segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Escola Plural:um outro olhar

Em novembro de 2004, estava eu na direção eleita de uma das escolas da Rede, quando fui surpreendida pela então nova "Proposta Político-Filosófica de Ensino", da Rede Municipal, denominada Escola Plural". Ouvira, naquele instante e pela primeira vez a denominação "Escola Plural". Estranhei o nome e estranhei mais ainda a forma como tal projeto chegava até mim.
Na semana seguinte, recebi uma convocação da SMED "Secretaria Municipal de Educação" para tomar conhecimento oficial da nova proposta de escola para a Rede. Achei o fato tão grave e ao mesmo tempo tão insólito que não quis participar sozinha desse evento. Levei comigo, para a reunião de apresentação da nova escola, todos os professores do turno da tarde, horário do evento.
O então Secretário Adjunto da Educação Municipal, Professor Miguel Arroyo, iniciou sua exposição dizendo-nos que a nova proposta de política educacional municipal surgira dos movimentos educacionais da própria rede e que aquele documento nada mais era do que o reflexo de tais movimentos.
Faz-se necessário esclarecer, porém, que as décadas de 80/90 caracterizaram-se por movimentos em prol de uma educação mais global, participativa, progressista, construtivista e desenvolvida a partir de projetos pedagógicos, que atendessem às necessidades e à cultura dos alunos e das comunidades nas quais as escolas se encontravam. Cada escola era incentivada a ter o seu "Projeto Político Pedagógico" e os professores recebiam onorários, extra grade curricular, para desenvolver tais projetos. No entanto, nem todas as escolas chegaram a ter aprovados, pela Prefeitura, seus projetos, pois isso dependia fundamentalmente do nível de organização política e pedagógica de cada uma delas.
Pode-se depreender daí que assim como em cada sala de aula há grupos diferenciados de alunos e por "n" motivos essa heterogeneidade se estabelece, assim também, acontece em relação às escolas. Desta forma, é fato que um grupo de escolas da época estava bastante avançado nas discussões concernentes à sua organização administrativo-pedagógica; outro grupo estava a meio caminho nessas mesmas discussões e outras tantas escolas não havia alcançado qualquer nível mais sistematizado de organização político-pedagógica.; trabalhavam segundo os moldes tradicionais e cristalizados de um ensino mecânico e sem sentido para o aluno.
Pois bem, veio a "Escola Plural" e nivelou tudo por baixo. Jogou no mesmo balaio as escolas de ponta, as intermediárias e as alienadas e/ou tradicionais no que esse termo tem de negativo...
Tomamos conhecimento do projeto em novembro de 94 e em fevereiro de 95 já estávamos praticando a "Escola Plural". Tivemos uma semana de treinamento no final do mês de janeiro/início de fevereiro. De uma hora para outra, não tínhamos mais: a referência da seriação, a referência curricular, a referência do tempo de permanência com o aluno em sala de aula, a referência de quem trabalharia o que com os alunos. Deveríamos adotar o método de trabalho por projetos a chamada "Pedagogia de Projetos" sem termos sido treinadas,para tal, sem sequer sabermos, muitos de nós, do que se tratava. Aqueles(as) mais curiosos(as) ou mais antenados(as) é que tomavam a frente na distribuição das tarefas entre os professores e levavam para a escola textos referentes à "Pedagogia de Projetos". Ah! Não seria mais de bom tom ficarmos atrelados a conteúdos, a livros didáticos; cartilhas, "nem pensar"! E reprovar o aluno ao final do ano, por não ter aprendido o que deveria, tornou-se ilegal - a Escola Plural não nos permitia isso. Ficamos assim, batendo cabeça, durante todo o ano de 95/96 e porque não dizer, até hoje! A escola virou um caos, ninguém sabia mais como desenvolver seu próprio trabalho. Jargões da função como "dar aula, dar notas pelos trabalhos dos alunos, ensinar a ler, ensinar a escrever, usar a cartilha ou o pré-livro, ou o primeiro livro de leitura, ensinar a tabuada da multiplicação e da divisão, dar ditado para avaliar o padrão ortográfico dos alunos, tomar a leitura do aluno", dentre outros, até então tão familiares a nós, tornaram-se verdadeiros palavrões, rótulos de professores tradicionais, etc, etc, etc...
Hoje, leio os jornais estarrecida pois estes nos dão a entender, nas matérias que tratam do assunto, que a "Escola Plural" foi obra de professores que de repente, na Rede toda, deixaram, por um capricho qualquer, de avaliar seus alunos e dar uma nota por seus trabalhos e, pior ainda, "passavam os alunos de um ano para o outro sem saber nada"! Em nenhum momento leio a verdadeira história da implantação desse projeto na RME.
Em nenhum momento se esclarece ou se afirma que os professores são reféns da chamada "Escola Plural", assim como os alunos e seus familiares.
Sim, na verdade somos todos reféns das políticas educacionais implantadas pelos políticos de plantão e seus administradores públicos.

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