sexta-feira, 22 de julho de 2011

Vida Interrompida

A professora Marildes Marinho partiu de forma trágica. Não por escolha, mas por ter sido escolhida sabe-se lá por que motivo. Deixou família, filhos, marido, amigos, alunos e ex-alunos, pesquisa, casa, desejos, planos...
Talvez não tenha sofrido, sequer tenha pressentido a morte iminente. Talvez tenha se preocupado com a situação, com os bandidos, com o marido, mas nada disso importa. Importa, isso sim, a estupidez do fato em si. Sua vida lhe foi roubada e isso é infinitamente mais do que os míseros trocados desejados pelos ladrões. Morrer é natural, faz parte do ciclo e da condição do ser vivo, mas há morte e morte. Há a morte esperada, há a morte inevitável, há até a morte desejada. Porém a morte estúpida, que vem devido a um acidente e mais ainda um acidente que se apresenta em função de uma característica social, de uma ação de violência de um ser humano contra o outro, ah, essa morte é incompreensível, inaceitável, mas cruelmente real e doída, muito doída.
Não conheci a professora Marildes, apenas tive contatos esporádicos com ela e em situações diversas. A primeira delas, eu sendo entrevistada, por uma banca de doutoras da Faculdade de Educação e da qual ela fazia parte. À época, apresentava-lhes o meu projeto de pesquisa, na etapa final em que concorria a uma vaga ao mestrado da FAE/UFMG. Tempos depois, estive com ela numa situação social, em um almoço de aniversário, na casa de amigos comuns. Conversamos sobre escola, educação, prá variar. Ela muito simpática e solícita. Não mais a vi, como era de se esperar, até que no início desta semana fui surpreendida pela notícia de sua morte tão trágica. Que pena!
Vive-se uma vida inteira de estudo, de preocupação social, de esforço para compreender o ser humano na sua cultura, no seu falar, na sua expressão mais profunda... Quanto de estudo e de sabedoria se foi com ela, quanto de pesquisa, de trabalho, de energia, de ideias, de atos, de amizade, de solidariedade, de vida se perdeu nesse ato tresloucado e insano de bandidos para os quais o que interessa mesmo é "quem nós vai pegar, hoje, heim, mano?!...