quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Realidade Nua e Crua

Estamos há 14 anos do advento da "Escola Plural" e um dos seus pilares foi/é o trabalho por ciclo de idade de formação. Desde 1995, que todas as escolas da RME de BH deixaram de agrupar os alunos sob a lógica da seriação/repetência ao final de cada ano letivo.
Pois bem, desde essa época está em vigor, com uma ou outra alteração, a lógica do Ciclo de 3 anos de duração e de Formação (infância, pré-adolescência e adolescência) e, conforme esta organização os alunos deveriam ser agrupados seguindo-se os seguintes critérios: 1º Ciclo - alunos de 6/7 e 8/9 anos de idade - com uma retenção ao final do ciclo, para o aluno abaixo do nível mínimo de conhecimentos adquiridos durante os estudos do ciclo; 2º Ciclo - alunos de 9/10 e 11/12 anos de idade, com uma retenção ao final do ciclo para os alunos abaixo da média; 3º Ciclo - alunos de 12/13/14/15 anos de idade estando previsto, também neste ciclo, a possibilidade de retenção ao final do mesmo. Ou seja, caso o aluno seja retido por três vezes, ao final de cada ciclo cursado, ele encerrará o ensino fundamental, ou chegará ao final do 3º ciclo com 15 anos, correto? Não! Se ele ficar retido ao final de cada um dos 3 ciclos de formação, encerrá o ensino fundamental aos 17 anos.
Minha turma atual, composta por um total de 28 alunos está subdividida da seguinte forma: 2 alunos de 14 anos, 10 alunos de 13 anos, 11 alunos de 12 anos e 5 alunos de 11 anos. Trabalho com meninos e meninas no início da pré-adolescência e meninos e meninas já adolescentes.
Isso pode parecer de menor importância, mas no dia-a-dia do trabalho com eles, faz toda a diferença: no aspecto físico, na maturidade e no comportamento; há uma heterogeneidade tão acentuada entre eles, que torna o trabalho pedagógico pesado, tenso e de expectativa frustrante já no início do ano letivo. São questões pedagógicas, (defasagens de toda ordem) familiares,(desestrutura, rejeição, abandono) econômicas,(desemprego, baixa renda, só o "Bolsa Família" como recurso) culturais, (o mundo deles e seus valores são outros, não "batem" com os valores difundidos pela escola, por exemplo: justiça, responsabilidade, valor do estudo, honestidade, etc) . Também há problemas sérios na ordem da saúde orgânica (dor de dente, anemia, verminose, raquitismo, dentre outros) e de saúde emocional: dispersão, desinteresse, apatia, hiper-atividade, depressão, uso de drogas...
Trabalhar nessas condições é muito difícil; é quase um milagre percebermos que apesar de tudo há aprendizagem, há progresso pedagógico, há sucesso escolar, para muitos deles!

Nenhum comentário: