quarta-feira, 24 de março de 2010

Autocontrole e desejo

Uma das tarefas mais difíceis de todo e qualquer professor é a de estabelecer com seus alunos uma convivência harmônica e favorável aos atos de estudar/aprender. Comumente vários e preciosos momentos, que deveriam estar canalizados para o estudo, são gastos no convencimento do outro (aluno) de que o estudo/aprendizagem requerem interesse, persistência, foco, atenção, trabalho, em suma, disciplina.

Não a disciplina do submisso, do conformado, do ingênuo, daquele que a tudo vê e ouve e a nada questiona, mas a disciplina daquele que sabe o que quer, sabe o que busca para a sua vida e compreende que parte dessa busca está agregada ao seu comportamento em relação ao esforço empregado nessa busca.

Há crianças de seis, sete anos que chegam à escola totalmente esclarecidas sobre o que vão encontrar ali. Quando lhes perguntamos, nos primeiros contatos, o que se faz em uma escola, respondem de pronto que é aprender a ler e a escrever. Outras, no entanto, rejeitam o papel de estudantes até às últimas consequências.

 Deixam claro, já nos primeiros encontros com os professores e colegas de que estão ali, porque são obrigados pelas famílias e dizem literalmente: "estou aqui porque minha mãe me obriga"; "eu odeio estudar"; "minha mãe não estudou e ganha muito dinheiro, por que eu tenho que estudar? Esta foi uma afirmação e uma pergunta feitas a mim muito recentemente.

Estudar, conhecer melhor o mundo onde se vive; conhecer o funcionemento da sociedade; interessar-se pela origem do ser humano, do mundo, do universo... Enfim, nem sempre esses assuntos e/ou conteúdos escolares fazem parte do universo de interesse de boa parte dos alunos que frequentam as escolas.

Qualquer atividade proposta a esse tipo de aluno esbarra na armadura do seu interesse por elas. Se deixados a vontade, fazem da escola e/ou da sala de aula um lugar para a gritaria insana, para a  correria sem limite e objetivo, para a agressão gratuita ao outro (colega, professor, funcionário) e para o não fazer nada além dessas atitudes citadas.

Não gostam de ler, ou melhor de estudar um texto na sua profundidade para extrair dele informação, conhecimento, ou o prazer da descoberta de um outro mundo, via leitura.

Geralmente esses alunos demonstram claramente que já estão satisfeitos com o fato de terem aprendido a decodificar um texto, pensam que ler é somente decifrar  palavras. E, se rejeitam a leitura mais atenta e profunda de um texto, a escrita, então, vira um "Deus-nos-acuda"!

Para eles a escrita ortográfica inexiste, a legibilidade da letra e do texto nem pensar e refazer um exercício marcado pelas observações da professora, uma ofensa: "já fiz, pronto, prá que fazer de novo; num vô fazê, não"! "Faz você"! Fecham a cara, fitam a professora desafiadoramente, cruzam os braços e não refazem o trabalho de jeito nenhum.

Outros "esquecem" o material de uso em sala de aula, em casa. E quando é assim, ficam o tempo todo da aula sem o livro, sem o caderno, sem o lápis, sem nada... Perturbam a todos.

Os alunos motivados e interessados pelos estudos ficam prejudicados, porque a aula não rende, não sai do lugar e todos ao final de alguns momentos de "luta verbal" já estão completamente estressados e cansados da situação, que infelizmente se repete todos os dias, pelas salas de aula do país...

domingo, 14 de março de 2010

Tempo de Persistir

Como o agricultor que prepara a terra para receber a semente, sigo o plano de preparar os alunos para aprendizagens mais sólidas e consistentes. Estabelecida a rotina pedagógica; sabedora da capacidade da turma para novas aprendizagens, agora é seguir em frente.
Metas estabelecidas, objetivos definidos, recursos pedagógicos à disposição, o momento é o de ser persistente, acreditar no planejamento feito e executá-lo.
Dito assim, parece simples e fácil, mas não é.
Sala de aula é sempre sala de aula e lidar com gente um enigma constante.
Por mais que se organize o trabalho, por mais que se controle todas as variáveis, o momento da execução de um planejamento é imprevisível. O plano "B" precisa estar à mão caso não se queira perder o controle da situação. O tempo em sala de aula é escorregadio, traiçoeiro e quando pensamos tê-lo sob controle ele nos escapa.
Penso nas aulas que vou desenvolver com minha turma com antecedência; chego mais cedo e organizo tudo: das carteiras ao material a ser utilizado naquele dia para aquela situação já esquematizada, mas ora é um aluno que não está atento, ora outro que conversa com o colega do lado, ora é aquele que se levanta, pois precisa ir ao banheiro. E aquela menininha lá do fundo que de repente que faz uma pergunta "nada a ver" com o assunto do momento da aula?!
Há também as interferências de fora: o recado que precisa ser dado; a mãe que quer ser recebida porque não pode participar da reunião e não entende que a professora não pode dar-lhe atenção naquele momento, pois está desenvolvendo um trabalho com os alunos, ufa! Um sufoco. A sensação, ao final de quatro horas e meia de trabalho é a de ter sido atropelada por uma jamanta.
Saio exausta da sala de aula, todos os dias, e frequentemente frustrada por não ter cumprido nem a metade do que pretendera para aquele dia.
Dizem os teóricos de que temos que ser resilientes; passar por todas as pressões e retornar à calma, ao ponto de partida, ao que foi planejado. Persistir parece ser o nosso verbo motor.