quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Despedida de 2011

Mensagem

ODE 
de Ricardo Reis


"PARA SER GRANDE, sê inteiro 
             Nada teu exagera ou exclui
Põe quanto és no mínimo que fazes
Pois se em cada lago a lua toda
             Brilha, é porque alta vive".


Fernando Pessoa


Feliz Natal e um Ótimo 2012!!!...


quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Eleição de diretores das Escolas Municipais de BH

Desde 1989 que a Prefeitura de Belo Horizonte delegou à cada Comunidade Escolar do Município a responsabilidade de eleger o diretor e o vice diretor das escolas municipais da cidade.

De lá para cá, algumas mudanças nos critérios dessa escolha foram feitas, porém na essência, até o momento, tudo continua como dantes, com um agravante: as mudanças que se fizeram no processo de escolha dos diretores da Rede Municipal, a meu ver, pioraram o modo de escolha.

Senão, vejamos: 1989 - voto universal da Comunidade Escolar (Pais, alunos acima de 16 anos, professores e funcionários - todos tendo o mesmo peso); inscrição das chapas que poderiam ser formadas desde que seus integrantes tivessem um mínimo de dez anos de serviços prestados na escola onde trabalhavam; campanha eleitoral nos mesmos moldes das campanhas político-partidárias ( distribuição de "santinhos", comícios pela comunidade, debates entre as chapas concorrentes, apresentação de um plano de gestão administrativa e pedagógica e isso tudo e alguma coisa mais tinha início um mês antes da eleição. Duração do mandato de dois anos, permitida uma segunda recondução, por mais dois anos.

O que se tem hoje em matéria de escolha dos dirigentes das escolas municipais de BH?

Candidatos oriundos das próprias escolas; uma semana de "propaganda" das chapas, que consiste em apresentar uma proposta de trabalho "ditada" pela Prefeitura, ou seja, todas as chapas apresentam basicamente o mesmo discurso; não há o debate interno (com os professores e os funcionários das escolas) e nem o externo, com os pais dos alunos; não há o cadastro do votante, basta que ele leve um documento de identidade e que tenha seu nome  na listagem de eleitores daquela escola; o voto continua tendo o peso universal, ou seja, há grande possibilidade da chapa ser eleita pelos pais dos alunos e contar com a rejeição dos professores e funcionários da escola, pois o número de pais votantes é infinitamente superior ao  dos trabalhadores dos estabelecimentos de ensino.

Teoricamente isso seria ideal, já que todos  da escola são "funcionários" dos pais. Porém, vivemos no Brasil e estamos  longe de atingir o patamar de interesse do brasileiro pela educação formal que é ministrada nas escolas. A todos, infelizmente, não interessa o ensino de qualidade e sim um lugar para deixar os filhos enquanto os pais trabalham.

Portanto, após uma semana insana, quando tudo aconteceu simultaneamente, (campanha, recuperação paralela, provas sistêmicas do SIMAVE, aulas normais, encerramento do semestre letivo,etc, etc...) eis que temos nova direção para o triênio 2012/2014, renovável por mais três anos consecutivos.

Apesar de tudo, estou otimista. A chapa vencedora da minha escola deverá fazer uma boa administração. Acredito nisso. Então, que venha 2012...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

O Padrão no Caos

Todos os dias, ao chegar em casa do trabalho, ouço do meu marido aquela pergunta clássica: "E aí, tudo bem? Digo a ele que sim, tudo normal. Então ele pensa que o meu dia foi melhor do que o dia anterior. Explico a ele que não! Trabalho sempre no mais absoluto caos: barulho, conversa, dispersão... Os alunos não conseguem focar no que estão fazendo. Conversam e riem e contam casos e brigam uns com os outros e observam o que se passa fora da sala de aula e copiam as atividades do quadro. Um ou outro participa realmente da aula perguntando, dando opiniões ou dizendo o que já sabe sobre o assunto abordado.
Não importa como estejam dispostos na sala: se em grupo, em dupla ou sozinhos. O comportamento é sempre o mesmo. Ignoram-me, conversam uns com os outros, riem muito e alto e, muitas vezes se agridem verbalmente.
Não há conversa sobre o respeito que se deve ter com o outro, o tratamento respeitoso ao colega, aos funcionários, aos professores... Não há combinados que sejam cumpridos ou recursos que capturem o interesse dos alunos durante as aulas.
Numa turma de 28, como a que tenho atualmente, 1/4 é focado, interessado, responsável, 1/4 não sabe o que está fazendo ali e o restante, dança conforme a música: faz quando é exigido, se não o é, não faz; espera o professor implorar para que tire o caderno, abra o livro, leia o texto, dê uma solução razoável ao problema proposto; capriche no raciocínio para a resolução da atividade do momento.
Na fritada dos ovos, saio da sala de aula, invariavelmente, com a sensação de que sobrevivi a mais um dia de caos.

sábado, 15 de outubro de 2011

Sugestão de Unidade Didática

Tema: O RURAL E O URBANO NA REGIÃO SUDESTE

I- JUSTIFICATIVA

Vivemos em Belo Horizonte, capital de um dos grandes Estados brasileiros, Minas Gerais, pertencente à Região Sudeste do país. São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo também compõem essa mesma região.

Apenas Minas Gerais, dos quatro estados da Região Sudeste, situa-se mais para o interior do Brasil. Os outros são estados litorâneos. Isso os torna muito atrativos, do ponto de vista turístico, porque oferecem o mar e a praia como opção de lazer.

Minas Gerais, estado montanhoso por natureza e interiorano por característica física, representa o que há de mais puro da cultura rural ou do campo. Embora apresente, também, todas as características dos estados desenvolvidos, industrializados e modernos.

Entretanto, como vamos pesquisar para a “Feira de Cultura” desse ano “O Rural e o Urbano” na Região Sudeste, destacaremos alguns elementos do campo e da cidade que predominam nas capitais dos estados da região: Belo Horizonte, São Paulo, Rio de Janeiro e Vitória.

II- Objetivo Geral
Mostrar, por meio de apresentação de trabalhos, exposição de maquetes e danças características, o resultado das pesquisas feitas sobre o “Rural e o Urbano na Região Sudeste.

III- Objetivos Específicos:

• Pesquisar sobre o que distingue de um modo geral o rural, do urbano.
• Caracterizar a região Sudeste no seu aspecto rural e no seu aspecto urbano.
• Montar uma “Linha de Tempo” que evidencie as transformações no espaço urbano das capitais dos estados da Região Sudeste, nestes últimos 30 anos.
• Montar uma “Linha de Tempo” que evidencie as transformações no espaço rural dos estados da Região Sudeste, nestes últimos 30 anos.
• Pesquisar, ensaiar e mostrar, no dia da “Feira”, as músicas e as danças contemporâneas dos adolescentes e dos jovens que habitam as capitais do Sudeste brasileiro.

IV- Culminância
1) Apresentar e/ou expor os trabalhos de pesquisa sobre “O Rural e o Urbano da Região Sudeste”.

2) Mostrar as danças/músicas contemporâneas da Região, no dia da "Feira de Cultura".

TRABALHO DO ALUNO - ( Preparativo para a montagem dos trabalhos a serem expostos/apresentados)
Tema: O RURAL E O URBANO NA REGIÃO SUDESTE

Trabalho de Pesquisa

Esta pesquisa a ser feita por você nos dará o suporte de que precisamos para organizar os trabalhos que serão expostos e apresentados no dia ... , durante a “Feira de Cultura” da escola. Portanto, faça-o bem feito e com muito entusiasmo. Assim, nossa turma brilhará!

Uma parte da pesquisa poderá ser feita no próprio livro de Geografia, nas páginas 168 a 190 – Unidade 6 – A CIDADE E O CAMPO.

Então, mãos a obra!

Pesquise e responda em folhas retiradas do seu caderno de Geografia. Faça uma capa e ilustre o seu trabalho. Identifique-o, também.

1) Qual é o significado da palavra rural? Pesquise no dicionário.

2) Qual é o significado da palavra urbano? Pesquise no dicionário.

3) Leia com atenção os textos e as ilustrações da unidade 6 do livro de Geografia, páginas 168 a 190. Essa leitura dará a você todos os elementos necessários a organização do seu trabalho e da nossa participação na “Feira de Cultura”.

4) Como o tema do nosso trabalho é “O RURAL E O URBANO NA REGIÃO SUDESTE” , você fará uma pesquisa sobre a “REGIÃO SUDESTE BRASILEIRA”. Utilize para tal: jornais, revistas, livros e a INTERNET.
Atenção!
Para a sua pesquisa sobre a região Sudeste do Brasil, siga o roteiro abaixo.

1) Quais são os Estados que fazem parte da Região Sudeste brasileira?

2) O que caracteriza cada um desses estados: extensão geográfica, população, desenvolvimento econômico, desenvolvimento agrário, religião e formas de lazer.

3) Leia e escreva um pouco sobre cada um dos aspectos citados acima, referentes aos estados de: São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais.

4) Como são as condições de vida (moradia, trabalho, escolas, postos de saúde e lazer) nas capitais desses estados: Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo e Vitória.

5) Quais são os maiores problemas enfrentados por essas cidades, atualmente?

6) É BOM MORAR NA CIDADE? POR QUÊ?
7) É BOM MORAR NO CAMPO? POR QUÊ?

Data de Entrega do trabalho, que deverá ser escrito com letra cursiva e a caneta preta ou azul: ___/___/__

BIBLIOGRAFIA
Projeto Araribá, Geografia, 5ª série, pág.168 a 190
http//www.brasilescola.com/brasil/rural-urbano-sudeste.htm

Professor

Professor

O professor disserta
sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
cansado das canseiras da vida.
O professor vai sacudi-lo?
Vai repreendê-lo?
Não.
O professor baixa a voz
com medo de acordá-lo.

Autor: ANDRADE, Carlos Drummond
Livro: A Senha do Mundo, pág 41, RECORD.

No "Dia do Professor", que leitura você faz do poema do genial Drummond? Só ele para estar tão atualizado, não?!

terça-feira, 20 de setembro de 2011

O Resgate do Ensino de Matematica Fundamental

Estou fazendo mais um curso de formação em serviço, patrocinado pela SMED/PBH (Secretaria Municipal de Ensino/Prefeitura de Belo Horizonte). Desta feita, Matemática. O curso teve seu início em março deste ano e se encerrará em novembro, do mesmo ano.
Logo no primeiro módulo, em março, fiquei surpresa e encantada com o dinamismo e o entusiasmo da professora, Luciana Tenuta. À época, confesso que cheguei à sala de aula um tanto desconfiada de que assistiria a mais uma daquelas aulas que nos impingem para nos convencer de que "a sala de aula é muito chata; o aluno precisa aprender brincando; o aluno da periferia é mais esperto em cálculos do que o aluno rico porque aquele vive na rua e, para se defender aprende a se virar sozinho... E tudo o mais que alguns teóricos do ensino contemporâneo da Matemática defendem  ao mesmo tempo que descartam e criticam o ensino da Matemática centrado numa sequência lógica de conteúdos, uns sendo pré-requisitos para outros. Aliás, pré-requisito, conhecimento prévio, memorização dos fatos ou coisas semelhantes, características do ensino tradicional, foram banidos das intenções pedagógicas desses defensores do ensinar/aprender Matemática brincando, a partir de jogos.
Como tive uma formação de didática em Matemática à moda antiga, nunca me deixei convencer por esses profissionais e sempre mantive minha metodologia de trabalho baseada na necessidade de se ter uma sequência lógica de ensino, partindo-se do concreto para o abstrato, da construção de conceitos a partir daquilo que faz sentido para o aluno, do exercício em sala e em casa, para consolidar o aprendido e da aplicação do conhecimento matemático adquirido, na vida.
Pois bem, a professora Luciana me "pegou" logo "de cara", na primeira aula que assisti. Pensei "essa é das minhas, vou gostar dela"!
E não deu outra. Ela é muito boa! Entusiasmada, sabe onde "o bicho está pegando" para nós professoras e nos deixa confortáveis quando ressalta a necessidade do ensino de conteúdo, sim; quando nos lembra do ensino matemático tendo como perspectivas: o que é vivido pelo aluno; (suas experiências, seus conhecimentos intuitivos da Matemática) o que é percebido por ele, no momento mesmo do desenvolvimento do conteúdo em sala de aula e, finalmente, o que é concebido: o que está registrado no mundo das ideias, dos símbolos matemáticos, dos sinais, dos textos e dos exercícios propostos nos livros didáticos, enfim, do abstrato, do subjetivo em Matemática...
Lindo! Que bom! ...
E, ao mesmo tempo, que triste! Quanto tempo perdemos a partir das "baboseiras" teóricas pouco apreendidas por muitos professores, mas colocadas em prática, do "Construtivismo". Praga que acabou com o ensino organizado, sequenciado, baseado em métodos bem fundamentados, tanto da Leitura e da Escrita, quanto da Matemática fundamental. 

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Disciplinar ou deixar prá lá?

Há 40 anos milito diretamente na educação. Sou do time que arregaça as mangas e faz. Todos os dias, ainda hoje, lido com pré-adolescentes, em sala de aula.
Um dos maiores dilemas do professor sempre foi o manejo de classe; a disciplina da turma; o o que fazer para manter os alunos ligados na aula; com vontade de estudar; focados, enfim, atentos.
Às vezes dá vontade de desistir; deixar prá lá... "Quer estudar, estuda; não quer não, então não estude"... Mas como perder o controle se em um mesmo grupo há os alunos super interessados, estudiosos, comprometidos. Como ignorar a imaturidade desse, a agressividade daquele, a preguiça do outro, a falta de educação e de respeito destes?
Sou daquelas que sai de casa para trabalhar; com objetivos bem definidos; com atividades organizadas e não gosto de deixar prá lá. Sei o que devo fazer em sala e o que os alunos precisam, relacionado ao estudo do ano escolar, no qual atuo ( o 6º ano).
No entanto, para conseguir levar a bom termo o trabalho planejado faz-se necessário muito empenho, muita energia e segurança no manejo de classe. Determinados alunos, os mais dispersos, os menos comprometidos, os mais rebeldes precisam ser tratados com firmeza, muitas vezes são admoestados e nem sempre aceitam a chamada de atenção...
Hoje mesmo, alguns de meus alunos comentaram que um deles disse "ter pedido ao primo traficante para matar a professora porque ela (eu) o havia xingado. Como assim?! Fiquei surpresa e perplexa ao mesmo tempo. Descobri que eles não entendem a chamada de atenção como um cuidado, como uma preocupação da professora para com o desempenho escolar deles. Como não têm limites, desconhecem o tratamento gentil aos mais velhos, aos pais, aos professores, não aceitam, portanto qualquer forma de reprimenda. Encaram-na como se estivessem sendo agredidos pela professora e a solução é: "Vou pedir meu primo traficante para matar a professora".
Que triste encerrar a minha carreira dessa forma; morta porque quis o bem do aluno; preocupou-se com ele; fez de tudo para que ele participasse da aula com interesse, qualidade e foco, que resulta em aprendizagem.

domingo, 11 de setembro de 2011

Nossas Perdas no Governo de Esquerda

Leio no "O TEMPO" de ontem a seguinte manchete: "Reajuste de até 24% a servidores é aprovado". No corpo da matéria está dito, dentre outras coisas, que o reajuste do professor do ensino fundamental e médio, cujo salário base atual é de R$1.500,00, passará a ser de R$1.800,00 pagos em quatro parcelas sendo a última a ser paga em novembro de 2.012.
Fiquei pensando cá com os meus botões e com minhas lembranças de professora atuante na Rede Municipal de Ensino de Belo Horizonte, desde o ano de 1976.
O período de 70 a 90, duas décadas portanto, foi marcado pelos movimentos grevistas país afora, particularmente no setor público e mais específico ainda no setor da educação. Diziam-nos os nossos brilhantes líderes sindicais, o Senhor Luiz Dulce, um deles, de que deveríamos parar pela " democratização e melhoria do ensino público; pela melhoria dos nossos salários; pela melhoria das nossas condições de trabalho". Essas foram bandeiras constantes das inúmeras e longuíssimas greves do período. Na opinião do Sindicato, os governos à época eram de "direita" e, portanto, não se interessavam pela melhoria da educação pública, porque tinham o interesse de que o "povão" permanecesse ignorante e assim continuar sendo manipulado e blá, blá, blá...
Pois bem, na administração municipal pré -PT conseguimos, a partir dos movimentos grevistas: equiparação salarial, ou isonomia salarial entre os professores e profissionais da educação habilitados (havia uma diferença salarial enorme entre aqueles que atuavam no ensino fundamental 1ª a 4ª séries e os que atuavam de 5ª a 8ª e no ensino médio); reajuste salarial com referência no valor do salário mínimo; o cálculo passou a ser com base no valor de seis salários mínimos para os professores e outros profissionais graduados do ensino fundamental e médio; (se o cálculo do nosso salário ainda fosse conforme a referência citada acima estaríamos agora com um salário base de no mínimo R$3.000,00).
No pré-PT, as escolas municipais contavam ainda com total autonomia de gestão pedagógica e administrativa pois, bastava que a escola apresentasse à Secretaria Municipal de Educação o seu "Projeto Político Pedagógico" para, se aprovado, desenvolver as atividades propostas com o total apoio da Secretaria - apoio financeiro, logístico, material e profissional - . As escolas contavam também com a presença efetiva de outros profissionais, tais como: psicólogos, orientadores educacionais, supervisores pedagógicos, assistentes sociais, médicos pediatras, dentistas, profissionais que davam apoios específicos para as atividades das bibliotecas das escolas e para as aulas de Artes e de Educação Física.
Tudo isso se foi na administração petista. Para nos desvincularmos do cálculo salarial com base nos seis salários mínimos "ganhamos" de cara 200% de aumento na administração Patrus. A partir daí, nenhum aumento real de salário até o presente momento. Pelo contrário, só tivemos perdas. De salário, de autonomia na organização pedagógica e administrativa ,(Período Escola Plural) de auto-estima; de identidade; de reconhecimento do nosso valor.
Hoje, convivemos com a "Escola Integrada" que tirou o restinho do que tínhamos de recursos e de espaço dentro da própria escola. Laboratório de Informática, Biblioteca, Quadra de Esportes... Tudo isso é da escola integrada. Não mais temos tempo, fora da sala de aula, para planejar e organizar o nosso trabalho, porque existem professoras por conta da "Intervenção Pedagógica" aos alunos com defasagem de conteúdos e essas professoras não entram no rodízio da substituição dos professores que faltam ao trabalho por motivos vários e com frequência. Portanto, nos tornamos, além de professoras da turma, professoras substitutas. Aliás, as professoras de "Intervenção Pedagógica" recebem pronto todo o material e todas as aulas a serem repassadas aos alunos atendidos por elas e, uma vez por semana, saem da escola para encontros, cursos e planejamentos aos quais, nós professoras referenciais das turmas do ensino regular, não temos acesso. Nos tornamos também funcionárias da burocracia da escola. Após a organização, a aplicação e a correção, mesmo sem tempo previsto para tal, das provas trimestrais formais e exigidas pela Prefeitura, somos nós que lançamos essas notas no Sistema da INTRANET/PBH. Pode?!
E o salário, oh! Metade do que deveria ser. Pior, a ser completado só em novembro de 2012! Ah! Tem mais. Os aposentados não terão direito à paridade salarial com os ativos. Algo que já estava assegurado por Lei.

domingo, 28 de agosto de 2011

Escola Pública X Escola Particular

O Editorial da Folha de hoje, intitulado "Tempo Perdido", ressalta o resultado a que chegou uma pesquisa em 250 escolas brasileiras, públicas e particulares, realizada pelo movimento "Todos pela Educação". Comenta a "Folha" que a prova ABC avaliou 6.000 alunos que concluíram o 3º ano, (antiga 2ª
série do Ensino Fundamental) em todas as capitais do país. Destaca que "pesquisa sobre nível de alunos no ensino básico mostra desigualdade alarmante entre escolas públicas e particulares.
Segundo o editorial, dos conteúdos avaliados: cálculo de troco, diferença entre triângulo e retângulo, identificação do tema de um texto simples, leitura das horas em relógio de ponteiro, dentre outros, a distância entre os resultados dos alunos das escolas públicas em relação aos alunos das escolas particulares é enorme. Segue-se o texto com a exposição comparativa entre os resultados dos dois sistemas de ensino.
Como era de se esperar, os alunos das escolas públicas saíram-se mal em todas as questões avaliadas e numa diferença acentuada. Por qual motivo? É a pergunta imediata.
Tenho para mim que, com certeza, não entra como variável a inteligência. Ambos os grupos são dotados de tal característica. O que se pode levantar, então, como hipóteses para esse problema?
Preparo dos professores? Lembrando que o teste foi aplicado em todas as capitais brasileiras, suponho que tanto professores das escolas particulares quanto os professores da escola pública passaram pelo mesmo processo de formação, as universidades e faculdades das respectivas capitais; passaram ainda, por concursos, ao serem admitidos para o trabalho nas escolas.
Vamos pensar nos alunos: os das escolas particulares são admitidos mediante teste de seleção; os das escolas públicas, não. Ao selecionar o aluno, via teste, a escola particular consegue uma certa homogeinização das turmas quanto ao conhecimento prévio necessário ao acompanhamento das aulas segundo o ano de estudo. Na escola pública existe essa seleção, porém após matrícula e, há ainda a crença de que as turmas devem ser heterogêneas, pois isso impede a formação de turmas fracas, médias e fortes numa mesma escola evitando-se, dessa forma, a discriminação do aluno fraco, ou com defasagem conteúdo/ano de estudo.
Quanto a organização pedagógica das escolas: acredito que há um compromisso maior, nessa organização, da escola particular; a escola pública experimenta mais as metodologias de ensino em voga e, de certa forma, torna-se um "laboratório" para o ensino privado. O que da certo no ensino público o ensino privado adota, assimila, atualiza e adapta aos recursos e estrutura física e material das suas escolas.
As famílias das escolas particulares participam, embora não tanto quanto deviam, mais da vida escolar do filho, cobra mais da escola e do filho os resultados esperados, antes que se chegue ao estado do não-aprendizado.
Na escola pública há ausência das famílias na vida escolar dos filhos, ausência de motivação de boa parte dos alunos para cumprir o papel de aluno efetivo, ausência de organização pedagógica - várias ideias a respeito do ensino/aprendizagem circulam entre os professores vindas de todos os lados: das faculdades, das secretarias de educação, dos cursos de treinamentos em serviço, mas poucas são adotadas e trabalhadas com persistência por um dado período até se ter certeza se valem a pena ou não. Fica-se no ensaio-e-erro, ou no "empurrar com a barriga", ou pior ainda, no tomar decisões pedagógicas sem convicção, ao bel prazer da política pública da instituição mantenedora da escola: secretarias estaduais ou municipais de educação. Ora é uma ideologia que está em vigor, ora outra e ninguém se entende...
Há alguma dúvida do porquê do resultado da pesquisa? E isso é só uma pincelada do que pode fazer a diferença entre os dois sistemas educacionais do país -  o público e o privado.

sábado, 27 de agosto de 2011

Dona Lúcia Disse... em 1972

Tenho em mãos um livro de "Didática da Linguagem Comunicação e Expressão" denominado "Métodos de Ensino de Leitura" de autoria  da magnífica educadora mineira Lúcia Monteiro Casasanta - D. Lúcia Casasanta, como era chamada por todos que a conheceram e que tiveram o privilégio de estudar com ela ou de trabalhar com ela.
Segundo a professora Ângela Dalben, na oportunidade em que recebia a "Comenda Lúcia Casasanta", concedida pela Fundação Amae para Educação e Cultura, no dia 04 de janeiro de 2007, [...] " A vida da educadora Lúcia Casasanta foi marcada por seu profundo compromisso com a causa do ensino fundamental, lutando por uma escola plena de emoção, sabedoria e técnica, onde o desenvolvimento linguístico das crianças fosse a evidência maior de uma educação de qualidade."
"A vida profissional de Lúcia Casasanta, ressalta Dalben, confunde-se com a história da Educação em Minas Gerais durante mais de meio século.
Exerceu profunda influência no ensino da leitura e escrita , despertando em suas alunas o espírito científico da pesquisa e da fundamentação teórica na prática pedagógica, motivo do significativo avanço no desenvolvimento do ensino da leitura em Minas Gerais."
Não tive a sorte de ser aluna de D. Lúcia Casasanta, mas fiz o Curso Normal e a seguir o Curso de Pedagogia, no Instituto de Educação de Minas Gerais, quando à época ela tornara-se diretora do Curso de Pedagogia. Lembro-me de tê-la visto passar, algumas vezes, pelos corredores do Curso de Pedagogia; eu a olhava com admiração, respeito e carinho.
Hoje, tantos anos depois, nos deparamos, periodicamente, com os resultados desastrosos dos testes de leitura aplicados aos alunos das escolas públicas e das particulares, estampados nos jornais e apresentados como prova concreta do fracasso e do caos educacional em que estamos mergulhados.
Nas primeiras frases da "Introdução" do livro ao qual me referi acima "Métodos de Ensino de Leitura", D. Lúcia afirma literalmente: " Tenho para mim que ideias novas, propriamente ditas, não existem ou são raras. Quando, porém, a Ciência destrinça os casos de nossa experiência comum, há que optar entre deixar que fiquem como se acham ou tentar levá-los adiante, a fim de que outros façam o mesmo". [...]
Desconfio de que nós, professores, há muito  optamos, sabe-se lá por que,  por deixar o ensino da leitura e da escrita como se acha; desistimos de encontrar um método, um modo de ensinar a ler e a escrever embora estejamos no século XXI, era da COMUNICAÇÃO e da NEUROLINGUÍSTICA.
E pensar que quarenta anos atrás D. Lúcia já defendia o ensino do ler e do escrever com base na Ciência e na pesquisa...
Conversaremos mais, em outras oportunidades, sobre o livro citado aqui. Acho que valerá a pena.

sábado, 20 de agosto de 2011

Professor Inadequado

Sou habilitada em Letras, pós-graduada em Leitura e Produção de Textos e habilitada em Pedagogia com ênfase em Administração Escolar e Supervisão Pedagógica. Sou professora municipal da Prefeitura de Belo Horizonte. Trabalho com uma turma do 6º Ano, antiga 5ª série do ensino de 1º Grau.
Desde 1995, no advento da "Escola Plural",  as turmas da antiga 5ª série perderam o vínculo com o professor habilitado em Matemática, Letras, Biologia, Geografia e História. Elas pertencem, agora, ao final do 2º Ciclo de Formação,  6º Ano, e, consequentemente, ainda assistem aulas com os professores habilitados para a formação mais geral dos alunos dos anos iniciais do ensino fundamental: basicamente a alfabetização.
Para quem está fora do meio isso pode parecer de menor importância. Afinal, o professor que alfabetiza pode perfeitamente atender ao aluno de 11/12 anos. Ledo engano!
O aluno do final do 2º Ciclo é o aluno pré-adolescente. Além do mais, não existe um material didático específico para essa faixa etária, como existe para os alunos até os 10 anos de idade.
Para essa etapa da escolarização já é esperado que o aluno leia e escreva com relativa proficiência e os conceitos básicos e específicos da História, da Geografia, das Ciências Naturais e até mesmo de Língua Portuguesa e de Matemática exigem um professor específico e habilitado em cada uma dessas disciplinas. Contamos,  sim, com os livros ditáticos específicos de cada uma das áreas de ensino citadas acima, elaborados por professores, mestre ou doutores especializados nos conteúdos pertinentes às suas respectivas matérias . Ou seja, há conteúdos, habilidades e capacidades a serem trabalhadas com o aluno do 6º Ano, que exigem, para tal, um professor habilitado.
Infelizmente, não é isso o que acontece na rede. Os alunos só terão esses professores quando ingressarem no 3º Ciclo de Formação, ou no 7º, 8º e 9º anos de estudos. Consequentemente, as defasagens no domínio conceitual dos conteúdos relativos à Geografia, História, Ciências, Matemática e Língua Portuguesa são gritantes. A meu ver, não por culpa do aluno e muito menos do professor, mas devido a esse equívoco no atendimento profissional ao aluno do 6º ano. Ele estuda com professores que não estão preparados para ensiná-lo, pois não possuem a formação adequada para tal.
Citando minha própria experiência, digo que o conhecimento que possuo em Matemática, História, Geografia e Ciências é o mesmo de quando eu tinha a idade dos meus atuais alunos e estudava tais conteúdos porque fazia a 5ª série do antigo ginasial. 
É lógico que em relação aos meus alunos conta em meu favor: maturidade, experiência de vida e estudo por conta própria, mas na verdade, na verdade, não domino profundamente e especificamente os conteúdos propostos pelos livros didáticos com os quais trabalho, porque não sou habilitada nas matérias de ensino já comentadas acima.
Fica, então, a pergunta: o que fazer? Até quando esse estado de coisas vai perdurar no ensino público municipal de Belo Horizonte?

domingo, 7 de agosto de 2011

Ai, que cansaço!

Li na "Veja" de hoje o artigo do pesquisador  e articulista da revista, Gustavo Ioschpe, sobre a " tensa relação entre famílias e escolas". Se bem entendi, o articulista afirma que, dentre outras coisas, os professores das escolas públicas preferem colocar a culpa do mal desempenho dos alunos nos pais do que admitir que o trabalho desenvolvido por eles, professores, nas escolas é que não atinge os objetivos e metas do que deveria ser o  papel da escola: ensinar a ler e a escrever. Diz ainda, literalmente, que "muitos educadores e pedagogos são, na verdade, ativistas sociais em busca de uma causa. Seu objetivo é mudar o mundo, e os alunos são apenas um veículo"...
Sei que o jornalista e pesquisador Gustavo Ioschpe tem desenvolvido um intenso e extenso trabalho de pesquisa sobre o funcionamento das escolas públicas brasileiras com o objetivo de entender e de explicar o por quê do caos pedagógico em que vivemos. Louvo-o por isso. Tão jovem e tão cheio de boas intenções. Porém, penso que não há um único motivo pelo qual até o momento o ensino brasileiro não obteve êxito.  Não há um único culpado pelo fracasso escolar nacional. E, não há por que passar a bola para este ou aquele e achar que tudo se resolve. A bola deverá estar com toda a sociedade ao mesmo tempo. Vivemos, penso eu, um problema de identidade educacional. Desde o Brasil Império que o nosso ensino instituído  não passa de cópia do que se faz em outros países. Copiamos os jesuítas, copiamos os franceses, os ingleses, os americanos, os espanhóis, os portugueses. Até os argentinos nós copiamos. Nunca fizemos, exceto as tentativas de Anísio Teixeira, que também se baseou nas propostas da escola nova, ou, mais recentemente, de Darci Ribeiro, que bebeu na fonte de Anísio Teixeira e noutros modelos internacionais, o projeto pedagógico nacional.
Como já disse acima, nosso ensino sempre foi a cópia, da cópia do que há fora e, pior ainda, com grande defasagem de tempo e conforme as ideologias e partidos políticos de plantão. Cada governo, seja municipal, estadual ou federal procura impor, na educação, a sua ideologia, pois pretende mudar, ou não, a sociedade conforme sua crença via escola , principalmente escola pública. No entanto, para o grosso da sociedade, em matéria pedagógica tanto faz dar na cabeça, quanto debaixo do chapéu; fica o dito pelo não dito e estamos conversados.
Nós professores sofremos todas essas interferências e também não temos uma opinião formada sobre qual é o melhor projeto educacional para o país. Compramos as ideias conforme elas nos chegam. Se estamos nas faculdades, percebemos mal e porcamente o que nos é ensinado; se já estamos atuando, engolimos sem mastigar o que nos impingem como modelo educacional; afinal "manda quem pode e obedece quem tem juízo".
Sendo assim, quando a política educacional é a de "mudar o mundo e os alunos são apenas um veículo" agimos para que isso se dê, se em algum momento o vento virar para ..."transmitir os conhecimento e capacidades intelectuais que darão  ao jovem as condições de exercer plenamente o seu potencial..." será essa a nossa prática. Na verdade, somos empregados do setor público, não temos autonomia de voo; trabalhamos segundo nos ensinam ou nos convencem.
Mas afinal, quem se importa com isso no Brasil? Quando, em que momento a educação e a política foram ou são pautas dos botecos, dos bares, dos salões de beleza, Brasil afora? Quem se preocupa em saber quais são as reais necessidades e dificuldades dos professores ao exercerem o seu trabalho em sala de aula? Quem se importa se o aluno está em condição de plena saúde física e emocional para assistir aulas? Que profissional da suporte ao professor quando este pede socorro, porque não sabe o que fazer ou que atitude tomar em determinada situação? Quem se preocupa, verdadeiramente, com o caos educacional em que nos encontramos? Acho que só o Gustavo Ioschpe, mesmo assim tende a ficar, na maioria das vezes, contra o professor.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Vida Interrompida

A professora Marildes Marinho partiu de forma trágica. Não por escolha, mas por ter sido escolhida sabe-se lá por que motivo. Deixou família, filhos, marido, amigos, alunos e ex-alunos, pesquisa, casa, desejos, planos...
Talvez não tenha sofrido, sequer tenha pressentido a morte iminente. Talvez tenha se preocupado com a situação, com os bandidos, com o marido, mas nada disso importa. Importa, isso sim, a estupidez do fato em si. Sua vida lhe foi roubada e isso é infinitamente mais do que os míseros trocados desejados pelos ladrões. Morrer é natural, faz parte do ciclo e da condição do ser vivo, mas há morte e morte. Há a morte esperada, há a morte inevitável, há até a morte desejada. Porém a morte estúpida, que vem devido a um acidente e mais ainda um acidente que se apresenta em função de uma característica social, de uma ação de violência de um ser humano contra o outro, ah, essa morte é incompreensível, inaceitável, mas cruelmente real e doída, muito doída.
Não conheci a professora Marildes, apenas tive contatos esporádicos com ela e em situações diversas. A primeira delas, eu sendo entrevistada, por uma banca de doutoras da Faculdade de Educação e da qual ela fazia parte. À época, apresentava-lhes o meu projeto de pesquisa, na etapa final em que concorria a uma vaga ao mestrado da FAE/UFMG. Tempos depois, estive com ela numa situação social, em um almoço de aniversário, na casa de amigos comuns. Conversamos sobre escola, educação, prá variar. Ela muito simpática e solícita. Não mais a vi, como era de se esperar, até que no início desta semana fui surpreendida pela notícia de sua morte tão trágica. Que pena!
Vive-se uma vida inteira de estudo, de preocupação social, de esforço para compreender o ser humano na sua cultura, no seu falar, na sua expressão mais profunda... Quanto de estudo e de sabedoria se foi com ela, quanto de pesquisa, de trabalho, de energia, de ideias, de atos, de amizade, de solidariedade, de vida se perdeu nesse ato tresloucado e insano de bandidos para os quais o que interessa mesmo é "quem nós vai pegar, hoje, heim, mano?!... 

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Quando o elogio faz a diferença

Trabalho com alunos de idades que variam entre 11/12 e 13 anos. É uma turma bastante heterogênea pois apresenta níveis  diferenciados de leitura/escrita e domínio das habilidades básicas das disciplinas escolares. Apesar de eles estarem no final do 2º ciclo e de eu ser habilitada em Letras, trabalho também os conteúdos de ensino relativos à Matemática, Língua Portuguesa, História, Ciências e Geografia. São três horas e meia de aulas diárias, distribuídas ao longo da semana.
Meus alunos são bastante inquietos e apresentam uma capacidade de concentração estranha pois independentemente do que estejam fazendo, não importa o modo como estão dispostos: em grupo, individual, ouvindo uma explanação ou participando de um debate; assistindo a algum vídeo ou durante as aulas de informática; mantêm, sempre, a atenção focada em mais de um acontecimento.
Conversam o tempo todo entre si, percebem o que se passa com o colega do extremo oposto da sala, registram ou comentam a aula que estiver acontecendo e ainda fazem perguntas "nada a ver" com o momento das atividades.
É comum, em diversas situações, sentir-me transparente junto a eles, sem nenhuma importância, um mero detalhe na sala de aula.
Das muitas atitudes já tomadas para conseguir motivá-los e interessá-los somente pelas aulas, a última delas envolve diretamente os  familiares dos alunos.
Resolvi comunicar-lhes, diariamente, como foi o comportamento do filho durante aquele dia de aula: quem colabora, participa, faz perguntas, tira dúvidas, registra as atividades, esforça-se por aprender e participar . É o bilhete do bem. Só de elogios, para os que os merecerem, bem entendido.
Ah! Tem sido uma maravilha! Acho que percebi como "botar " o ovo de Colombo em pé...

terça-feira, 28 de junho de 2011

Ser só

O professor é um profissional que não deveria trabalhar tão sozinho quanto o faz ; principalmente aquele que atua no ensino público.
Faço tal afirmativa porque lido constantemente com alunos doentes, em sala de aula. E aluno doente, como qualquer ser humano , não rende tudo aquilo que poderia render.

As escolas municipais de décadas anteriores possuíam uma estrutura física e profissional que previam essa necessidade de apoio multiprofissional ao aluno . Contavam, então, com gabinete dentário, consultório pediátrico e programas específicos de escovação dos dentes, bochechos com flúor, assepcia das cabeças dos alunos com piolhos e até tratamentos em massa contra a verminose.

Isso acontecia periodicamente ao longo do ano letivo. Os alunos, os professores e as famílias contavam ainda com a assistência de psicólogos, orientadores educacionais, supervisores pedagógicos e assistentes sociais.  Todos pertenciam ao quadro da Secretaria Municipal de Educação.

À época, essa política de apoio ao pedagógico das escolas foi taxada pelo Sindicato dos professores e outros ideólogos de plantão de "assistencialista", "paternalista" e tanto fizeram e falaram que conseguiram acabar com ela.

Hoje, estamos sós.

Trabalhamos diariamente com alunos doentes: dor de dente, dor de cabeça, desânimo, apatia, hiperatividade, uso de droga e abandono social são alguns dos problemas com os quais nos deparamos.

Sabemos que tais problemas interferem diretamente no rendimento escolar do aluno e não podemos fazer nada. Assistimos desoladas a tudo isso sem ter a quem recorrer. É... Os tempos são outros...

Quebra galho

Sábado passado realizou-se a "Festa Junina" da minha escola. Após várias discussões ao longo de alguns anos conseguimos o consenso de fazer a festa sem o caráter mercantilista que a caracterizava até então. Simplificou-se, dessa forma, o evento.
Fizemos uma festa junina sem barraquinhas, sem jogos, sem a venda dos típicos "comes e bebes" .
Tudo isso para não onerar as famílias dos alunos que, nos anos anteriores, abasteciam as barraquinhas com as prendas dos jogos, doavam os produtos dos alimentos que eram vendidos, (comidas e bebidas) vendiam rifas para o concurso do "Rei do Amendoim" e da "Rainha da Pipoca", doavam os produtos da gincana, que acontecia todos os dias, até o momento da festa, e ainda, para participar das brincadeiras das barraquinhas, pagavam pelas fichas.
Simplificada, a festa virou uma apresentação de números de danças: as típicas quadrilhas e outras  como sertanejo, pancadão, americana...
O mais impressionante disso tudo foi o fato de as professoras terem ensaiado os alunos das danças de cada ritmo, sem som! Não ficou pronto, estava no conserto e então... Ensaiem sem música!
Metade dos meus alunos se dispôs a participar das danças; saíram da sala a semana inteirinha para ensaiar. E no dia da festa, o que fizeram? Não compareceram...
No entanto, por incrível que pareça, no momento das apresentações a escola estava linda, toda enfeitada, colorida, alegre.
Os pais compareceram e se mostraram felizes; foi servida a eles uma deliciosa canjica e os alunos, os que compareceram, dançaram até bem, dadas as circunstâncias dos ensaios.
Conclusão: escola funciona com muito pouco; milagrosamente, no meio do caos há aprendizagens significativas...
Imagina, então, se tivéssemos horários de estudos e planejamentos; estrutura física de teatro, quadra de esportes; professores de dança e de canto; diretores de teatro; sala de arte, sala de vídeo e/ou multimeios além de tudo o que já existe? Seríamos páreo duro para a Finlândia, Coreia do Sul e outros "bambas" do teste do "PISA".  Tenho certeza disso.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Quando Tudo Dá Certo

Hoje fiz uma reunião com os pais dos meus alunos que me deixou realizada! Pela primeira vez, após 16 anos de magistério, alcancei quase 100% das presenças dos pais, durante a reunião.
Pais e filhos juntos, no mesmo ambiente.
A ideia foi a de fazer do encontro um momento de alegria, de comemoração dos sucessos... Deixei de lado as lamúrias, as reclamações a respeito dos alunos indisciplinados, o destaque dos alunos que não se saíram bem nas avaliações trimestrais, deixei de lado o gasto de energia com o aluno que ainda não compreendeu por que se vai à escola...
Resolvi premiar os alunos responsáveis, com medalhas de "Honra ao Mérito". Ao todo 13 alunos receberam-nas.
Seus pais ficaram surpresos e orgulhosos ao mesmo tempo.
Relatei todo o processo desenvolvido em sala de aula com os alunos, desde o mês de fevereiro. Expus os projetos desenvolvidos com o objetivo de criar vínculos afetivos entre os alunos; criar responsabilidades quanto aos estudos; criar o espírito colaborador entre todos durante as aulas.
Os resultados estão aparecendo e são muito bons. Estou orgulhosa de mim mesma e de meus alunos.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Professora Guerreira

Parabéns, Amanda! Você lavou a nossa alma! Segura, objetiva, sintética e irrefutável. Em poucos minutos você descreveu o nosso caos. No momento certo, para as pessoas certas você conseguiu a síntese dos 511 anos de problemas educacionais vivenciados por nós professores e ignorados por todos, sem exceção.
Num momento importante, quando a Educação está na pauta da grande mídia nacional você conquistou um espaço de fala jamais sonhado pelo mais otimista dos otimistas defensores do ensino público e/ou privado do país.
Penso que enquanto não conseguirmos que o tema educação seja "banalizado" no bom sentido, caindo na boca do povo, na conversa do bar, do salão de beleza, das ruas, não encontraremos as saídas´para esse impasse que é o nosso ensino fundamental, médio, superior, técnico e pós, pós, pós...
Precisamos inventar um sistema de ensino que tenha a nossa cara; que nos represente no que somos e no que temos de cultura, de demanda social, de ideais políticos e filosóficos.
Precisamos inventar o nosso jeito de ensinar; a nossa metodologia, o nosso currículo sem que estes sejam cópias da última moda vinda de fora.
Até o momento, desde o Brasil Colônia, copiamos os sistemas de ensino dos outros;macaqueamos suas metodologias, imitamos seus currículos e não persistimos em nada. É por isso que nada deu certo até agora.
Salário correspondente ao de outros profissionais com formação superior; escolas funcionais e equipadas; professores em tempo integral em cada unidade de ensino do país - com tempo de regência e tempo de estudo e de planejamento remunerados e na mesma escola; currículo mais enxuto, objetivo e adequado à cada faixa etária do alunado brasileiro já seria um bom começo de caminho.
Dez por cento do PIB nacional carreados para a manutenção desse sistema nacional de ensino e toda a sociedade mobilizada em prol da educação em todos os níveis  - do Infantil ao Superior.
Isso é utópico?! É sonho?!
Penso que não. Isso é perfeitamente possível e você, Amanda, já deu o ponta pé inicial.
Agora é bola prá frente. Vamos fazer esse gol... 

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Um dia de Professora

Acordo às 5h, levanto, tomo banho, faço e tomo o café da manhã. Saio de casa às 6h15min. Entro no ônibus às 6n20min. Desço no ponto intermediário às 6h 40min; às 6h41min já estou dentro do ônibus que me deixará, às 6h55min, no portão da escola onde trabalho.
Entro, atravesso o pátio aberto e vou direto até minha sala de aula. Organizo as carteiras dos alunos, deixo sobre a mesa o material da primeira aula, o canetão de escrever no quadro branco e as fichas com os nomes dos alunos. O sinal toca às 7h anunciando a entrada do turno. Desço, atravesso o pátio novamente até à quadra coberta, onde encontro a minha turma.
A Coordenação Pedagógica da escola recebe os alunos com os cumprimentos, os recados e a oração do dia. Às 7h10min todas as turmas dirigem-se às suas respectivas salas de aula. Subo com meus alunos.
Os mais pontuais e responsáveis colocam-se imediatamente em seus lugares, outros permanecem fora da sala embora saibam que deveriam ter subido comigo. Aguardo por dois três minutos, fecho a porta e cumprimento a todos animada nos primeiros minutos de trabalho. Metade da turma está a postos, a outra, indecisa e dispersa, não sabe se entra ou se conversa.
Comunico, mesmo sabendo que todos têm o horário das aulas do dia, apenas como reforço e introdução, de que teremos aula de "Língua Portuguesa"; vamos dar continuidade ao trabalho de ontem quando... Percebo que todos estão dispersos, ninguém me ouve, conversam animados uns com os outros como se estivessem na pracinha da igreja. Elevo a voz em mais um cumprimento de "Bom dia"  para que percebam onde estão e por quê estão ali. Não adianta, ninguém me ouve e nem se interessa por mim. Dou início à atividade de aula assim mesmo na esperança de que vendo que a aula já começou, acalmem-se e me permitam trabalhar o assunto, já de conhecimento prévio deles. (Levaram uma tarefa para terminar em casa e eu preciso me certificar de que todos estão de posse do xerox com o exercício que deveriam ter terminado em casa.)
Olho para o relógio e percebo que mais uma vez não concluiremos a atividade iniciada na aula anterior e sem isso, impossível caminhar com o que estava planejado para hoje.
O grupo de quem entrou na sala comigo está atento, vejo que a maioria fez a tarefa de casa e me sinto satisfeita. O outro grupo continua conversando, ainda não percebeu a dinâmica daquele momento; os alunos conversam entre si. Chamo-lhes a atenção, peço silêncio, explico o que estamos fazendo e do que eu preciso para dar continuidade ao trabalho de "Construir o Calendário das Gentilezas". Tema proposto há três semanas e algumas sequências de aulas nesse sentido, mas a coisa ainda não vingou... Nesse ambiente não muito propício à boa aprendizagem, porque há muito barulho de conversas paralelas e alguns alunos (os mesmos) dispersos; concluo a aula de "Língua Portuguesa". São 8h, hora da aula de Ciências e temos que trocar de material. Alguém bate á porta. Atendo. Um aviso de que a professora de Educação Física está substituindo a uma outra colega faltosa e, portanto, eu e meus alunos não teremos Educação Física. Era o momento com o qual contava para grampear as avaliações trimestrais da semana que vem. Enfim, mil coisas são feitas nesse espaço de tempo de uma hora, em que a turma fica com outra professora. Se os alunos já estavam agitados no início do horário, com a notícia de que não terão a aula de Educação Física ficam mais agitados ainda. E eu fico com a certeza de que terei de improvisar ( coisa que  odeio) uma hora de aula, que é da responsabilidade de outra professora. Tal qual os alunos, também não fico feliz com essa situação.
Fomos para o auditório no horário que seria da aula de Educação Física. Assistimos a um filme relacionado ao texto da aula de "Língua Portuguesa", sobre "Peter Pan". Os alunos não gostaram do filme; vimos só parte dele porque não deu tempo para ver tudo. Combinamos que na próxima aula veremos outra versão para o cinema de "Peter Pan"; faremos, então, uma comparação das linguagens e das abordagens dos dois diretores, para o mesmo tema.
Às 10h20min voltamos para a sala de aula. Teríamos ainda pela frente mais uma hora de aula e dessa vez, Matemática. Iniciamos um estudo sobre Geometria, primeiros conceitos. Registramos, no quadro, conceitos retirados do dicionário sobre geometria, geométrico e geometrizar (nem sabia que a expressão geometrizar existia e que estava dicionarizada). A seguir todos receberam um xerox de diversos sólidos geométricos representados na forma plana, aberta - todas as faces e arestas e linhas pontilhadas - para serem montados como atividade de "Para Casa".
Às 11h20min, graças a Deus, para eles e para mim, tocou o sinal e todos saíram correndo da sala de aula...
Eu, finalmente, tive sossego para guardar o meu material de trabalho no armário, trancar a porta e terminar frustrada e infeliz mais um dia de trabalho.
Em nenhum dos momentos citados acima, desde as 7h, consegui um instante sequer de trabalho tranquilo  com meus alunos; em qualquer situação: no início do horário, no meio, antes ou depois do recreio, antes ou depois de uma aula mais "leve", vendo um filme ou ouvindo uma história; fazendo um trabalho intelectual ou manual; em nenhum momento consigo deles silêncio, foco, atenção, motivação, interesse, trabalho sem briga, sem voz elevada para me fazer ouvir.
Parte da turma está sempre agitada. E os alunos mais desatentos e sem compromisso são os mesmos. Um grupo de seis em vinte e oito.
Não há nada que os convença da necessidade de se criar e manter um ambiente adequado ao trabalho intelectual , que é o de ensinar/aprender.
Nas conversas que já mantive com as famílias desses alunos percebo, invariavelmente, que também elas não sabem o que fazer com os filhos; perderam as rédeas, não têm autoridade sobre eles e isso se reflete na sala de aula . Quando os pais não sabem mais o que fazer com os filhos pouco se consegue desse aluno na escola. E, se não há a cobrança e o acompanhamento da família em casa, o trabalho do professor, na escola, se torna inócuo, sem efeito, sem sentido e sem valor.

sábado, 9 de abril de 2011

INTRIGANTE

Terrível, não há o que dizer, não há sentimento esternalizado que exprima o horror do acontecido na escola municipal do Rio de Janeiro. Nada irá confortar essas famílias vítimas do assassino de tantas filhas e filhos ainda desabrochando para a vida... Mas algo tem me intrigado bastante. O silêncio dos professores dessa escola, da direção, dos funcionários...
A imprensa repercute o que aconteceu aos alunos, como se estes estivessem sozinhos na escola. Somente um professor se manifestou no "Jornal Nacional" de ontem.
Acredito que  professores, funcionários e toda a direção da escola atingida devem estar sofrendo tanto quanto qualquer um de nós , mas eles, sofreram o impacto da presença do tresloucado ser; ouviram e viram tiros serem desferidos contra seus próprios alunos; temeram por suas vidas e pelas vidas deles; sentiram na pele a responsabilidade de serem os adultos responsáveis por tantas vidas em perigo.
Necessitarão, com certeza, tanto de assistência psicológica e médica, quanto as crianças e as famílias vitimadas.
Será que as autoridades públicas do Rio de Janeiro estão se preocupando com a saúde emocional dos professores, funcionários e diretores da escola? Ou eles serão abandonados à própria sorte sem o dó e nem a piedade de ninguém?!...
Espero que não. Essas pessoas também necessitam de amparo. 

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O Professor e a Tortura Emocional

     O Professor é um ser que sofre de tortura emocional e física diariamente. Isto porque lida com todo o tipo de aluno; desde os emocionalmente tranquilos, equilibrados e resolvidos até àqueles que não conseguem perceber qual é a importância da educação escolar na vida deles.
     Os alunos bem resolvidos, e isso não significa, absolutamente, que sejam os economicamente favorecidos, são aqueles que contribuem, constantemente, em todas as situações, para que o ambiente escolar seja favorável ao rendimento pedagógico esperado e eficiente. A atitude desses alunos é sempre de foco, de concentração, de participação e, logicamente, obtêm, sempre, um rendimento excepcional em relação aos colegas que agem contrário ao exposto acima.
     O outro grupo, o dos alunos mal resolvidos, nem sempre em maior número na turma, é aquele que desestabiliza o ambiente da sala de aula. Os participantes desse grupo, desencadeiam, sem mais nem menos, várias ações, ora em conjunto, ora individualmente que derrubam o equilíbrio e a sensatez do professor.
     Do nada, em plena aula de Geografia, por exemplo, ouve-se um barulho semelhante ao de um "pum" estridente. É o suficiente para deslanchar na turma o riso, o comentário acusatório em voz alta, a conversa, a discussão, o despero do professor. Mesmo sabendo que o "pum" foi um "pum" fictício, de mentirinha, as consequências desse ato gaiato, na turma, são verdadeiras, reais, concretas.
     Até voltar a calma novamente, adeus aula de Geografia, adeus ambiente de aprendizagem, adeus planejamento de aula, executado.
     Esse é um dos atos mais inocentes do dia a dia de uma sala de aula. Há os pedacinhos de borracha que vêm de todas as direções nas cabeças dos alunos que se sentam à frente e quase sempre sobram também para o professor; assim como as bolinhas de papel, as bolsinhas de canetas ou os cadernos de colegas, apanhados sobre suas mesinhas, e, de propósito, colocados nas mochilas de outros colegas, só prá chatear, provocar reclamações de que tiveram seus pertences "roubados" e fazer com que a aula seja interrompida, para que se resolva mais este problema.
     Há ainda as idas ao banheiro ou ao bebedouro fora do horário do recreio. Mesmo que sejam estipuladas regras e/ou combinados para regular essas saídas, todos os dias os mesmos alunos interrompem a aula, não importa o que esteja sendo trabalhado: uma introdução de conteúdo, uma explicação para uma questão específica, a leitura de um texto que posteriormente será trabalhado em discussões orais e em exercícios de escrita, nada, nada é mais importante para determinados alunos do que sair da sala, embora autorizados, mas sem se importar se com isso irão perder um momento importante da aula.
Cinco, seis alunos em um grupo de vinte e oito, trinta, conseguem monopolizar total e integralmente a atenção do professor, em detrimento do bom andamento da aula e em detrimento dos alunos que estão acompanhando as atividades com gosto e motivação para o estudo.
Trabalhar nessas condições significa terminar mais um dia  sob forte estresse, sob forte sentimento de frustração, sob forte sensação de angústia, de sofrimento, de cansaço físico e emocional.
Não há argumento, não há estabelecimento de regras, não há conduta profissional, não há atitude disciplinar que demovam esses alunos da necessidade de desestabilizar diariamente a sala de aula, os colegas de sala e os professores que atuam com eles.
O que fazer?! Que medidas tomar? Expulsar da aula, mandar esses alunos para a Coordenação Pedagógica, conversar particularmente com eles, chamar os pais e colocá-los cientes dos comportamentos indesejáveis e inadequados dos filhos? Mudar a aula, tornar o estudo mais interessante? Dar responsabilidades a esses alunos? Convidá-los a participar diretamente da dinâmica da sala de aula? Que professor ainda não colocou em prática todas as ações destacadas acima? Penso que todos já lançaram mão de várias delas e sem sucesso.
Eu também.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Eduação em pauta

Vocês já perceberam como o tema EDUCAÇÃO ESCOLAR está, finalmente, entrando na pauta da grande mídia? No ano passado o programa "Fantástico", da Rede Globo, dedicou alguns domingos, no destaque a uma turma, do Rio de Janeiro, escola pública, de final do Ensino Fundamental, se não me engano.
Acompanhou cinco alunos da turma, durante todo o ano de 2010 e mostrou o desempenho escolar deles durante algumas aulas de "Língua Portuguesa"; mostrou, paralelamente, como esses alunos viviam em suas comunidades; seus desejos, interesses e comportamentos dentro e fora da sala de aula.
Achei interessante, pois mostrou, mesmo que superficialmente, como se dá o trabalho de ensino/aprendizagem, na prática, com todas as interferências no ambiente sala-de-aula e fora dele.
Agora, vemos a Globo News com um programa especial, num total de quatro, iniciado ontem, dia 20/03, às 20h30min. O enfoque foi, novamente, turmas "de verdade", do ensino Infantil e Fundamental. Gostei do que vi. Espero que mostrem também quando o trabalho não dá certo e os motivos do fracasso, sem cortes, sem edição.
É preciso "banalizar", no bom sentido, o trabalho pedagógico que acontece, diariamente, nas milhares de escolas públicas e particulares do Brasil.
É preciso que a grande mídia mostre aos pais o quanto a participação efetiva deles no trabalho pedagógico, que é desenvolvido pelas escolas com e para os filhos deles, depende do interesse e do acompanhamento, em casa  e na escola, desses pais.
É preciso mostrar a todos quantos são os professores e os alunos dedicados, interessados, motivados a ensinar/estudar/aprender e, muitas vezes, devido às várias interferências, que poderiam ser evitadas e/ou atendidas de uma outra forma, numa outra situação, derrubam, quase sempre definitivamente, o que poderia ser um bom resultado pedagógico.
A Rádio CBN também está levando ao ar, todas as segundas-feiras, no horário de 13h,  dentro do programa "CBN-BRASIL" ancorado pelo jornalista Carlos Alberto Sardemberg, um quadro denominado "Missão Aluno".
Na oportunidade são discutidos assuntos da Educação Brasileira: dificuldades, características do alunado e do professorado, tanto das escolas particulares quanto das escolas públicas.
Fico contente.
Penso que enquanto a sociedade brasileira não se interessar pelo tema "Educação Escolar" como se interessa pelo futebol e pelo carnaval, nossas dificuldades nessa área não serão sanadas. E a imprensa pode e deve fazer esse papel de irradiadora e de fomentadora desse interesse.
Avante, Brasil!

quarta-feira, 9 de março de 2011

O MUNDO GIRA, SABIA?!

Há vinte, trinta anos a PBH fazia o calendário escolar da RME e as escolas  o seguiam sem questionar. No final dos anos oitenta, início dos noventa, com o advento da "democracia nas escolas": eleição direta para diretores , fim da "supervisão pedagógica", eleição por seus pares dos "coordenadores escolares", fim da seriação e implantação dos "Ciclos de Formação do Aluno", passamos nós, "Comunidade Escolar", (professores, alunos, funcionários, direção e pais dos alunos) a nos ocuparmos do "Calendário Escolar". À Prefeitura cabia somente determinar o início e o fim do ano letivo; à Comunidade Escolar, em Assembleia, competia definir, conforme legislação federal, o total de dias letivos e de dias escolares a serem cumpridos pelas escolas da RME. Cada escola definia o seu calendário incluindo-se aí os famosos recessos escolares. A "Semana do Professor", vulgo "Semana do Saco Cheio", veio dessa época e permanece ainda hoje.
Com o tempo,  novos políticos e consequentemente novas políticas e muitas, muitas avaliações de desempenho pedagógico dos alunos  depois, descobriu-se que a RME mergulhara no caos da desorganização e falta de rumo.
Então, novas ordens: nada de "subir horário" quando falta professor e mandar o aluno pra casa mais cedo; nada de professor eventual para suprir as constantes faltas de professores ao serviço; nada de tempo para reuniões ( estéreis ) pedagógicas; nada de dispensar o aluno mais cedo sob qualquer alegação...
Agora, o que está em voga é: planejamento do trabalho com base na "Matriz Curricular da PBH"; desenvolvimento das CAPACIDADES/HABILIDADES dos alunos; nada de "perder tempo" com questões de indisciplina do aluno; o foco é no PEDAGÓGICO. É prá isso que a escola serve. A ESCOLA ensina e o ALUNO aprende.
Ufa! Até que enfim! Será?!
Quem foi que descobriu o BRASIL?!...
Ah! O Calendário Escolar? Está nas "mãos" da PBH outra vez, uai! E de quem mais, não é mesmo? 

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Ai, que cansaço!

(...) "Um dia faço escândalo cá a bordo,
Só prá dar que falar de mim aos mais.
Não posso com a vida, e acho fatais
As iras com que às vezes me debordo."(...)

Fernando Pessoa

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Turma Nova Velhos Problemas

Assumi a turma de 2011 no dia dois de fevereiro; são vinte e oito alunos de 11/12 anos; cursam o 6º ano do Ensino Fundamental. Nessa altura do campeonato já tenho ideias claras a respeito do que são capazes, da bagagem de conteúdos consolidados que trazem e dos conteúdos que deverão ser retomados, trabalhados ou mesmo introduzidos. Como antes, trabalharei com cinco disciplinas de ensino: Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História e Ciências. Sou habilitada em Pedagogia e em Letras, mas segundo a atual política pedagógica da PBH, posso lecionar os conteúdos para os quais não sou habilitada, nesta etapa de ensino ( 6º Ano do Ensino Fundamental ).
Isso não é fácil para o professor, pois exige dele estudo e pesquisa das matérias para as quais não está habilitado sem falar da necessidade do estudo constante e da pesquisa permanente até mesmo na área de habilitação específica do profissional.
Fico na regência de classe diariamente por um período de três horas e meia, exceto em um dos dias da semana, no meu caso às segundas feiras, momentos em que fico em tempo integral com a turma: quatro horas e trinta minutos.
De qualquer forma, o tempo de estudo com os alunos é exíguo independentemente de se ficar com eles por três horas e meia ou por quatro horas e meia.
Tirando-se o tempo de chegada dos alunos as sete horas, o agrupamento de todas as turmas na quadra, a oração que é feita com os mesmos, não importando se o ensino público é laico ou não, a fala da direção da escola com os alunos e a ida para a sala de aula, leva-se de dez a quinze minutos. Até que todos tomem os seus lugares e tenha início a primeira aula do dia, no mínimo uns vinte minutos do tempo de quatro horas e meia já foram embora.
Indisciplina, conversas paralelas, alunos que chegam atrasados, alunos sem o material necessário àquela aula... Estes são outros complicadores do cumprimento do horário integral de aula. Até o final do dia seguramente perde-se de quarenta minutos a uma hora na administração dos entraves para que uma aula aconteça na sua plenitude de tempo e de conteúdo sendo apresentado aos alunos.
Com tudo isso, sinto que nos últimos três anos a Rede Municipal de Belo Horizonte vem se reorganizando em todos os sentidos e o reflexo disso já pode ser percebido na prontidão do aluno para acompanhar os estudos do ano escolar no qual está matriculado, ou seja, as defasagens de conteúdos vêm diminuindo; os alunos têm chegado ao sexto ano com um domínio razoável de leitura/escrita e dos conceitos básicos das outras disciplinas de ensino. Isso é bom.
Faz-se necessário, no entanto, a reestruturação das condições de trabalho do professor. Em dias atuais, uma sala de aula que se preze deveria ter as características de uma ilha de edição de uma redação de jornal de televisão, por exemplo. Conteúdos são apresentados aos alunos diariamente e os recursos disponíveis, sem perigo de falhas, são ainda a velha e boa aula na base do "cuspe-e-giz", mimeógrafo a álcool e o mais sofisticado dos recursos e que já se tornou comum também nas escolas que é a reprodução de textos e de exercícios, via xerox.
No mais são professores, boa parte deles, abominando o uso do livro didático, por vários motivos: dos puramente ideológicos àqueles das inadequações dos livros ao nível de conhecimento dos alunos; geralmente os conteúdos dos livros didáticos estão além da capacidade dos alunos de compreendê-los e até mesmo de se interessarem por eles. Então o professor tem que se virar com o xerox de outros textos mais simples e/ou adaptados ao nível de seus alunos.
Eu priorizo o uso do livro didático, mesmo precisando fazer infinitas adaptações a cada página apresentada. No entanto, o livro me permite um direcionamento de trabalho que de outra forma não teria como organizar.
Para o professor que trabalha em dois e até três turnos diários, não há tempo de planejar, organizar material e até mesmo de fazer as correções necessárias dos exercícios dos alunos. A rotina desses professores é: chegar as sete horas, assumir sua turma (e então o que fazer com ela já deveria estar organizado, como na apresentação de um programa de televisão); sair daquela escola, almoçar correndo, assumir outra turma no horário de treze as dezessete horas e trinta minutos; voar para casa, quando dá tempo e assumir outra turma à noite, ou ir para casa, enfrentando a loucura do trânsito, mal ver seus familiares, deitar-se "esbudegada" para no dia seguinte, repetir a mesma jornada.
Como dar atenção ao aluno desmotivado? Como preparar aulas interessantes o suficiente para motivar os alunos e não favorecer as conversas paralelas em sala de aula? Como corrigir trinta textos em uma hora observando se o aluno ortografa e redige dentro do esperado?
Penso que nas condições que são dadas aos professores para desenvolver o seu trabalho diariamente, diariamente ele faz milagres, visto que, embora tudo isso, percebo mudanças positivas no nível de aprendizagem demonstrado pelos atuais alunos (da minha escola, pelo menos) do final do 2º Ciclo de Formação da RME. 
Que venham as mudanças favoráveis ao planejamento e a organização de material didático na vida dos professores...

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Retorno ao trabalho

Semana que vem, dia 01 de fevereiro, retornarei ao meu trabalho. Ainda não me sinto totalmente recuperada da cirurgia de ombro que fiz, mas como sou canhota, penso que poderei trabalhar, mesmo que sentindo dor e com alguma limitação de movimentos do braço e ombro direitos. Meu médico disse-me que já que eu desejo retornar ao trabalho, talvez isso ajude na minha recuperação total.
Estou afastada desde setembro de 2010. Tive pouquíssimos contatos, desde então, com minha escola. Não sei como se deu o encerramento do ano letivo e muito menos com se planejou o retorno para 2011. Voltarei "no escuro"...
Digo isso, porque é no final de cada ano letivo que se delineia como será o seu ano seguinte: que turma lhe será confiada, em que área de trabalho você atuará, quem do grupo atuará na coordenação pedagógica, visto que há vaga para que um dos professores, se eleito for por seus pares, atue como coordenador pedagógico, ficando, dessa forma, fora da regência de turma.
Provavelmente serei encaixada em uma das turmas do 6º ano. Gosto de trabalhar com os alunos de 11/12 anos e meus colegas sabem disso. Então, de certo modo, estou preparada para receber uma turma do 6º ano.
Minha expectativa é grande. Estou com saudades do meu trabalho, de ter uma atividade fora de casa, de ter contato com meus colegas, de encarar novamente, o ser professora, mesmo sabendo das possíveis e enormes dificuldades que certamente virão: alunos com severas defasagens de conteúdos, desorganização pedagógica da escola, indisciplina dos alunos, falta de apoio dos pais, indecisão minha, não saber como agir, como conduzir meu trabalho diante de tantas variáveis fora do padrão, fora do esperado, fora do necessário a um trabalho pedagógico eficiente e condizente com a faixa etária dos alunos.
Enfim, vamos lá! Estou contente de poder retornar.