quarta-feira, 6 de maio de 2009

Quando menos vale mais

Já disse nesse espaço, por várias vezes, que pertenço à RME de BH, desde 1976. Entrei por concurso, como professora do ensino fundamental e no ano seguinte fui "Enquadrada" como Supervisora Pedagógica. Estive nessa função até 1999 e no período de 91 a 94 fui diretora da escola, cargo ocupado por eleição direta.

Portanto, tenho uma longa experiência como funcionária da educação municipal; passei por várias administrações e, consequentemente, adaptei-me às diversas políticas educacionais da "RME".

Dos meus primeiros anos de professora municipal, até os dias atuais, lidei com alunos oriundos das famílias de baixa renda, moradores da periferia da cidade; alguns contando com o total apoio familiar, outros nem tanto e outros mais, de jeito nenhum!

Sendo assim, em qualquer época, de bonança ou de crise, de bolsa família ou não, entra ano, sai ano e as turmas apresentam um perfil econômico, social e psicológico, muito semelhante.

Grosso modo, uma turma constitui-se de mais ou menos 10% de alunos de baixo rendimento escolar, outros 10% com alto rendimento e um grupo intermediário, em torno de 80% deles, de rendimento regular, esperado.

Nesse perfil, destacam-se alunos muito motivados a estudar, alunos apáticos em relação aos estudos e alunos dependentes de estímulos familiares e da própria escola, para alcançar um bom rendimento escolar. Geralmente alcançam, quando há interesse real tanto de professores quanto de pais.

No grupo dos alunos apáticos, percebemos diversos problemas extra-pedagógicos que interferem na sua qualidade de estudo e de rendimento; vão desde queixas constantes de "dor de dente; dor de barriga; sonolência; apatia e/ou hiperatividade, a abandono familiar, uso de droga, violências várias,etc

Estou realçando tudo isso para dizer que nós professores trabalhamos sob as condições citadas acima e isso nos dá crédito, pois detemos conhecimentos da rotina escolar do aluno e do acompanhamento que recebem de seus familiares, que outros profissionais da educação, mas fora da sala de aula não detêm.
No entanto, nada disso importa aos "políticos de plantão", quando resolvem fazer mais uma "Reforma do Ensino".

Há 15 anos, a "Escola Plural" chegou para nós da "Rede"na forma de " pacote-que- nivelava- todas- as- escolas-municipais-por-baixo". O ensino fundamental (1ª a 8ª série) enquadrou-se primeiro à tal fórmula e o ensino médio (hoje de responsabilidade do Estado) sofreu depois e continua sofrendo, as consequências desse projeto de escola maluco e irresponsável.

Até 1994, todas as escolas municipais contavam com diversos serviços extra-pedagógicos, oferecidos aos alunos que deles necessitavam.
Cada escola, por exemplo, contava com o "professor recuperador" e este trabalhava, extra-turno, as defasagens de aprendizagens daqueles alunos que evidenciavam um ritmo de aprendizagem diferenciado, para menos, dos demais. Pois bem, esse serviço foi simplesmente desmontado, com o advento da "Escola Plural".

Hoje, 15 anos depois, a nova administração da Prefeitura oferece com "pompas e circunstâncias" e, mais uma vez, sem ouvir os professores, o serviço de "Reforço Escolar"...

Na escola onde trabalho , esse serviço acontece no mesmo turno de estudo do aluno. Ou seja, o aluno vai à escola para assistir aulas de "Língua Portuguesa, Matemática, Geografia, História, Ciências, Artes e Educação Física". E é deslocado da sua turma de origem, para fazer "aulas de reforço escolar"! Pode, uma coisa dessas?!

"É A TREVA", como diz a personagem adolescente de uma novela atual...
Se não, vejamos. Sou professora de uma turma de 25 alunos do final do 2º Ciclo, (antiga 5ª série). Desse grupo, 10 alunos apresentam sérias defasagens de conhecimentos em Língua Portuguesa e em Matemática, para ficar nessas duas disciplinas de ensino. A partir da dinâmica de "Reforço Escolar" em curso, não sei mais o que fazer quanto ao ensino a ser ministrado a esses alunos. Eles pertencem ao mesmo tempo à minha turma e ao grupo dos alunos em reforço escolar. O trabalho que está sendo desenvolvido com eles pela professora recuperadora (orientada e acompanhada por profissionais ditos "Acompanhantes Pedagógicos" da escola, vindos da Secretaria Municipal de Ensino), não guarda nenhuma relação com o que tenho desenvolvido com os mesmos alunos, quando estão comigo em sala; sequer conheço a proposta pedagógica desse reforço escolar. E tem mais, sou a professora referencial da turma, portanto a responsável pela aprendizagem e consequente promoção do grupo ao 3º Ciclo do ano que vem(6ª, 7ª e 8ª séries).
O que fazer? A sala de aula virou um entra-e-sai de aluno, não importa que conteúdo eu esteja desenvolvendo com a turma. Os alunos do "reforço" estão desorientados, não sabem a quem seguir, se a mim ou à professora de reforço. E eu não sei como esses alunos serão avaliados durante e ao final do ano letivo, pois se vão para a aula de reforço, perdem o que está acontecendo em sala de aula com o restante do grupo; se permanecem na sala, perdem a oportunidade do "reforço escolar".
O óbvio, para mim, seria fazer a aula de "reforço escolar" extra-turno, mas quem convence à cúpula pensante, disso?!

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