quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Lúcia Monteiro Casasanta: A MESTRA MAIOR.

No dia 29 de maio de 2008 fez cem anos do nascimento de uma grande educadora mineira, a professora/doutora Lúcia Monteiro Casasanta.

D. Lúcia, como todos a chamávamos, foi uma das principais alfabetizadoras de Minas Gerais; defensora ferrenha de que se tivesse um método para alfabetizar as crianças em idade escolar e adepta do "Método Global de Contos".

Eu cheguei a conhecê-la, já velhinha, mas ainda atuando no Instituto de Educação de Minas Gerais, hoje UEMG (Universidade do Estado de Minas Gerais), quando lá fiz o Curso Normal e, em seguida, o Curso de Pedagogia concluído em 1975. Tenho um livro de sua autoria, de 1972, com uma dedicatória, dizendo textualmente: "À caríssima ...,

Contando com V. nas fileiras de frente no combate pela boa metodização da leitura.

Lúcia Casasanta.

Neste livro, intitulado "Métodos de Ensino de Leitura", D. Lúcia faz um apanhado minucioso da história da alfabetização no mundo; descreveu com detalhe cada método até então conhecido; explicitou os "prós e os contras" de cada um deles no ensino da leitura e da escrita e se posicionou a partir de argumentos muito bem elaborados e referendados pelas novidades científicas da época, em favor do "Método Global de Contos".

Logo na introdução do livro citado acima, ela afirma:

"Tenho para mim que idéias novas, propriamente ditas, não existem ou são raras.

Quando, porém, a Ciência destrinça os casos de nossa experiência comum, há que optar entre deixar que fiquem como se acham ou tentar levá-los adiante, a fim de que outros façam o mesmo.

Por isso propus-me compor as experiências que adquiri sobre o ensino da leitura desde a antiga Escola de Aperfeiçoamento, hoje, Curso de Pedagogia, no trato demorado com crianças em sala-de-aula, em pesquisas e experimentações, reportando-me com freqüência às lições de grandes mestres de outros países.

Poderá causar estranheza a pretensão de ter feito trabalho original.

Defendo-me com dizer que dois fatos contribuíram para isso: o ambiente em que se forjou, de permanente inquietação pela busca do fato científico e de seus fundamentos e o tempo que durou sua elaboração. Idéias surgiram, amadureceram e geraram outras idéias, ora dentro, ora fora da previsão científica.

Na verdade, muita coisa velha se fez nova".

Era o ano de 1972 e D. Lúcia, já em final de carreira, ainda lutava para convencer às pessoas militantes na educação, tanto quanto ela, da importância de se ter um método para ensinar a ler e a escrever, mas não qualquer método, um método com base científica de como se dá a aquisição da leitura, de como se dá o processamento do texto cognitivamente, pelo sujeito aprendiz.

Da para acreditar que ainda hoje, mais de 30 anos depois, o que mais se ouve nas escolas é a seguinte expressão: "Método de leitura?! Eu não sigo um método. Eu faço o meu método. Ou...Eu uso vários métodos! Eu uso o meu método!

Isso explica, a meu ver, o atual fracasso do ensino/aprendizagem da leitura e da escrita em nosso país.

Precisamos resgatar, urgentemente, os ensinamentos da grande mestra, Lúcia Monteiro Casasanta.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Professor e autonomia profissional

Nós, professores, somos formados pelas universidades, públicas ou particulares; é com essa formação que nos habilitamos para desenvolver o nosso ofício: dar aulas, ensinar, ministrar conteúdos, mediar aprendizagens, interagir com os alunos, desenvolver projetos segundo os interesses imediatos dos alunos; ensinar/aprender enquanto ensinamos. As denominações às ações do professor em sala de aula são variadas e abarcam, nelas mesmas, matizes ideológicos à escolha do frequês.
Na verdade, em sala de aula, somos múltiplos: professores, pais, mães, psicólogos, médicos, dentistas, babás,assistentes sociais, policiais e muito mais. Esperam e cobram tudo do professor!Ou seja, querem que façamos aquilo que foge ao nosso papel e somos cobrados por não termos competência técnica para tal, pois se nos fixamos somente nas funções para as quais fomos contratados, somos considerados omissos, conteudistas, egoístas, de pouca visão. Por outro lado, ora esperam que desempenhemos um papel, ora outro; ora querem que tenhamos determinadas atitudes, ora outras. Um exemplo interessante a esse respeito tem a ver com o uso de livros didáticos como recursos de ensino.
Houve um tempo em que esse uso era indiscriminado e todos contávamos com o aval das Faculdades de Educação. Num período seguinte, esse mesmo uso passou a ser criticado veementemente por essas mesmas Faculdades e, usar livro didático para dar aulas, passou a ser característica de professor acomodado, preguiçoso, sem criatividade.
Agora, vários trabalhos de pesquisas dos cursos de Mestrado e Doutorado das universidades brasileiras e, como não poderia deixar de ser, das estrangeiras também, pois são as que nos influenciam sempre, têm concluído, a partir de dados comparativos, pelo avanço pedagógico dos trabalhos desenvolvidos por professores que seguem os livros didáticos ao ministrarem suas aulas. Segundo relatos desses estudos, não só o uso do livro didático com os alunos tem se mostrado positivo, como melhor ainda tem sido o desempenho escolar dos alunos daquele professor que usa o mesmo livro didático por mais de um ano seguido.
É a teoria referendando a prática e aquilo que é óbvio, penso eu.
Um professor em dupla ou até mesmo tripla jornada de trabalho, não tem a menor condição de preparar textos, ilustrados ou não, estudos desses textos e atividades práticas a respeito, da mesma forma que os autores dos livros didáticos, têm.
Então, por que não usar os livros didáticos disponíveis em todas as escolas do país, adquiridos com o nosso dinheiro, dinheiro público, com a finalidade de oferecer recursos de trabalho aos professores e a partir da escolha desses mesmos professores?
No entanto, vale alertar: se esses livros são adequados ou não ao tipo de aluno que se tem, constitui-se numa outra grave e séria discussão, que se faz urgente!

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Resiliência

A resiliência é a capacidade de adaptação dos indivíduos às situações difíceis ou estressantes; é um conceito "roubado", pela psicopedagogia, de outras ciências, da Física, me parece. Meu primeiro contato com esta idéia foi num congresso internacional de educação do qual participei e assisti a uma palestra a respeito de um autor português que discorreu sobre o tema.
Segundo esse autor, resiliência não é motivação para; não é algo que surge de dentro do indivíduo e o ajuda nas conquistas sejam elas quais forem, mas sim tem a ver com encorajamento, que é algo de fora para dentro; do outro para o sujeito.
Aplicando tal conceito às situações de sala de aula, por exemplo, compete ao professor encorajar o aluno a estudar, a fazer os trabalhos escolares, a utilizar o tempo de estudo da melhor forma possível, mesmo sob condições adversas. O próprio professor se torna resiliente quando consegue - grosso modo - transformar um limão em limonada. Será?!
Fico pensando nas minhas condições de trabalho: sala apertada, calorenta, sem visibilidade no quadro de giz, por causa dos reflexos de ambos os lados; mal ventilada; carteiras que só podem ser dispostas de um único jeito - em dupla e uma atrás da outra - ; murais laterais sem disponibilidade para uso, são insuficientes, por serem divididos entre duas professoras que usam a mesma sala; 29 alunos de idades variadas; livros didáticos inadequados ao nível de conhecimento deles; famílias que não podem, não sabem ou não querem assumir as suas responsabilidades para com os filhos; escola desorganizada pedagogicamente e... Eu, professora extremamente desencorajada com tudo isso, não sei mais o que fazer. Durante um dia escolar são tantos os conflitos e as interferências que surgem e precisam ser resolvidas! Ao final das contas, aula, aula, aula mesmo, aquela que foi pensada, planejada, preparada e até, na expectativa dos alunos deveria acontecer, pela seqüência normal dos trabalhos, acaba não acontecendo. Dá uma sensação de nada feito, de trabalho inútil, de frustração.
Fico me perguntando: voltar no dia seguinte, tentar novamente, tirar ânimo do fundo da alma, pensar em novas formas de intervenção pedagógica junto aos alunos é ser resiliente? E isso é bom?!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Papel e Figurino

A escola é o reflexo da sociedade. Esta é uma afirmativa tão repetida que já virou clichê. Todo aquele que trabalha ou já trabalhou em uma escola percebe o quanto é real esta idéia, para o bem e para o mal. O cotidiano escolar constitui-se dos atos das pessoas que por ali circulam e todas elas refletem, nos seus atos e palavras, o mundo que as constituíram.

Todos os dias chegam, às vezes com toda a força, às vezes devagarzinho, às vezes sutilmente, as ondas dos fatos sociais em evidência . Elas invadem a escola, sem pedir licença, e podem causar danos ou benefícios dependendo de como são acolhidas e transformadas em conhecimentos organizados e sistematizados.

Estamos num período eleitoral, vários municípios vivenciam as campanhas do 2º turno. Os candidatos se expõem e são expostos na rádio, na TV e nas propagandas de rua. Não há quem fique alheio a esse movimento seja a criança em idade escolar, sejam os adultos. De um jeito ou de outro participamos e tomamos partido. Nessa altura do campeonato, poucos continuam indecisos ou "em cima do muro".

Na escola não é diferente e o conteúdo "eleição" acaba sendo escolarizado. Porém, esse é um tema espinhoso, porque envolve a responsabilidade dos profissionais da escola com a informação correta e não tendenciosa, a análise imparcial das propostas dos candidatos, a discussão do tema com os alunos a partir de todas as informações possíveis, de ambos os lados. Envolve, enfim, ética, respeito e democracia.

Sendo dessa forma, a escola "cresce" e todos aprendemos um pouco mais a respeito da arte e da beleza de se praticar a democracia.

Sendo o contrário, se o tema for tratado, pela escola, de forma inconseqüente e/ou tendenciosa, provoca em quem participa e se preocupa com a seriedade do fato, uma sensação de desconforto. É como vestir um figurino inadequado ao papel que se representa naquele local.

O que fazer se a você for dado o papel de mero espectador? Omitir, denunciar, ou se sentir um "zero à esquerda"?

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Escola Desconectada II

Hoje, à entrada do 1º turno, ouvi um comentário na sala dos professores de que teríamos a simulação de um debate eleitoral entre os "candidatos-alunos" de uma das turmas da escola; cada um se fazendo passar pelos respectivos candidatos oficiais à Prefeitura de Belo Horizonte. Tudo bem, é legítimo, é válido pois estamos no "clima" de eleição e os alunos envolvidos nele.
Porém são crianças e pré-adolescentes e, por isso mesmo, deveriam ter sido trabalhados previamente, para o evento em si, a partir de discussões em sala de aula, a respeito da vida pregressa dos candidatos e principalmente a respeito das responsabilidades das pessoas que assumem a função pública de Prefeito.
Nada disso foi feito, a possibilidade do "debate" sugiu de afogadilho, de improviso, sem planejamento, sem organização, sem combinar com as outras turmas e sem pedir a participação de todos nessa organização.
Ficou determinado que o debate aconteceria hoje, às 10h20min, bem no horário da aula de Educação Física da minha turma e da turma de uma outra professora.
Não deu outra, reclamação e choradeira dos alunos das duas turmas que não queriam, de forma alguma, ceder o horário e o local da aula de Ed. Física, para a realização do debate. Num primeiro momento reclaram comigo e à hora do recreio fizeram a mesma reclamação com a Diretora da Escola.
A Coordenação Pedagógica, então, propôs uma alternativa de uso de um outro espaço e da divisão do debate em duas etapas: uma que aconteceu hoje para os alunos menores e outra que será amanhã para os alunos de 11/12 anos.
Todos contentes, o debate de hoje transcorreu bem com a participação animada dos alunos e torcidas ferrenhas para ambos os candidatos...
Na prática, meus alunos fizeram valer a política da conversa, do acordo, do consenso e, em síntese, viveram, mesmo sem nenhum planejamento prévio, a prática da democracia.
Pergunto, então: se sem planejamento, sem organização prévia, tudo correu bem, imagina o que poderíamos ter pensado e posto em prática, tendo um planejamento coletivo desse trabalho?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Escola Desconectada

Cheguei à escola e , como sempre, fui direto à minha sala, porque gosto de separar todo o material a ser utilizado nas aulas do dia, antes da chegada dos alunos. Estava curiosa também para observar as mudanças ocorridas com as plantinhas do "Terrário", (citado em outro post) durante a semana do recesso escolar. Qual não foi a minha surpresa, seguida de decepção, quando me deparei com um litro d'água colocado lá dentro, bem em cima de uma cova, onde plantamos a semente de jatobá. Ela ainda não tinha germinado e por isso, entramos em recesso escolar curiosos , porque queríamos saber se aquele ambiente criado por nós, alunos e professora, estaria adequado à germinação de uma semente tão maior que as sementes de tomate e boca-de-leão plantadas, e já grandinhas, desde a semana passada.
Embora tivéssemos tido o cuidado de deixar uma placa informando do objetivo do terrário e pedindo para que ele não fosse tocado, não foi o suficiente. Alguém, talvez até bem intencionado, retirou a cobertura em plástico-filme, da parte superior do terrário e introduziu dentro dele um elemento estranho às observações que já tínhamos começado a fazer.
Fiquei pensando... Quando uma escola não se organiza pedagogicamente, não conecta todos os seus profissionais (professores ou não) às suas metas educacionais, aos seus projetos pedagógicos ou projetos de trabalhos, possibilita esse tipo de acontecimento narrado acima. Isso porque favorece a que cada profissional desenvolva ali suas atividades sem o devido conhecimento daquilo que está sendo trabalhado pelos outros profissionais; e se ninguém conhece o trabalho do outro, cria-se, assim, uma situação de distanciamento dos objetivos pedagógicos gerais e/ou de cada um. Então tudo fica mais difícil, porque mesmo com a intenção de ajudar, se a pessoa desconhece o por quê das atividades em desenvolvimento, pode interferir de forma negativa ou, pior ainda, pode nem valorizar o trabalho que está sendo desenvolvido em cada sala de aula.
Uma escola assim nos remete à idéia de um arquipélago; cada sala de aula é uma ilha e sem nenhuma ligação com as outras que compõem o mesmo ambiente.

sábado, 18 de outubro de 2008

O Terrário

Após o recesso escolar retorno 2ª feira à sala de aula; teremos aulas até 16 de dezembro e encerraremos este ano letivo. Serão praticamente mais 50 dias de aula! Pouquíssimos dias para uma enormidade de conteúdos a serem trabalhados... Como já disse anteriormente, trabalho com livros didáticos e gosto dessa prática embora saiba que muitos da tribo preferem "fabricar" seus recursos pedagógicos, textos principalmente, selecionando-os de outras fontes.
Como não quero inventar a roda todos os dias e não sou especilista de todas as matérias que leciono faço uso dos livros didáticos da melhor forma que posso.
No semestre passado, estudamos várias unidades sobre os seres vivos, as relações existentes entre eles, seus ecossistemas, preservação do meio ambiente dentre diversos outros conceitos pertinentes à área das Ciências Naturais ou da Natureza. Ao final dessa unidade o autor do livro didático adotado por mim, sugere a construção de um "Terrário", para ficar exposto em sala e servir de meio a observação do desenvolvimento da vida ali naquele ambiente artificial, posto que criado por nós, no caso, meus alunos e eu.
Arranjei uma forma de todos participarem dessa construção; seguindo a orientação dada pelo autor do livro, listei as várias tarefas e os vários materiais necessários à feitura do terrário; dividi estas tarefas entre os alunos mediante sorteio; dessa forma todos puderam contribuir com alguma coisa; a mim, coube levar para a escola um recipiente de vidro, em boas condições, de um velho aquário desativado em minha casa e que fora do meu filho mais velho; levei também os materiais mais difíceis de os alunos conseguirem por eles mesmos; no mais, cada um pode levar das sementes a serem plantadas ao paninho e detergente líquido para a limpeza do recipiente, antes da montagem do terrário.
Assim, na seqüência sugerida pelo autor do LD (livro didático), cada dupla de aluno sorteada foi executando a sua tarefa até o final quando cobrimos tudo com o papel filme, última etapa da construção. Deixamos ali plantadas sementes de: tomate, boca-de-leão, capitão, jatobá, pinheiro brasileiro e cravo-rosa (ao todo três espécies de plantas de pequeno porte e duas de grande porte; sementes grandes e sementes pequenas, miúdas). Deixamos o terrário na janela da sala, sobre uma banqueta de cimento, onde recebe a luz do sol, logo no comecinho da manhã. Os alunos ficaram muito entusiasmados com essa atividade, orgulhosos mesmo! Uma semana depois, puderam ver, com alegria, que as primeiras sementes começavam a germinar, as de tomate. Foi uma vibração total. Várias observações surgiam espentaneamente: fessôra, por que que tá molhado! Parece que o vidro tá suando! Antes mesmo que eu começasse a responder um outro já tomava a minha frente e dizia: "Oh! Sô. Num tá veno que o sol esquentou a água que tá lá no potinho que nóis dexou lá dentro! Então, ela virou vapor e num saiu porque tá tudo tampado! É assim que vai ficar, tudo molhado e a gente num precisa jogá água nas semente plantada!
Pois é, estamos observando semanalmente, (diariamente por que todos os dias a primeira coisa que eles fazem é observar o terrário) mas é semanalmente que fazemos observações dirigidas por mim e concomitantemente vou escrevendo no quadro e todos copiam em seus cadernos de Ciências, o resultado da observação: o que mudou, qual planta já germinou, o que está acontecendo com a água deixada no meio do terrário em um potinho de plástico, etc.
Segunda-feira, tenho certeza, a primeira coisa que farão ao entrar para a sala, será correr para o terrário e ver o que aconteceu às plantinhas que já estavam bem grandinhas quando entramos em recesso escolar, mas nem todas tinham germinado ainda. Será que as sementes de jatobá, de capitão e de pinheiro-brasileiro irão germinar? Eu também estou curiosa...

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O primeiro interlocutor

Faço questão de repercutir, nesse espaço, o primeiro comentário recebido a respeito das postagens que tenho feito até o momento. Isto porque sinto nele o pulsar inicial de uma rede de interlocuções e, a partir dela, o iniciar de idéias e ações em favor do que é urgente fazer, a meu ver, pela educação pública (no meu caso) e pela saúde pública, no caso dele - Leonardo, médico recém-formado e, por coincidência, atendendo à mesma população que eu, na Região do Barreiro.

Leonardo faz constações, no atendimento aos seus pacientes, semelhantes às que venho observando, no meu tempo de trabalho em escola da mesma região.

A primeira delas é que os alunos mais novos demonstram gostar e esperar mais da escola do que os mais velhos, que na medida em que crescem se desiludem com a escola e passam a vê-la somente como lugar para merendar. Por que será?

Outro aspecto ressaltado por ele e que eu também percebo diz respeito à desestruturação das famílias das crianças e/ou adolescentes atendidas.
Todos sabemos que o conceito de família mudou muito e são várias as situações relacionais vividas pelas crianças e adolescentes atuais. Porém, quando falamos da desagregação familiar, não estamos fazendo nenhum juízo de valor à essa ou àquela família, seja a tradicional pai, mãe e filhos; ou, mãe solteira cuidando do filho e vice-versa, ou crianças sendo cuidadas por avós, tios, primos ou vizinhos... O problema maior é o do abandono afetivo dessas crianças e adolescentes, abandono esse muito maior e mais danoso do que as outras carências experimentadas por elas/eles.

A minha preocupação, e Leonardo expressa isso também no comentário que fez, é com a falta de perspectiva de futuro que essas crianças/adolescentes demonstram ter; são meninos e meninas num começo de vida sem sonhos. Quando pergunto a eles o que desejam como profissão a resposta que trazem na ponta da língua é a de ser jogador de futebol os meninos e as meninas "ser modelo" algumas e a maioria nem resposta tem. Um outro fator que me intriga muito é o de perceber neles a satisfação com o que já alcançaram em termos de aprendizagem. Para eles saber decifrar o texto já é leitura e escrever algumas palavras ou frases, por mais simples que sejam, já está bom demais. Não querem e não esperam mais do que isso da escola. Penso que aí está refletida uma característica da sociedade brasileira: a de não valorizar a educação formal. Por isso, as frases repetidas à exaustão: "escola é chato"; "estudar não vale a pena"; fulano não estudou e nem por isso morreu de fome" etc, etc, etc.
Daí a necessidade, a meu ver, de um envolvimento total de todos nós numa super valorização da escola: de acolhimento, de interesse pelo que acontece nas salas de aula, de "glamourização" do ato de estudar, de tornar a escola visível. Quem sabe, dessa forma, os pais não se interessariam mais pelo estudo dos filhos, não se sentiriam orgulhosos do sucesso deles - como no "Soletrando" do Luciano Ruck, por exemplo! Seria mais ou menos assim: "Minha escola está na Globo, logo ela existe e eu existo também"!

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Quais são os seus referenciais teóricos?

Recentemente fui instigada a responder à questão do título acima e confesso que fiquei meio embasbacada. Não que eu não tenha uma base teórica ou uma informação teórica a respeito da minha profissão. O próprio fato de eu ser graduada já é indício de algum referencial teórico visto que todo curso de graduação é formatado a partir das teorias nacionais e estrangeiras , pilares das aulas a serem ministradas pelos mestres/doutores , das respectivas disciplinas do curso.
Porém, penso que todos nós, profissionais da educação ou não, somos um todo teórico formados por partes das diversas teorias que nos formaram e nos formam ao longo dos nossos estudos acadêmicos ou não. A vida, a prática, a experiência também nos forma. Nesse sentido, somos polifônicos. Nos caracterizamos profissionalmente a partir dos diversos autores dos dicursos e dos textos lidos e/ou ouvidos enquanto nos fazemos profissionais e na prática do nosso ofício.
Sendo assim, nós professores podemos nos dizer "paulofreirianos", "magdarianas", "marcuschirianos", "casasantariana", (professora/autora alfabetizadora que respeito muito pelo que produziu teoricamente para o ensino da leitura e da escrita, enquanto viveu) dentre outros. Cito alguns autores nacionais sabendo que todos eles "beberam" em fontes estrangeiras e se constituíram teoricamente nelas.
O que eu quero dizer, no entanto, é que cada professor certamente tem a sua teoria educacional construída a partir da sua vida acadêmica e, posteriormente, segundo o seu local de trabalho e conforme as oportunidades que tem na formação continuada. Enquanto estudamos e quando já estamos no exercício da nossa função lemos vários autores; geralmente os autores "da moda" tornam-se modelos de reflexão sobre a nossa prática, mas nem todos seguimos uma linha única de pensamento. Eu prefiro ser eclética. Leio os autores que tenho a oportunidade de ler e me dou o direito de me transformar e/ou transformar a minha prática em função de tais ou quais teorias de ensino ou educacionais estudadas.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Livro didático,você usa?

Sou do tempo em que os alunos das escolas públicas não podiam comprar ( e ainda não podem) toda a lista do material didático a ser usado por eles e entregues pelas escolas aos seus pais, ao final do ano letivo, no ato da renovação da matrícula. Essas listas continham não só o número de cadernos necessários aos estudos, como também a quantidade de lápis de cor e de escrever, régua, borracha, transferidor,apontador, cola, tesoura sem ponta e os livros didáticos de cada matéria: geralmente o livro de Português, o de Matemática, o de Ciências, o de Geografia e o de História. Estou falando das turmas do ensino fundamental, 1ª à 8ª séries.
Algumas escolas pediam também um dicionário pequeno e um livro de literatura (título previamente escolhido conforme a faixa etária do aluno e o gosto da professora). Ah! Os livros didáticos eram escolhidos pelos professores! Após as férias de julho, as editoras de livros didáticos, interessadas em vender seus livros, visitavam as escolas, deixavam exemplares dos diversos autores, para serem analisados pelos professores. Eram livros de todas as diciplinas e de todas as séries. Recebíamos várias coleções de praticamente todas as editoras de Belo Horizonte e até de outros estados. Reuníamos, analisávamos todos os livros recebidos e escolhíamos aqueles que achávamos serem mais adequados aos nossos alunos, pois estavam de acordo com o seu nível de aprendizado; com os livros de literatura era a mesma coisa; podíamos, assim, fazer uma seqüência mais natural de trabalho, pois sabíamos que esse ou aquele livro didático, da editora tal ou qual, nos atenderia perfeitamente. Nós,invariavelmente, recebíamos treinamento, por parte das editoras, para o trabalho a ser desenvolvido com o livro escolhido.
Atualmente os alunos recebem todos os livros didáticos e um "Kit" de material escolar, do governo federal e municipal. O trabalho da escolha dos livros didáticos e de literatura a serem utilizados com os alunos saiu das mãos dos professores. Existe uma comissão governamental que faz isso por nós. Assim que recebemos a lista de livros a serem "escolhidos" sabemos de antemão que os mesmos já passaram por um crivo dos especialistas do governo. E os livros de literatura? Esses vão diretamente, na forma de um "Kit", para as mãos dos alunos. O professor sequer é informado a respeito das obras enviadas ou recebe também o seu pacote, para então desenvolver o trabalho literário, ao longo do ano letivo, com os alunos.
Quais são as conseqüências disso, então? Recebemos livros que não conhecemos previamente, que não folheamos, que só soubemos deles através de uma resenha e de uma classificação feitas pela comissão citada. Assim, no momento mesmo do trabalho com o aluno, é que tomamos conhecimento do conteúdo do livro "escolhido" e é aí que sentimos a inadequação do mesmo, para o tipo de aluno que temos. Só nos resta, então, fazer adaptações, complementar com outros materiais; se textos, geralmente xerocados, ou, pior ainda, simplesmente deixar o livro de lado, por inadequado que é... E haja desperdício do dinheiro público!
Penso que caso os senhores deputados e senadores queiram fazer uma inspeção nas escolas uma "CPI do uso do livro didático" ficarão estarrecidos ao se depararem com pacotes e pacotes fechados de livros novinhos e jogados pelos cantos das escolas públicas de todo o país.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Especialista ou Generalista?

Em fevereiro de 1995 a Rede Municipal de Ensino da Prefeitura de Belo Horizonte iniciou o ano letivo sob a égide da chamada "Escola Plural". Costumo dizer que "dormimos escola tradicional e acordamos escola plural". Deixamos de ser escola seriada e nos tornamos "escola por ciclos de formação"; deixamos de ter a reprovação ao final de cada série e passamos à promoção automática; deixamos de ter um currículo como referência para os planejamentos de ensino e passamos a nos guiar por "eixos temáticos"; deixamos de ter o supervisor pedagógico ou o coordenador pedagógico ( função exercida mediante concurso público) e passamos a ter o coordenador eleito por seus pares; deixamos de ser especialistas e nos tornamos generalistas. Todos nos tornamos professores alfabetizadores. Não "dávamos aulas", mas passamos a trabalhar com a "Pedagogia de Projetos" ; atendíamos aos interesses imediatos dos nossos alunos e assim "os conteúdos seriam trabalhados naturalmente", não importando o rumo que viessem a tomar.
Até então, na escola seriada, o ensino fundamental se subdividia em: 1ª à 4ª série - alunos de 7, 8, 9 e 10 anos; 5ª à 8ª série - alunos de 11, 12, 13 e 14 anos. Havia um regimento interno comum a todas as escolas da rede, que dentre outras coisas, previa a retenção do aluno ao final de cada série, caso não alcançasse um mínimo de 60% dos 100 pontos distribuídos ao longo do ano letivo, em avaliações formais e bimestrais.
Os professores eram contratados mediante um concurso público específico para cada etapa do ensino (1ª à 4ª séries, professores denominados P1, formados no ensino médio, Curso Normal); (5ª à 8ª séries, professores concursados, denominados P2, com habilitação específica para a sua área de ensino: graduados em Matemática, em Letras, em Geografia, em História e/ou Biologia) para trabalhar respectivamente as disciplinas afins.
Com o advento da "Escola Plural", tudo isso mudou. Houve a isonomia salarial e a divisão do ensino fundamental em "Ciclos de Formação". Assim, alunos de 6,7,8 e 9 anos - 1º ciclo, alunos de 9,10,11/12 anos, 2º ciclo, alunos de 12,13,14/15 anos 3º ciclo. Ao se transformar a seriação em ciclos de formação instituiu-se também uma espécie de limbo para os alunos da antiga 5ª série; eles passaram a ser denominados de pré-adolescentes do final do 2º ciclo e, dependendo da escola em que estudavam/estudam, ora eram/são alunos de professores especialistas, ora alunos de professores generalistas. Na escola onde trabalho, eles são atendidos pelo antigo professor P1, hoje "Professor Municipal", graduado, concursado, mas não especialista na disciplina de ensino. Geralmente são formados em Pedagogia, ou em Letras; poucos em Matemática; pouquíssimos em Biologia, por exemplo.
Eu sou um exemplo claro dessa situação. Minha formação é em Pedagogia e em Letras. Trabalho com alunos da antiga 5ª série e ministro aulas, para essa turma de: Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História e Ciências. Adoto os livros didáticos específicos para os alunos de 5ª série (os livros vêm com essa terminologia porque não existem "livros específicos para ciclos de formação").
Sinto dificuldade em trabalhar os conteúdos para os quais não tenho uma formação específica. É evidente o quanto o trabalho fica superficial, mesmo seguindo o livro didático, quase que como uma "Bíblia". Meu foco, então, dada a minha formação, é em leitura e compreensão destes textos, mas o aprofundamento no estudo de cada conteúdo de ensino ou até mesmo a exploração minuciosa do que propõem os autores dos livros didáticos adotados fica prejudicada pela falta do conhecimento específico da disciplina, que não tenho.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Como na Teoria do Caos

Estou um tanto inspirada hoje. Trabalhei com minha turma pela manhã e como sempre, nada os convence da necessidade de se ter comportamentos adequados às situações vivenciadas em sala de aula e/ou fora dela. Hoje em dia não existe mais aquela história de que o professor fala e os alunos ouvem submissos, apáticos e sem opinião própria. Ao contrário, toda e qualquer aula constitui-se de uma infindável polifonia, querendo o professor ou não. Não existe mais o monólogo. Os alunos assaltam os turnos de fala, tanto do professor quanto dos colegas, dão opinião a respeito de qualquer assunto mesmo que não dominem nada, nada, nada a respeito. Eles querem falar; muitas vezes "pelos cotovelos", mas querem falar. E como falam!
Minha maior dificuldade com eles reside em conseguir ao menos introduzir os assuntos das aulas do dia e estabelecer com os mesmos a melhor forma de desenvolver cada um dos tópicos previstos.
Diariamente o mesmo ritual se repete: subo com a turma da quadra para a sala de aula; dou passagem a todos; eles entram e já encontram as carteiras organizadas em duplas; cada um procura o seu lugar; cumprimento-os e recebo de volta um fraco "Bom dia"; sinto-me transparente; espero alguns minutos para que percebam a minha ínfima presença ali; em vão; se conversando entraram, conversando continuam; escrevo o nome da disciplina a ser trabalhada no quadro e a data do dia; nem assim eles se ligam; olho; espero; espero... Finalmente altero a voz e dou um outro bom dia mais alto, mais vibrante e... Nada. Resolvo ir de carteira em carteira: fulaninho, tire o seu caderno de História, vou precisar do livro também, viu? Ih! Fessôra! Esqueci o livro! Ou, não fiz o "Para Casa"... E a turma continua fingindo não perceber minha presença. Começo a aula assim mesmo, pois o tempo passa e o relógio não espera ninguém. Falo mais alto e obtenho uns segundos da atenção deles. Introduzo a aula nesse vácuo de atenção e conto com a participação de todos. A esperança não morre!
Assim, entre conversas e conversas; conversas entre eles e sem nenhuma relação com a aula; conversas entre mim e os poucos interessados; conversas que de repente tomam rumos inesperados , surgidas de perguntas a queima-roupa vindas do fundo da sala de alguém que eu sequer percebera que prestava atenção é que se inicia e se termina mais um dia de aula...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Educação Formal: Chamada de Capa

Ando pensando bastante a respeito da pouca importância que se dá à educação escolar em nossa sociedade, e isso, infelizmente, desde que o Brasil é Brasil. Ao ler recentemente a obra do professor Lourenço Filho "Tendências da Educação Brasileira" pude confirmar tal característica nossa. Não ligar a mínima para o que diz respeito à Educação Formal e em particular ao que acontece diariamente nas salas de aula brasileiras. É como se todos disséssemos ao mesmo tempo: isso não é problema meu. Mas como não é problema meu se de uma forma ou de outra estou envolvido com o que acontece nesses espaços? E nossos filhos que estão lá; e nossos vizinhos; e nossos parentes; e nossos conhecidos, e nós, brasileiros estudantes?
Todos os dias uma população imensa de crianças, pré-adolescentes, adolescentes e adultos (professores e funcionários das escolas) envolvem-se numa relação direta, frente a frente: uns tentando aprender e outros tentando ensinar e/ou aprender também.
Quais são as dificuldades desses sujeitos no desempenho dos seus respectivos papéis? Creio que devemos nos perguntar seriamente.
No campo da Educação Formal, nosso país, a meu ver, ainda não encontrou a sua identidade. Desde os tempos coloniais importamos métodos e técnicas de ensino, porque não fomos capazes de desenvolver as metodologias de ensino/aprendizagem que refletissem as nossas necessidades filosóficas, políticas, étnicas e econômicas; regionais e/ou nacionais. Ora trabalhamos com os modelos americanos, ora espanhóis ou franceses, portugueses ou mesmo argentinos, vide o auge do "Construtivismo" de Emília Ferreiro.
Quando teremos a graça de ver, ou de ler, estampados nos jornais ou nas telas da televisão chamadas do tipo: "Conheça o trabalho em leitura da escola "Fulana de Tal" da periferia de... Ou "Assista hoje, às 21 horas, a entrevista da professora "Margarida" sobre a melhor forma de incentivar o seu filho a fazer o "Para Casa"! Ou, "Prepare-se para as avaliações de Leitura! Torne-se um super-aluno nas quatro operações" etc, etc, etc. Estamos precisando dessa virada, não é mesmo? É preciso "banalizar" a Educação Formal, para que ela passe a significar mais para todos nós, brasileiros.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

"Para Casa" - o que fazer?

Hoje minha turma estava impossível! É impressionante o quanto eles chegam dispersos, cansados, sonados, desmotivados às segundas feiras. Deve ser cultural mesmo esta história de ninguém gostar das segundas feiras. Meus alunos também não gostam. É o dia da semana em que eles rendem menos e se mostram mais indispostos. Por que será? Deveria concluir com eles um trabalho de História da semana passada. Não consegui. Também não foi possível fazer a leitura de lendas das regiões brasileiras e o reconto delas pelos alunos, aos colegas. Promessa de sexta-feira passada de continuarmos esses trabalhos. Não conseguimos levar adiante. Embora eles tivessem me cobrado a continuidade do mesmo e eu quisesse fazê-lo, alguns alunos, os mais agitados e dispersos, conseguiram atrapalhar a iniciativa e o desejo meu e dos outros.
O que fizemos, então, nas três horas e meia em que estivemos juntos?
Participamos da "Hora Cívica" no pátio interno da escola com as outras turmas - faz-se uma oração; (coordenada pela vice-diretora da escola) ouve-se e canta-se o "Hino Nacional Brasileiro" diante das três bandeiras oficiais assim distribuídas, da esquerda para a direita: Bandeira da Escola, Bandeira do Brasil e Bandeira de Minas Gerais. Após essa atividade fomos para a sala de aula, às 7h15min, para a nossa primeira aula: História - O Povoamento da América. Após o recreio terminamos uma atividade de Matemática (Sistema Decimal), fizemos uns dois exercícios sobre "Fatoração de Números Primos" e iniciei uma nova unidade de "Língua Portuguesa"- leitura silenciosa e em voz alta de uma crônica. Marquei como tarefa de casa a leitura em voz alta do texto, a listagem de palavras para pesquisa em dicionário e a listagem de adjetivos cujo estudo daremos continuidade, amanhã. Espero que façam, porque o meu problema com a execução por eles do "Para Casa" tem sido enorme. Eles não o fazem.
História, por exemplo, já citada acima. Desde a semana passada, após a leitura dos textos, discussão dos assuntos do capítulo, análise das ilustrações deste, marquei, como tarefa de casa, fazer as atividades escritas propostas ao final do capítulo. Não houve o menor interesse da turma por este trabalho. Dos vinte e nove alunos somente cinco o fizeram e de forma incompleta. Essa é uma constante na turma. Não fazer as atividades de "Para Casa". O interessante é que já tive várias conversas, tanto com os alunos quanto com os seus pais a respeito do "Para Casa". Todos dizem valorizar essa atividade de estudo, cobram quando deixo de marcar tarefas extra classe, mas não são responsáveis na sua execução. As desculpas vão desde o "esqueci", "tive que ajudar minha mãe", até o "não soube fazer" .
Eu é quem não sabe mais o que fazer. Cobrar energicamente? Parar de organizar essas tarefas? Conversar mais uma vez com alunos e pais a respeito? Insistir e continuar insentivando os que não se interessam, pra ver se eles pegam o gosto pela coisa? Aceito sugestões.

sábado, 4 de outubro de 2008

Quando o elogio faz a diferença

A turma com a qual trabalho atualmente é formada por meninos e meninas de 11/12/13 anos de idade. Pré adolescentes, portanto, e, por isso mesmo, com todas as características desse período de vida. São agitados, inquietos, implicantes uns com os outros; capacidade de atenção, zero, mas são capazes de fazer mil coisas ao mesmo tempo: controlam quem está indo ao banheiro, percebem se um colega está olhando meio atravessado para o outro ou para si mesmos e isso já é motivo para abrir uma discussão, bem no meio de uma explicação, seja ela de que matéria for...
Tento levar tudo isso na boa, com paciência, mas professor também é gente e muitas vezes, dependendo da situação, perde a calma. Nesses momentos, chego à loucura! Da alteração do tom de voz a pedir aos mais agitados que se retirarem da sala, acontece de tudo um pouco e a sala de aula se transforma no retrato do caos absoluto.
Numa das reuniões de pais, relatei a eles essas dificuldades e combinamos, então, que eu faria um relato diário, através de bilhetes, do comportamento de cada um, durante a aula. Estabeleci duas formas de comunicação padronizada: uma de elogio e que levava a referência da cor verde; verde de " tudo bem", de "siga em frente", de "esperança" - "mudou o comportamento"! A outra, uma comunicação de crítica: comportamento não adequado, falta de atenção durante a aula, falta de registro das atividades ou de participação nos trabalhos individuais ou celetivos; a referência de cor é o amarelo; amarelo de "atenção"; de "pare e pense"; de "mude de comportamento enquanto é tempo"!
Os pais gostaram da idéia, os alunos também a aprovaram e é dessa forma que estou trabalhando atualmente o auto-controle deles - um trabalho imenso em se tratando de pré-adolescentes.
Porém, ao colocar em prática tal idéia, durante todo o dia escolar vou "negociando" com eles o comportamento mais adequado para cada situação de aula. Como sou professora, na mesma turma, de cinco disciplinas - Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História e Ciências - permaneço com os alunos, no mínimo, três horas e meia, por dia. Então, saio de uma aula de Matemática para uma aula de Língua Portuguesa, por exemplo. Na verdade, só trocamos de material didático, mas o cenário é o mesmo e as personagens, também. Por isso há a necessidade de estabelecer com os alunos qual é o melhor comportamento para a aula tal, ou qual. Por mais criativos que sejamos, nossos recursos são limitados porque ou usamos os textos dos livros didáticos, ou usamos o quadro de giz, ou vamos para a sala de vídeo, ou para a sala de informática, no fundo, no fundo, isso não importa muito... Na essência as ações tanto dos alunos quanto as dos professores são as mesmas: ver, ouvir/escrever e/ou falar, num espaço fechado e limitado. E, todos sabemos, o aluno dessa faixa etária quer sempre movimento, gritaria, brincadeira.
Estou dizendo tudo isso, para explicar o por quê "negociar" o tempo todo com o aluno qual é o comportamento mais adequado para cada situação de aula e ao mesmo tempo, dizer que entendo os motivos deles de se mostrarem tão inquietos.
Enfim, os tais bilhetes de "elogios" e os outros de "crítica" têm sido meus recursos atuais para conseguir de meus alunos um comportamento mais adequado em sala de aula. Resolvi, porém, ser mais generosa com os " bilhetes de elogios". O aluno precisa extrapolar muito todos os limites, os possíveis e os imagináveis para levar o bilhete de "crítica". Acontece que eu sei disso, mas eles não. Incentivo-os, o tempo todo, a conquistar, o bilhete de elogio, ao final do horário das aulas...
E sabe que tem dado muito certo? A cada dia que passa sinto-os mais tranqüilos, mais atentos, mais estudiosos, mais responsáveis. E como é bom ver os olhos brilhantes de cada um. Ver o sorriso largo no rosto deles, quando percebem que levarão aos pais mais um "BILHETE VERDE"!!!