esses alunos há uma gama de conteúdos com suas habilidades específicas e que se encaixam em determinado perfil de aluno esperado para aquele ano de ensino.
As turmas atuais apresentam em média as seguintes características: vinte por cento de alunos conforme a idade/ano de escolaridade; quarenta por cento dos alunos apresentam aptidão abaixo do esperado para a leitura/escrita e conceitos matemáticos básicos. Os vinte por cento restantes apresentam defasagens de aprendizagens que deveriam ter sido alcançadas nos dois primeiros anos de escolaridade: leitura, escrita (ortografia e caligrafia); produção de texto, seja de que gênero for e leitura e escrita de números até a quarta ordem, fatos fundamentais das quatro operações, resolução de problemas simples aplicando os conhecimentos citados.
O que fazer, no sexto ano, com o aluno de uma turma de trinta  que literalmente não lê, não escreve, não reconhece números, não faz cálculos, não domina fatos e apresenta uma caligrafia ilegível?
O mais triste disso tudo é que o aluno com tais características se sabe assim. Não "rola" colocá-lo ao lado de um colega mais pronto, mais maduro; os dois se prejudicam por motivos óbvios. O professor não consegue dar a esses alunos a tão propalada assistência individual. Há uma série de intercorrências durante o dia escolar e essa assistência não se torna eficiente.
Penso que um grupo de alunos que apresente mais ou menos as mesmas características de conteúdos consolidados, alcança um ritmo de aprendizagem mais consistente, se assim estiver formado. E não importa o nível dos alunos se de acordo com a idade/tempo de escolarização, ou não. O trabalho a ser desenvolvido tenderá a ser mais eficiente do que com os grupos de defasagens extremas entre seus membros.

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Não há verba

No dia três de fevereiro retornei à minha escola das férias de final de ano. Primeiro encontro entre os professores e a direção da escola.

Todos alegres, felizes, animados, mas nem tanto!

Inicialmente tomamos conhecimento da continuidade do projeto chamado "PROERD", destinado aos alunos do 5º Ano. É uma parceria entre a "Polícia Militar" de Minas Gerais e as Escolas Públicas. Visa discutir, informar e conscientizar os alunos, dessa faixa etária, sobre as drogas e suas consequências na vida dos usuários e o seu entorno.

Embora o projeto seja considerado exitoso, tivemos a confirmação do quanto sua continuidade depende de uns poucos policiais abnegados. Tanto quanto os projetos da escola, também não há verba e nem pessoal disponível para o projeto em questão. Uma pena!

A diretora nos disse, a seguir, que o "Caixa" da escola está vazio. Não podemos planejar nenhuma atividade extra classe que dependa de verba. Assim as excursões, as oficinas pedagógicas, os cursos para os professores, dentre outros projetos, ficam em "banho Maria" até segunda ordem.

Os livros didáticos também não chegaram em número suficiente para todos os alunos do 6º Ano. Minha turma "sobrou". Como sou previdente e guardo sempre os livros a serem substituídos, usarei os livros antigos até chegarem os novos, isto se chegarem.

Na fritada dos ovos e como sempre contaremos para nossas aulas com o nosso conhecimento, a boa vontade dos alunos, o espaço sala de aula, mesas e cadeiras, quadro e (giz) pincel para quadro branco...

Ah! o Kit escolar dos alunos foi reduzido à metade. Serão enviados alguns itens para os alunos mais necessitados. Ou seja, o que já foi farto e para todos, desta vez será minguado e para alguns.

Motivo? Não há verba. Explicação? Nenhuma.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Drummond para fazer pensar

Em alguns "post" anteriores andei citando Drummond ( meu poeta maior). Hoje quero fazer jus à sua genialidade. Deixo a vocês o poema "Cidadezinha Qualquer", integralmente.

Cidadezinha qualquer

Casas entre bananeiras.
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.
Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus.

De Alguma poesia (1930)
Carlos Drummond de Andrade

Parafraseando, ousadamente, Drummond, vejo nosso sistema educacional assim: "Uma Educaçãozinha Qualquer". Até quando, meu Deus?! 

domingo, 15 de dezembro de 2013

Férias

Estou de "Ferias" até fevereiro de 2014, ano da Copa. Devido à ela teremos um ano letivo atípico. Trabalharemos de fevereiro a meados de junho. Entraremos de "Férias Escolares" na segunda semana de junho, período do início dos jogos, e retornaremos em meados de julho.

Até o momento, as novidades para o ano letivo de 2014 são essas: mudanças no calendário escolar devido aos jogos da "Copa do Mundo"!

O Brasil continua em penúltimo lugar no ranking do "Pisa"? O que importa! Ninguém liga.

Alunos e professores estão desmotivados para ensinar/aprender? E daí!

Os alunos passam de um ano letivo para o outro sem aprender um décimo sequer do que deveriam... Catástrofe? Fecham-se as escolas? Reúnem-se os Secretários de Educação, o Ministro, os Teóricos do Ensino/aprendizagem? Os professores? os pais? os alunos?!

Procura-se saber quem é o responsável por tal descalabro?

Que nada! Estamos de Férias! Ano que vem a gente vê isso...

E assim...

"Um homem vai devagar
um cachorro vai devagar.

Devagar as janelas olham...
Êta vida besta meu Deus"...  Já dizia o poeta CDA.