terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Pré-adolescentes-adultos

Estou de férias. Ontem tive o último contato com meus alunos e hoje com alguns de seus pais, digo, de suas mães. Minha escola trabalha com alunos de até 12 anos, final do 2º Ciclo; para dar continuidade a seus estudos, são encaminhados a outra escola municipal da região, quando concluem o ensino fundamental, fazendo o 3º Ciclo de Formação.
Na segunda feira realizamos uma solenidade mais formal no auditório da escola para as turmas do final do ciclo que se despediam, a minha inclusa, e, na cantina, após essa solenidade, um lanche com doces, refrigerantes e salgadinhos. Nem todos os meus alunos participaram. Chovia muito e eles preferiram ficar em casa. Aqueles presentes estavam alegres, felizes mesmos; fizeram bonito, comportaram-se adequadamente tanto no auditório quanto na cantina; são aprendizagens de convivência social que somente nestas oportunidades podemos avaliar e nos sentirmos felizes com o amadurecimento deles.
Hoje havia a expectativa do último contato com os pais. Preparei gráficos demonstrando a evolução pedagógica da turma ao longo do ano letivo ; fiz um pacote contendo as avaliações de Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História e Ciências; o Boletim Escolar, uma tabela de notas e conceitos da turma ( onde os pais têm uma visão dos resultados do filho e de cada um dos colegas dele ) na mesma tabela; uma mensagem pessoal de "Feliz Natal" para cada aluno e uma lembrancinha.
Às 8h30min, horário marcado para início da reunião, contava com uma pessoa que se dizia tia de um dos meus alunos e um pai que chegou a seguir. Essa "tia" estava apressada e me perguntou se eu iria falar alguma coisa na reunião; queria só pegar o pacote do sobrinho e ir embora.
Foi um "balde d'água fria"na minha ansiedade! Prepara-me para dizer umas palavras finais aos pais, fazer algumas recomendações, pedir-lhes que não deixassem de incentivar os filhos nos estudos, que os acompanhassem, que lhes dessem apoio, etc, etc, etc...Mas não pude fazer nada disso. Os pais, modo de dizer, as mães, as que compareceram, chegaram aos poucos, todas apressadas... Desisti de falar-lhes, limitei-me a entregar-lhes o pacote de provas e pedir-lhes para assinarem a lista de presença. Aquelas que se mostravam um pouco mais calmas e puxavam algum assunto recebiam de mim a atenção devida, mas sem entusiasmo. Havia um pedido da escola para que avaliassem, por escrito, os trabalhos desenvolvidos com sugestões de melhoras; alguns preencheram essa ficha. No mais, entreguei o restante das provas aos alunos mesmos, aqueles que compareceram, sem os seus familiares. Pedi-lhes que assinassem a lista de presença pelos pais, já que os mesmos abriram mão dessa responsabilidade. Os alunos estranhavam e perguntavam: _ Fessôra, eu posso assinar no lugar da minha mãe?! E eu lhes dizia: _ Não, você vai assinar o seu nome como aluno e por sua mãe ( P/mãe).
Essa foi a última lição deles sob minha responsabilidade: quando os pais deixam de cumprir uma tarefa que é deles, não resta outra saída ao filho do que fazer por eles! É assim que muitos se tornam "adultos" antes da hora.
Segundo o colunista Cláudio de Moura e Castro em seu artigo na edição de Veja dessa semana, os pais dos alunos alunos pobres não valorizam o estudo dos filhos e pouco se importam se estes passam de ano tendo aprendido o que lhes foi ensinado, ou não. Tanto faz. O estudo não é um valor em suas vidas.
É uma pena que seja assim, mas constato esse fato todos os dias, com raras exceções.

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