quarta-feira, 13 de abril de 2011

Um dia de Professora

Acordo às 5h, levanto, tomo banho, faço e tomo o café da manhã. Saio de casa às 6h15min. Entro no ônibus às 6n20min. Desço no ponto intermediário às 6h 40min; às 6h41min já estou dentro do ônibus que me deixará, às 6h55min, no portão da escola onde trabalho.
Entro, atravesso o pátio aberto e vou direto até minha sala de aula. Organizo as carteiras dos alunos, deixo sobre a mesa o material da primeira aula, o canetão de escrever no quadro branco e as fichas com os nomes dos alunos. O sinal toca às 7h anunciando a entrada do turno. Desço, atravesso o pátio novamente até à quadra coberta, onde encontro a minha turma.
A Coordenação Pedagógica da escola recebe os alunos com os cumprimentos, os recados e a oração do dia. Às 7h10min todas as turmas dirigem-se às suas respectivas salas de aula. Subo com meus alunos.
Os mais pontuais e responsáveis colocam-se imediatamente em seus lugares, outros permanecem fora da sala embora saibam que deveriam ter subido comigo. Aguardo por dois três minutos, fecho a porta e cumprimento a todos animada nos primeiros minutos de trabalho. Metade da turma está a postos, a outra, indecisa e dispersa, não sabe se entra ou se conversa.
Comunico, mesmo sabendo que todos têm o horário das aulas do dia, apenas como reforço e introdução, de que teremos aula de "Língua Portuguesa"; vamos dar continuidade ao trabalho de ontem quando... Percebo que todos estão dispersos, ninguém me ouve, conversam animados uns com os outros como se estivessem na pracinha da igreja. Elevo a voz em mais um cumprimento de "Bom dia"  para que percebam onde estão e por quê estão ali. Não adianta, ninguém me ouve e nem se interessa por mim. Dou início à atividade de aula assim mesmo na esperança de que vendo que a aula já começou, acalmem-se e me permitam trabalhar o assunto, já de conhecimento prévio deles. (Levaram uma tarefa para terminar em casa e eu preciso me certificar de que todos estão de posse do xerox com o exercício que deveriam ter terminado em casa.)
Olho para o relógio e percebo que mais uma vez não concluiremos a atividade iniciada na aula anterior e sem isso, impossível caminhar com o que estava planejado para hoje.
O grupo de quem entrou na sala comigo está atento, vejo que a maioria fez a tarefa de casa e me sinto satisfeita. O outro grupo continua conversando, ainda não percebeu a dinâmica daquele momento; os alunos conversam entre si. Chamo-lhes a atenção, peço silêncio, explico o que estamos fazendo e do que eu preciso para dar continuidade ao trabalho de "Construir o Calendário das Gentilezas". Tema proposto há três semanas e algumas sequências de aulas nesse sentido, mas a coisa ainda não vingou... Nesse ambiente não muito propício à boa aprendizagem, porque há muito barulho de conversas paralelas e alguns alunos (os mesmos) dispersos; concluo a aula de "Língua Portuguesa". São 8h, hora da aula de Ciências e temos que trocar de material. Alguém bate á porta. Atendo. Um aviso de que a professora de Educação Física está substituindo a uma outra colega faltosa e, portanto, eu e meus alunos não teremos Educação Física. Era o momento com o qual contava para grampear as avaliações trimestrais da semana que vem. Enfim, mil coisas são feitas nesse espaço de tempo de uma hora, em que a turma fica com outra professora. Se os alunos já estavam agitados no início do horário, com a notícia de que não terão a aula de Educação Física ficam mais agitados ainda. E eu fico com a certeza de que terei de improvisar ( coisa que  odeio) uma hora de aula, que é da responsabilidade de outra professora. Tal qual os alunos, também não fico feliz com essa situação.
Fomos para o auditório no horário que seria da aula de Educação Física. Assistimos a um filme relacionado ao texto da aula de "Língua Portuguesa", sobre "Peter Pan". Os alunos não gostaram do filme; vimos só parte dele porque não deu tempo para ver tudo. Combinamos que na próxima aula veremos outra versão para o cinema de "Peter Pan"; faremos, então, uma comparação das linguagens e das abordagens dos dois diretores, para o mesmo tema.
Às 10h20min voltamos para a sala de aula. Teríamos ainda pela frente mais uma hora de aula e dessa vez, Matemática. Iniciamos um estudo sobre Geometria, primeiros conceitos. Registramos, no quadro, conceitos retirados do dicionário sobre geometria, geométrico e geometrizar (nem sabia que a expressão geometrizar existia e que estava dicionarizada). A seguir todos receberam um xerox de diversos sólidos geométricos representados na forma plana, aberta - todas as faces e arestas e linhas pontilhadas - para serem montados como atividade de "Para Casa".
Às 11h20min, graças a Deus, para eles e para mim, tocou o sinal e todos saíram correndo da sala de aula...
Eu, finalmente, tive sossego para guardar o meu material de trabalho no armário, trancar a porta e terminar frustrada e infeliz mais um dia de trabalho.
Em nenhum dos momentos citados acima, desde as 7h, consegui um instante sequer de trabalho tranquilo  com meus alunos; em qualquer situação: no início do horário, no meio, antes ou depois do recreio, antes ou depois de uma aula mais "leve", vendo um filme ou ouvindo uma história; fazendo um trabalho intelectual ou manual; em nenhum momento consigo deles silêncio, foco, atenção, motivação, interesse, trabalho sem briga, sem voz elevada para me fazer ouvir.
Parte da turma está sempre agitada. E os alunos mais desatentos e sem compromisso são os mesmos. Um grupo de seis em vinte e oito.
Não há nada que os convença da necessidade de se criar e manter um ambiente adequado ao trabalho intelectual , que é o de ensinar/aprender.
Nas conversas que já mantive com as famílias desses alunos percebo, invariavelmente, que também elas não sabem o que fazer com os filhos; perderam as rédeas, não têm autoridade sobre eles e isso se reflete na sala de aula . Quando os pais não sabem mais o que fazer com os filhos pouco se consegue desse aluno na escola. E, se não há a cobrança e o acompanhamento da família em casa, o trabalho do professor, na escola, se torna inócuo, sem efeito, sem sentido e sem valor.

sábado, 9 de abril de 2011

INTRIGANTE

Terrível, não há o que dizer, não há sentimento esternalizado que exprima o horror do acontecido na escola municipal do Rio de Janeiro. Nada irá confortar essas famílias vítimas do assassino de tantas filhas e filhos ainda desabrochando para a vida... Mas algo tem me intrigado bastante. O silêncio dos professores dessa escola, da direção, dos funcionários...
A imprensa repercute o que aconteceu aos alunos, como se estes estivessem sozinhos na escola. Somente um professor se manifestou no "Jornal Nacional" de ontem.
Acredito que  professores, funcionários e toda a direção da escola atingida devem estar sofrendo tanto quanto qualquer um de nós , mas eles, sofreram o impacto da presença do tresloucado ser; ouviram e viram tiros serem desferidos contra seus próprios alunos; temeram por suas vidas e pelas vidas deles; sentiram na pele a responsabilidade de serem os adultos responsáveis por tantas vidas em perigo.
Necessitarão, com certeza, tanto de assistência psicológica e médica, quanto as crianças e as famílias vitimadas.
Será que as autoridades públicas do Rio de Janeiro estão se preocupando com a saúde emocional dos professores, funcionários e diretores da escola? Ou eles serão abandonados à própria sorte sem o dó e nem a piedade de ninguém?!...
Espero que não. Essas pessoas também necessitam de amparo. 

segunda-feira, 4 de abril de 2011

O Professor e a Tortura Emocional

     O Professor é um ser que sofre de tortura emocional e física diariamente. Isto porque lida com todo o tipo de aluno; desde os emocionalmente tranquilos, equilibrados e resolvidos até àqueles que não conseguem perceber qual é a importância da educação escolar na vida deles.
     Os alunos bem resolvidos, e isso não significa, absolutamente, que sejam os economicamente favorecidos, são aqueles que contribuem, constantemente, em todas as situações, para que o ambiente escolar seja favorável ao rendimento pedagógico esperado e eficiente. A atitude desses alunos é sempre de foco, de concentração, de participação e, logicamente, obtêm, sempre, um rendimento excepcional em relação aos colegas que agem contrário ao exposto acima.
     O outro grupo, o dos alunos mal resolvidos, nem sempre em maior número na turma, é aquele que desestabiliza o ambiente da sala de aula. Os participantes desse grupo, desencadeiam, sem mais nem menos, várias ações, ora em conjunto, ora individualmente que derrubam o equilíbrio e a sensatez do professor.
     Do nada, em plena aula de Geografia, por exemplo, ouve-se um barulho semelhante ao de um "pum" estridente. É o suficiente para deslanchar na turma o riso, o comentário acusatório em voz alta, a conversa, a discussão, o despero do professor. Mesmo sabendo que o "pum" foi um "pum" fictício, de mentirinha, as consequências desse ato gaiato, na turma, são verdadeiras, reais, concretas.
     Até voltar a calma novamente, adeus aula de Geografia, adeus ambiente de aprendizagem, adeus planejamento de aula, executado.
     Esse é um dos atos mais inocentes do dia a dia de uma sala de aula. Há os pedacinhos de borracha que vêm de todas as direções nas cabeças dos alunos que se sentam à frente e quase sempre sobram também para o professor; assim como as bolinhas de papel, as bolsinhas de canetas ou os cadernos de colegas, apanhados sobre suas mesinhas, e, de propósito, colocados nas mochilas de outros colegas, só prá chatear, provocar reclamações de que tiveram seus pertences "roubados" e fazer com que a aula seja interrompida, para que se resolva mais este problema.
     Há ainda as idas ao banheiro ou ao bebedouro fora do horário do recreio. Mesmo que sejam estipuladas regras e/ou combinados para regular essas saídas, todos os dias os mesmos alunos interrompem a aula, não importa o que esteja sendo trabalhado: uma introdução de conteúdo, uma explicação para uma questão específica, a leitura de um texto que posteriormente será trabalhado em discussões orais e em exercícios de escrita, nada, nada é mais importante para determinados alunos do que sair da sala, embora autorizados, mas sem se importar se com isso irão perder um momento importante da aula.
Cinco, seis alunos em um grupo de vinte e oito, trinta, conseguem monopolizar total e integralmente a atenção do professor, em detrimento do bom andamento da aula e em detrimento dos alunos que estão acompanhando as atividades com gosto e motivação para o estudo.
Trabalhar nessas condições significa terminar mais um dia  sob forte estresse, sob forte sentimento de frustração, sob forte sensação de angústia, de sofrimento, de cansaço físico e emocional.
Não há argumento, não há estabelecimento de regras, não há conduta profissional, não há atitude disciplinar que demovam esses alunos da necessidade de desestabilizar diariamente a sala de aula, os colegas de sala e os professores que atuam com eles.
O que fazer?! Que medidas tomar? Expulsar da aula, mandar esses alunos para a Coordenação Pedagógica, conversar particularmente com eles, chamar os pais e colocá-los cientes dos comportamentos indesejáveis e inadequados dos filhos? Mudar a aula, tornar o estudo mais interessante? Dar responsabilidades a esses alunos? Convidá-los a participar diretamente da dinâmica da sala de aula? Que professor ainda não colocou em prática todas as ações destacadas acima? Penso que todos já lançaram mão de várias delas e sem sucesso.
Eu também.