segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Livro didático,você usa?

Sou do tempo em que os alunos das escolas públicas não podiam comprar ( e ainda não podem) toda a lista do material didático a ser usado por eles e entregues pelas escolas aos seus pais, ao final do ano letivo, no ato da renovação da matrícula. Essas listas continham não só o número de cadernos necessários aos estudos, como também a quantidade de lápis de cor e de escrever, régua, borracha, transferidor,apontador, cola, tesoura sem ponta e os livros didáticos de cada matéria: geralmente o livro de Português, o de Matemática, o de Ciências, o de Geografia e o de História. Estou falando das turmas do ensino fundamental, 1ª à 8ª séries.
Algumas escolas pediam também um dicionário pequeno e um livro de literatura (título previamente escolhido conforme a faixa etária do aluno e o gosto da professora). Ah! Os livros didáticos eram escolhidos pelos professores! Após as férias de julho, as editoras de livros didáticos, interessadas em vender seus livros, visitavam as escolas, deixavam exemplares dos diversos autores, para serem analisados pelos professores. Eram livros de todas as diciplinas e de todas as séries. Recebíamos várias coleções de praticamente todas as editoras de Belo Horizonte e até de outros estados. Reuníamos, analisávamos todos os livros recebidos e escolhíamos aqueles que achávamos serem mais adequados aos nossos alunos, pois estavam de acordo com o seu nível de aprendizado; com os livros de literatura era a mesma coisa; podíamos, assim, fazer uma seqüência mais natural de trabalho, pois sabíamos que esse ou aquele livro didático, da editora tal ou qual, nos atenderia perfeitamente. Nós,invariavelmente, recebíamos treinamento, por parte das editoras, para o trabalho a ser desenvolvido com o livro escolhido.
Atualmente os alunos recebem todos os livros didáticos e um "Kit" de material escolar, do governo federal e municipal. O trabalho da escolha dos livros didáticos e de literatura a serem utilizados com os alunos saiu das mãos dos professores. Existe uma comissão governamental que faz isso por nós. Assim que recebemos a lista de livros a serem "escolhidos" sabemos de antemão que os mesmos já passaram por um crivo dos especialistas do governo. E os livros de literatura? Esses vão diretamente, na forma de um "Kit", para as mãos dos alunos. O professor sequer é informado a respeito das obras enviadas ou recebe também o seu pacote, para então desenvolver o trabalho literário, ao longo do ano letivo, com os alunos.
Quais são as conseqüências disso, então? Recebemos livros que não conhecemos previamente, que não folheamos, que só soubemos deles através de uma resenha e de uma classificação feitas pela comissão citada. Assim, no momento mesmo do trabalho com o aluno, é que tomamos conhecimento do conteúdo do livro "escolhido" e é aí que sentimos a inadequação do mesmo, para o tipo de aluno que temos. Só nos resta, então, fazer adaptações, complementar com outros materiais; se textos, geralmente xerocados, ou, pior ainda, simplesmente deixar o livro de lado, por inadequado que é... E haja desperdício do dinheiro público!
Penso que caso os senhores deputados e senadores queiram fazer uma inspeção nas escolas uma "CPI do uso do livro didático" ficarão estarrecidos ao se depararem com pacotes e pacotes fechados de livros novinhos e jogados pelos cantos das escolas públicas de todo o país.

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