sábado, 28 de abril de 2012

Economia Porca

Trabalhamos diariamente por três horas e meia na sala de aula e fazemos mais uma hora fora dela, porém no ambiente da escola. Essa uma hora é destinada a planejamento das aulas, correção de provas, trabalhos e exercícios dos alunos, organização do material didático a ser utilizado durante as aulas, atendimento personalizado aos alunos e aos seus pais, quando necessário.
Quem é do meio sabe que essa "uma hora diária de projeto" só funciona na teoria... Não que ela não seja necessária, ou, pior ainda, que ela não seja utilizada.
Ela é utilizada, é necessária e não é suficiente para o quanto precisa ser feito em função das necessidades dos alunos e do que caracteriza uma aula bem planejada.
Uma aula bem planejada demanda tempo, recursos, material de pesquisa, domínio do que se deseja, estrutura física, recursos de toda ordem, etc ...
Pois bem, nós, professores municipais de BH, depois de muita argumentação, conquistamos, novamente, o que a Lei já nos permitia: o tempo de projeto de uma hora por dia, fora da regência de sala, para o planejamento das próximas aulas.
Mas, tem sobrado para os professores referenciais da RME/BH, a correção das "Avaliações Sistêmicas", e até aí tudo bem, e a montagem da planilha com os dados estatísticos que irão alimentar os computadores da SMED.
Dito assim parece simples. Pode-se dizer: e daí, estão reclamando do quê?
Acontece que a avaliação sistêmica da PBH coincide com o período de avaliação trimestral da Rede. O mês de abril.
Então, descontando-se o período de elaboração, digitação, xerox e aplicação das provas trimestrais estamos envolvidas com essa questão "avaliação trimestral" desde o primeiro dia do mês de abril.
Na semana de 09 a 13 de abril, cada professora aplicou as ditas avaliações, na sua turma. O momento seguinte é o da correção, levantamento das notas alcançadas pelos alunos; levantamento do número de alunos que faltou no dia da prova; organização, com a Coordenação Pedagógica, de um local para que esses alunos (que são muitos) façam as suas avaliações; correção destas, levantamento das notas.
Etapa seguinte, lista dos alunos em "Recuperação".
Ficaram abaixo da média, têm o direito à "Recuperação Paralela" e, o processo em si da "Recuperação" dos alunos que ficaram abaixo do esperado.
Só então, parte-se para a etapa final do período avaliativo que é o lançamento dos dados dos alunos no sistema da INTRANET da PBH. Gera-se o boletim do aluno, marca-se a "Reunião de Pais e Professores' para a entrega dos resultados da primeira etapa de avaliações. Tudo isso, até o dia 11 de maio.
Tudo muito bem, tudo muito bom, se no meio desse caminho não estivessem as "Avaliações Sistêmicas" da PBH.
Elas nos chegaram às mãos para serem aplicadas nos dias 18,19 e 20 de abril. Avaliações diagnóstica?! em abril?! de Língua Portuguesa, Matemática e Ciências da Natureza. São 24  questões de múltipla escolha, num total de mais ou menos 10 páginas para cada disciplina...
Tudo bem, aplicamos, corrigimos, registramos o total de acertos de cada aluno, nas três disciplinas de estudo. E mais, colorimos de azul, numa planilha oferecida pela PBH, cada questão acertada pelo aluno, uma por uma.
Fazendo-se as contas do trabalho físico que isso demanda chega-se ao seguinte cálculo: são 3 x 30 provas num total de 90 provas e 3 x 24 questões, 72 questões. Estas são corrigidas uma primeira vez; numa segunda vez são olhadas novamente para se passar o total de acertos para a planilha; olha-se novamente, questão por questão, de aluno por aluno, para se colorir os acertos de cada um...
Quando pensamos que o trabalho estava terminado, no apagar das luzes, antes do recesso e feriado de maio, recebemos a notícia de que, dessa vez, deveríamos marcar também, para cada aluno, nas respectivas planilhas, a letra correspondente à questão errada que cada aluno marcou...
Como assim?! Já estamos fazendo um trabalho( e, consequentemente, desviando-nos do nosso foco) que interessa diretamente às estatísticas municipais sobre o desempenho escolar dos alunos da Rede... Num tempo exíguo!
Fico pensando. Por que  a PBH não contratou uma equipe para fazer esse trabalho mais mecânico de organização das planílhas e lançamento dos dados nos computadores do sistema?!Por que utilizar uma mão de obra, a dos professores, tão especializada, para fazer um trabalho puramente mecânico, que qualquer um pode fazer? Por que utilizar, pergunto novamente, a mão de obra dos professores, que nessa altura do campeonato, deveriam estar voltados para o planejamento e a organização da segunda etapa de ensino? Pensar na dinâmica das escolas da Rede é o mínimo que se espera de gestores realmente preocupados com a qualidade do ensino municipal... 

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Minha Tia e Professora

Fui alfabetizada por minha tia, irmã de meu pai, na década de 60. Era uma professora intuitiva: animada, criativa, segura do método de alfabetizar, alegre, responsável e feliz, muito feliz em sala de aula.
Lembro-me da Cartilha "Lili, Lalau e o Lobo". Lembro-me dos Contos Infantis: "O Patinho Feio", "Cinderela", "Soldadinhos de Chumbo" e tantos outros.
Tornei-me adulta e professora. Foi com minha tia, na escola onde ela trabalhava, que entrei pela primeira vez numa sala de aula, agora eu também, professora!
Trilhei outros caminhos na Educação; tornei-me Supervisora Pedagógica, Diretora e novamente Professora, meu cargo atual.
À época, foi com grande surpresa que recebi a notícia de que minha tia iria se aposentar. Tive pena dela e dos alunos... Como, tia! Você vai parar de trabalhar? Deixar de fazer algo de que você gosta tanto e faz tão bem... E ele calmamente respondeu-me:

_ Já não tenho mais tanta energia e não consigo mais interagir com meus alunos... Meu tempo passou.

Pois é! Meu tempo passou...
Essa foi mais uma das tantas lições que aprendi com ela, que soube parar no momento certo.
Eu também vou parar e vou parar antes que a minha energia e a minha saúde acabem de vez. Chegou a hora e o momento é agora. Deixo tudo: alegria, entusiasmo, vibração, realização pessoal e profissional, mas e sobretudo deixo a convicção de que um dia a educação brasileira terá a sua própria identidade e uma "cara" que reflita a alma dos brasileiros.  Ou será esse mais um um ledo engano?

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Ser professora

Ser professora nos dias atuais é estar sempre em crise de identidade. Que profissional sou eu? Tenho todas as competências para lidar com o aluno que me diz na "lata" que só vai à escola porque a família o obriga?
O professor tem que ser competente, dominar o conteúdo que vai lecionar, saber "ganhar" o aluno para a aula que será ministrada, mas como fazer isso? O que fazer com o aluno de 11/12 anos que olha pra você e lhe diz na cara que não vai fazer a atividade proposta; que não trouxe, pela enésima vez, o material de estudo; que não fez o "Para Casa" porque se esqueceu de fazer...
Como dar continuidade ao ensino de Matemática para o aluno do 6º ano que sequer domina os fatos fundamentais das quatro operações básicas. Como trabalhar os números racionais, as medidas, os gráficos e as tabelas, a geometria, o cálculo do perímetro e da área se o aluno não reconhece quantidades além das centenas? Como trabalhar a organização textual, a escrita coerente e coesa, com um padrão semântico e ortográfico razoável se o aluno, ainda na fase da silabação, jura de pés juntos pra você que já sabe ler e escrever e que não precisa estudar mais?
Como desenvolver os conceitos geográficos, históricos e científicos com o aluno que lhe faz se sentir transparente em sala de aula, que não lhe dá a chance de introduzir os assuntos a serem estudados? Como fazer uma aula dialogada com o aluno que não dá a mínima para o tema em discussão, qualquer que seja ele? E a leitura? Pesquisa recente confirma que o brasileiro de qualquer nível social lê pouco, quando muito, dois livros por ano... O que fazer? Ler para o aluno, ele não ouve. Ler com o aluno, ele lhe deixa lendo sozinha. Ler coletivamente, metade lê e a outra metade voa, não participa. Incentivá-los a ler individualmente é pregar no deserto... O que fazer? Como sair dessa inércia?