sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Especialista ou Generalista?

Em fevereiro de 1995 a Rede Municipal de Ensino da Prefeitura de Belo Horizonte iniciou o ano letivo sob a égide da chamada "Escola Plural". Costumo dizer que "dormimos escola tradicional e acordamos escola plural". Deixamos de ser escola seriada e nos tornamos "escola por ciclos de formação"; deixamos de ter a reprovação ao final de cada série e passamos à promoção automática; deixamos de ter um currículo como referência para os planejamentos de ensino e passamos a nos guiar por "eixos temáticos"; deixamos de ter o supervisor pedagógico ou o coordenador pedagógico ( função exercida mediante concurso público) e passamos a ter o coordenador eleito por seus pares; deixamos de ser especialistas e nos tornamos generalistas. Todos nos tornamos professores alfabetizadores. Não "dávamos aulas", mas passamos a trabalhar com a "Pedagogia de Projetos" ; atendíamos aos interesses imediatos dos nossos alunos e assim "os conteúdos seriam trabalhados naturalmente", não importando o rumo que viessem a tomar.
Até então, na escola seriada, o ensino fundamental se subdividia em: 1ª à 4ª série - alunos de 7, 8, 9 e 10 anos; 5ª à 8ª série - alunos de 11, 12, 13 e 14 anos. Havia um regimento interno comum a todas as escolas da rede, que dentre outras coisas, previa a retenção do aluno ao final de cada série, caso não alcançasse um mínimo de 60% dos 100 pontos distribuídos ao longo do ano letivo, em avaliações formais e bimestrais.
Os professores eram contratados mediante um concurso público específico para cada etapa do ensino (1ª à 4ª séries, professores denominados P1, formados no ensino médio, Curso Normal); (5ª à 8ª séries, professores concursados, denominados P2, com habilitação específica para a sua área de ensino: graduados em Matemática, em Letras, em Geografia, em História e/ou Biologia) para trabalhar respectivamente as disciplinas afins.
Com o advento da "Escola Plural", tudo isso mudou. Houve a isonomia salarial e a divisão do ensino fundamental em "Ciclos de Formação". Assim, alunos de 6,7,8 e 9 anos - 1º ciclo, alunos de 9,10,11/12 anos, 2º ciclo, alunos de 12,13,14/15 anos 3º ciclo. Ao se transformar a seriação em ciclos de formação instituiu-se também uma espécie de limbo para os alunos da antiga 5ª série; eles passaram a ser denominados de pré-adolescentes do final do 2º ciclo e, dependendo da escola em que estudavam/estudam, ora eram/são alunos de professores especialistas, ora alunos de professores generalistas. Na escola onde trabalho, eles são atendidos pelo antigo professor P1, hoje "Professor Municipal", graduado, concursado, mas não especialista na disciplina de ensino. Geralmente são formados em Pedagogia, ou em Letras; poucos em Matemática; pouquíssimos em Biologia, por exemplo.
Eu sou um exemplo claro dessa situação. Minha formação é em Pedagogia e em Letras. Trabalho com alunos da antiga 5ª série e ministro aulas, para essa turma de: Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História e Ciências. Adoto os livros didáticos específicos para os alunos de 5ª série (os livros vêm com essa terminologia porque não existem "livros específicos para ciclos de formação").
Sinto dificuldade em trabalhar os conteúdos para os quais não tenho uma formação específica. É evidente o quanto o trabalho fica superficial, mesmo seguindo o livro didático, quase que como uma "Bíblia". Meu foco, então, dada a minha formação, é em leitura e compreensão destes textos, mas o aprofundamento no estudo de cada conteúdo de ensino ou até mesmo a exploração minuciosa do que propõem os autores dos livros didáticos adotados fica prejudicada pela falta do conhecimento específico da disciplina, que não tenho.

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