Lá pelos idos de 1983, uma grande amiga e eu, então supervisoras pedagógicas em escola municipal, publicamos um trabalho na "Revista AMAE EDUCANDO" cujo título fora o seguinte: "Drummond e Poesia para Criança".
Naquela época, trabalhávamos com crianças de 9/10 anos interessadíssimas pelos textos literários, dentre eles especialmente a poesia. O comum, então, nessa faixa etária, era que se trabalhasse com os poemas de Henriqueta Lisboa, Cecília Meireles e até Olavo Bilac, mas Drummond, poesia e criança parecia não se encaixar muito bem. Conversando sobre isso, resolvemos apresentar Drummond aos nossos alunos a partir do poema "Infância". Desenvolvemos, para tal um plano de aula, que passo a relatar, fazendo, no entanto, algumas adaptações às concepções pedagógicas atuais:
"Planejamento de Aula de Poesia (Hoje, sequência didática)
Módulo: Língua Portuguesa
Gênero textual: Poesia
Tema: Infância
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Objetivos:
-Entrar em contato com o texto de Drummond a partir do poema "Infância".
-Identificar o "eu lírico" do poema e estabelecer relações entre a temática abordada e a vida de cada leitor.
-Citar trechos do poema que produziram sentimentos ao serem lidos, explicitando-os.
-Pesquisar sobre Drummond e listar outros poemas de interesse da turma.
Conteúdos
- Poema, um gênero textual.
-Carlos Drummond de Andrade, grande escritor mineiro de Poemas e Crônicas, cujo público alvo principal é o adulto.
-Algumas características do poema em estudo.
-Pesquisa sobre Drummond e de outros poemas seus adequados à faixa etária em questão.
Material necessário
Cópias do poema em estudo.
Recursos adequados (livros, enciclopédias, Internet) à pesquisa sobre Drummond.
Desenvolvimento
-1ª etapa
Inicie a atividade com uma roda de conversa, apresentando aos alunos o autor:
_Vocês conhecem ou já ouviram falar a respeito de Carlos Drummond de Andrade? Já leram algo sobre ele?
_Carlos Drummond foi e permanece sendo um grande poeta brasileiro. Nasceu em Itabira, Minas Gerais, mas viveu bastante tempo no Rio de Janeiro.
Foi escritor consagrado de Crônicas, Contos e Poemas; publicou muitos livros. Nasceu no dia 31 de outubro de 1902 e morreu no ano de 1987. Pois bem, hoje vocês conhecerão um poema escrito por ele.
-2ª etapa
Resolução de dificuldades (estudo do vocabulário)
Comente com o aluno:
_No poema a ser lido, vocês encontrarão palavras e/ou expressões, cujos significados estudaremos primeiramente.
Escreva no quadro (ou use algum outro recurso), as expressões: cosendo, Robinson Crusoé, meio-dia branco de luz, senzala e campeava, por exemplo.
Converse com os alunos, incentive-os a dizerem o que sabem sobre cada uma das expressões destacadas:
cosendo (coser) = costurando (costurar)
Robinson Crusoé = personagem de uma história infantil
meio-dia branco de luz = dia muito claro, de luz intensa
senzala = casa onde moravam os escravos
campeava = andava a cavalo pelo campo cuidando da fazenda
3ª etapa
Apresentação do poema à turma
Converse com os alunos e pergunte-lhes:
_ Como é que cada um de vocês passa o dia?
_E seu pais o que fazem durante o dia? Como eles são? Calmos, tranquilos, ou não?
_ Pois bem, o poema que eu trouxe para vocês fala sobre a vida de Drummond criança.
_Como terá sido a sua vida de menino de 1910?
_Vocês gostariam de saber?
4ª etapa
Primeira leitura do poema
Da professora para os alunos, que acompanham-na a partir das cópias distribuídas.
Infância
Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia.
Eu sozinho menino entre mangueiras
lia a história de Robinson Crusoé.
Comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala _ e nunca se esqueceu
chamava para o café.
Café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom.
Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
_Psiu... Não acorde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito.
E dava um suspiro... que fundo!
Por ser esta a leitura/modelo, deverá ser feita:
-com expressão e ritmo próprios;
-com modulação da voz conforme a musicalidade dos versos;
-com naturalidade, sem afetação ou declamação.
Segunda leitura do poema
Professora e alunos leem juntos, com o mesmo cuidado da leitura anterior.
5ª etapa
Debate e/ou conversa sobre a temática do poema e sobre as impressões causadas nos leitores:
_Estimular os alunos a relatarem suas primeiras percepções a respeito do poema.
_Fazer questionamentos, tais como: quais fatos da memória afetiva do autor estão presentes no poema; de que sentimentos ele se lembra; que expressões são usadas para descrever o dia; como ele se refere à preta velha; o que ela representava para ele; como o autor nos apresenta seus pais; a que conclusão o autor chega ao final do poema; por quê?
6ª etapa
Leitura coletiva do poema.
AVALIAÇÃO:
Divida a turma em grupos para que cada aluno possa compartilhar, nos pequenos grupos, as emoções vividas e percebidas com a leitura do poema.
Expressar esses sentimentos a partir das seguintes atividades:
-colar o poema no caderno de "Língua Portuguesa";
-copiar o verso ou a estrofe que mais chamou-lhes a atenção;
-ilustrar o poema;
-fazer um coro falado ou imaginar uma forma de o poema ser apresentado à turma;
-pesquisar sobre Drummond a apresentar aos colegas o resultado da pesquisa.
-coletar outros poemas de Drummond para serem lidos pela turma.
Obs. À época, os alunos de uma das turmas que trabalharam com o poema de Drummond, produziram o seguinte texto:
"Homenagem à Carlos Drummond de Andrade
Em 1902, nasce em Itabira, Minas Gerais, uma criança igual às outras, para mais tarde tornar-se um homem especial, um grande poeta, você: Carlos Drummond de Andrade.
Carlos Drummond, você enriquece a literatura brasileira, tornando-a conhecida em vários países.
O Brasil inteiro reconhece seu talento e lhe presta merecidas homenagens no seu octogésimo aniversário.
Continue elevando sempre o nome do Brasil.
Que Deus lhe dê força e saúde para continuar aproveitando a sua sensibilidade e sua capacidade de observar coisas comuns e torná-las especiais em forma de poemas, crônicas ou contos.
Apesar de seus oitenta anos, você continua com a cabeça jovem e atuante.
A você, o nosso respeito e gratidão por tanto talento acumulado.
Você é motivo de orgulho de todos nós mineiros.
Por tudo, muito lhe agradecemos".
Revista AMAE EDUCANDO, agosto de 1983,
nº156, ano XVI, p.5-7.
Bons tempos aqueles! Que saudade!
sábado, 28 de março de 2009
sexta-feira, 20 de março de 2009
A Senha do Mundo
Distinção
O Pai se escreve sempre com P grande
em letras de respeito e de tremor
se é Pai da gente. E Mãe, com M grande.
O Pai é imenso. A Mãe, pouco menor.
Com ela, sim, me entendo bem melhor:
Mãe é muito mais fácil de enganar.
(Razão, eu sei, de mais aberto amor.)
Andrade, Carlos Drummond de,
A Senha do Mundo, Rio de Janeiro,
Coleção Verso na Prosa
Prosa no Verso, Ed. Record, 1997,p. 38
O Pai se escreve sempre com P grande
em letras de respeito e de tremor
se é Pai da gente. E Mãe, com M grande.
O Pai é imenso. A Mãe, pouco menor.
Com ela, sim, me entendo bem melhor:
Mãe é muito mais fácil de enganar.
(Razão, eu sei, de mais aberto amor.)
Andrade, Carlos Drummond de,
A Senha do Mundo, Rio de Janeiro,
Coleção Verso na Prosa
Prosa no Verso, Ed. Record, 1997,p. 38
quinta-feira, 12 de março de 2009
A Palavra Mágica
Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
Professor
O professor disserta
sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudi-lo?
Não.
O professor baixa a voz
com medo de acordá-lo.
Andrade, Carlos Drummond de, 1902-1987
A Senha do Mundo - Rio de Janeiro: Record
1997. 9Verso na prosa-prosa no verso)
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
Professor
O professor disserta
sobre ponto difícil do programa.
Um aluno dorme,
cansado das canseiras desta vida.
O professor vai sacudi-lo?
Não.
O professor baixa a voz
com medo de acordá-lo.
Andrade, Carlos Drummond de, 1902-1987
A Senha do Mundo - Rio de Janeiro: Record
1997. 9Verso na prosa-prosa no verso)
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