quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Aluno especial

Ninguém, a não ser quem está lidando diretamente com o caso, sabe o que significa trabalhar com um aluno que demanda outros cuidados para além dos pedagógicos.
Trabalho, neste ano, com um aluno, que desde o início, em fevereiro, chamava a minha atenção devido à sua total inquietação e alto nível de ansiedade, em sala de aula.
Ele é pouco desenvolvido fisicamente para a idade , 11 anos - altura e massa corporal - é extremamente agitado, falante, voz estridente e alta. Toma o turno da fala de qualquer um seja colega ou professores; responde sempre em primeiro lugar, não importa se corretamente ou não; ninguém tem vez com ele; é o primeiro e o único a ler, a responder a qualquer questão, a fazer qualquer atividade. Basta-me começar a perguntar "quem quer fazer..." e ele logo toma a frente!
Incomoda muito, essa atitude dele, a mim como professora e aos colegas como participantes do mesmo grupo e portanto com os mesmos direitos. Porém, não atinava muito bem, com o motivo que o levava a ser tão egoísta!
Sempre procurei entendê-lo e controlá-lo da melhor forma possível e me colocava como mediadora dos conflitos surgidos em sala, por causa dele.
Até que um dia, tudo começou a ficar mais claro. Num determinado instante do primeiro semestre letivo, o aluno em questão, entrou em convulsão, enquanto fazia o "Para Casa"; relato de uma parente que o acompanha.
Levado ao médico e muitos exames depois ficou diagnosticado ser o aluno portador de uma espécie de aneurisma cerebral; a indicação de tratamento é cirúrgica e com poucas chances de sucesso, segundo relatos familiares. Ainda segundo os médicos, relato da família, a agitação e a ansiedade em demasia do aluno se explica por aí. A pedido do médico neurologista, fala da família, o aluno precisa ser estimulado a participar das aulas, a escrever com legibilidade ( a letra dele é quase ilegível) e a ter limite; precisa ser contido nos seus impulsos... Passou a tomar uma medicação ante convulsivante; a qualquer momento ele pode entrar em crise e precisa ser socorrido imediatamente. Nesse caso, ser encaminhado com urgência ao hospital para uma cirurgia de emergência , de altíssimo risco e alta probabilidade de não dar certo...

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Escola Plural:um outro olhar

Em novembro de 2004, estava eu na direção eleita de uma das escolas da Rede, quando fui surpreendida pela então nova "Proposta Político-Filosófica de Ensino", da Rede Municipal, denominada Escola Plural". Ouvira, naquele instante e pela primeira vez a denominação "Escola Plural". Estranhei o nome e estranhei mais ainda a forma como tal projeto chegava até mim.
Na semana seguinte, recebi uma convocação da SMED "Secretaria Municipal de Educação" para tomar conhecimento oficial da nova proposta de escola para a Rede. Achei o fato tão grave e ao mesmo tempo tão insólito que não quis participar sozinha desse evento. Levei comigo, para a reunião de apresentação da nova escola, todos os professores do turno da tarde, horário do evento.
O então Secretário Adjunto da Educação Municipal, Professor Miguel Arroyo, iniciou sua exposição dizendo-nos que a nova proposta de política educacional municipal surgira dos movimentos educacionais da própria rede e que aquele documento nada mais era do que o reflexo de tais movimentos.
Faz-se necessário esclarecer, porém, que as décadas de 80/90 caracterizaram-se por movimentos em prol de uma educação mais global, participativa, progressista, construtivista e desenvolvida a partir de projetos pedagógicos, que atendessem às necessidades e à cultura dos alunos e das comunidades nas quais as escolas se encontravam. Cada escola era incentivada a ter o seu "Projeto Político Pedagógico" e os professores recebiam onorários, extra grade curricular, para desenvolver tais projetos. No entanto, nem todas as escolas chegaram a ter aprovados, pela Prefeitura, seus projetos, pois isso dependia fundamentalmente do nível de organização política e pedagógica de cada uma delas.
Pode-se depreender daí que assim como em cada sala de aula há grupos diferenciados de alunos e por "n" motivos essa heterogeneidade se estabelece, assim também, acontece em relação às escolas. Desta forma, é fato que um grupo de escolas da época estava bastante avançado nas discussões concernentes à sua organização administrativo-pedagógica; outro grupo estava a meio caminho nessas mesmas discussões e outras tantas escolas não havia alcançado qualquer nível mais sistematizado de organização político-pedagógica.; trabalhavam segundo os moldes tradicionais e cristalizados de um ensino mecânico e sem sentido para o aluno.
Pois bem, veio a "Escola Plural" e nivelou tudo por baixo. Jogou no mesmo balaio as escolas de ponta, as intermediárias e as alienadas e/ou tradicionais no que esse termo tem de negativo...
Tomamos conhecimento do projeto em novembro de 94 e em fevereiro de 95 já estávamos praticando a "Escola Plural". Tivemos uma semana de treinamento no final do mês de janeiro/início de fevereiro. De uma hora para outra, não tínhamos mais: a referência da seriação, a referência curricular, a referência do tempo de permanência com o aluno em sala de aula, a referência de quem trabalharia o que com os alunos. Deveríamos adotar o método de trabalho por projetos a chamada "Pedagogia de Projetos" sem termos sido treinadas,para tal, sem sequer sabermos, muitos de nós, do que se tratava. Aqueles(as) mais curiosos(as) ou mais antenados(as) é que tomavam a frente na distribuição das tarefas entre os professores e levavam para a escola textos referentes à "Pedagogia de Projetos". Ah! Não seria mais de bom tom ficarmos atrelados a conteúdos, a livros didáticos; cartilhas, "nem pensar"! E reprovar o aluno ao final do ano, por não ter aprendido o que deveria, tornou-se ilegal - a Escola Plural não nos permitia isso. Ficamos assim, batendo cabeça, durante todo o ano de 95/96 e porque não dizer, até hoje! A escola virou um caos, ninguém sabia mais como desenvolver seu próprio trabalho. Jargões da função como "dar aula, dar notas pelos trabalhos dos alunos, ensinar a ler, ensinar a escrever, usar a cartilha ou o pré-livro, ou o primeiro livro de leitura, ensinar a tabuada da multiplicação e da divisão, dar ditado para avaliar o padrão ortográfico dos alunos, tomar a leitura do aluno", dentre outros, até então tão familiares a nós, tornaram-se verdadeiros palavrões, rótulos de professores tradicionais, etc, etc, etc...
Hoje, leio os jornais estarrecida pois estes nos dão a entender, nas matérias que tratam do assunto, que a "Escola Plural" foi obra de professores que de repente, na Rede toda, deixaram, por um capricho qualquer, de avaliar seus alunos e dar uma nota por seus trabalhos e, pior ainda, "passavam os alunos de um ano para o outro sem saber nada"! Em nenhum momento leio a verdadeira história da implantação desse projeto na RME.
Em nenhum momento se esclarece ou se afirma que os professores são reféns da chamada "Escola Plural", assim como os alunos e seus familiares.
Sim, na verdade somos todos reféns das políticas educacionais implantadas pelos políticos de plantão e seus administradores públicos.

sábado, 22 de novembro de 2008

Resultados Subjetivos

A magia de uma sala de aula se estabelece quando percebemos, de repente, o crescimento intelectual , emocional e de interação social dos nossos alunos. Isso é mágico porque não é mensurável. Não se faz, ainda, creio eu, uma avaliação objetiva e se distribui pontos para o "amadurecimento emocional, ou intelectual, ou social do aluno". Nesse tipo de avaliação o instrumento de que o professor se vale está contido nele mesmo. Ou seja, isso exige um professor atento, observador, que interage com seus alunos e que consegue, aos poucos, muito lentamente e ao longo do ano letivo ganhar a sua confiança, para que ele, aluno, possa desabrochar.E é de repente, que aquele aluno caladinho, lá do canto da sala, começa a se expressar; faz perguntas pertinentes, interessa-se pelo assunto em pauta, dá palpites; não se sente mais constrangido com o fato de responder e errar, pois entendeu, a partir de um trabalho do professor, que a sala de aula é o lugar para errar, caso contrário, ninguém precisaria estar ali.
Esse trabalho de fazer o aluno se sentir bem, confortável na sala de aula, a ponto de se expor e ter o respeito dos colegas é dos mais sublimes que um professor pode e deve fazer, porque mexe na auto-estima do aluno. E aluno confiante e ao mesmo tempo curioso e desejoso de aprender é tudo que um professor almeja e aprecia ter.
Nesse sentido, também o conteúdo trabalhado ajuda a aguçar a curiosidade do aluno. Não há nada melhor numa turma de pré-adolescentes do que o conteúdo de ensino relacionado à "Origem do Universo"; "Origem da Vida" ou a "Origem e Evolução do Homem na Terra", pois é a partir daí que o mundo se abre para eles. É nesse exato momento que percebem que o mundo não se constitui somente da casa, família, bairro, escola; existe muito mais a ser descoberto e explorado...
Essas aulas se tornam tão intensas na sala que obriga um controle da turma absoluto por parte do professor tantas são as perguntas, tantos são os casos que os alunos querem contar, tantas são as trocas de experiências entre eles.
No começo desses estudos pode-se perceber a confusão que reina na cabecinha de cada um: mundo, universo, país, bairro, cidade, estado, capital, parece ser tudo uma coisa só e tudo isso foi criado por Deus e ponto final. Mas com o desenrolar das aulas e a apresentação das diversas teorias da origem do universo (criacionismo e evolucionismo, por exemplo) algo ilumina os olhinhos e parece que passam a enxergar e a pensar em coisas que jamais haviam pensado antes. Começam, então a duvidar e a questionar;as aulas se tornam, assim, momentos de debates quentes entre todos...
Percebo o mesmo envolvimento em relação à leitura e ao gosto de ler para a fruição, para o prazer, quando inicio as leituras de "Contos Infantis" ( as versões originais), as leituras das histórias de Monteiro Lobato - Histórias do Mundo para Crianças, O Sítio do Pica-Pau-Amarelo, Reinações de Narizinho, As Histórias de Pedrinho ou Reinações de Emília - imediatamente o interesse deles em pegar esses livros na Biblioteca da escola para ler de novo em casa, se manifesta. Nesses momentos eu me sinto feliz e realizada como professora; sinto que é aí que faço a diferença para eles, é aí que deixo a minha marca em suas vidas, pois percebo, embora isso não se reflita de imediato nas avaliações mais objetivas do trabalho pedagógico, que a vida deles e a percepção que têm do mundo se modifica, se transforma nesses momentos de aula. O registro delas se faz na alma, na emoção e não no caderno ou na prova escrita.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Alunos inquietos: o que isso quer dizer?

Hoje percebi que um de meus alunos estava mais inquieto do que o de costume; mal entramos para a sala e ele já saiu para ir ao banheiro. Faz parte dos nossos "combinados de sala"(regras de funcionamento interno da sala) a permissão para sair da sala e ir ao banheiro ou tomar água sem a necessidade de pedir à professora, desde que: saia um aluno de cada vez; sem perturbar o andamento da aula; sem demorar lá fora mais que o necessário; sem perturbar as outras turmas ao transitar pelos corredores da escola. Isso vem sendo mais ou menos seguido, porém eu me obrigo a estar sempre atenta à essa movimentação; quando necessário, havendo abuso de liberdade, intervenho condicionando as saídas à minha permissão.
Alguns alunos, repetidamente, transgridem as regras estabelecidas, preocupando-me.
É sabido por todos que lidam com pré-adolescentes e adolescentes que essa faixa etária caracteriza-se pelo corte do "cordão umbilical" com a família; pela descoberta de que o mundo vai muito além do "portão de casa"; pela descoberta de que os pais não são os "donos da verdade"; pela necessidade de transgredir o estabelecido e, principalmente, de criar laços com o grupo, fazer parte de uma tribo e segui-la fielmente.
Determinados alunos dessa idade são mais influenciáveis que outros, os meninos são mais rebeldes que as meninas e se dispõem a experimentar as novidades mais afoitamente, sem muita ou nenhuma reflexão, quanto às possíveis conseqüências de seus atos.
Descoberta do corpo, descoberta do outro e descoberta do prazer via "amassos", "ficar" e/ou via a experiência com a droga.
Eu, pessoalmente, não tenho nenhuma formação específica para lidar com a questão do uso da droga , por exemplo, mas sei, no caso específico dos meus alunos, que eles fazem parte da população de risco e de vulnerabilidade social e que estão expostos às drogas, por habitarem uma região, onde, comprovadamente, há tráfico de drogas e "guerra" entre líderes para o controle desse tráfico.
Pois bem, meu aluno chegou agitado além do normal, esfregando os olhos a todo o momento, olhando para mim e me "encarando" como se eu fosse sua "inimiga", respondendo-me grosseiramente a qualquer observação minha em relação à ele e, principalmente, fazendo gestos e barulhos na sala de aula, sem o menor pudor ou auto-controle.
Chamei-o em particular e conversei abertamente com ele sobre minhas suspeitas e preocupações; falei-lhe claramente e objetivamente sobre o uso de droga e minhas suspeitas relativas a ele.
Olhou-me atentamente nos olhos, não disse nem que sim e nem que não; voltou para a turma mais tranqüilo, porém às vezes sonolento, "lerdo"; às vezes agitado, passando a mão pelo rosto e pela cabeça em movimentos circulares; mais calado... Porém...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Ensino Fundamental

Uma das funções precípuas do ensino fundamental (faixa etária de 6 a 14 anos) é ensinar a ler e a escrever. São habilidades distintas que exigem muito conhecimento por parte do professor alfabetizador e muito esforço por parte dos alunos. Porém, quem não lida diretamente com esse assunto, quem não é do meio, tende a achar que o ensino/aprendizagem da leitura e da escrita é algo fácil e rápido. Ledo engano! Principalmente, porque, a alfabetização e o ensino público de um modo geral é terra de ninguém. Existem mil teorias a respeito, as ideologias campeiam e, como no futebol, todos se acham no direito de dar palpites.
Aliás, a educação escolar e a função de professor é dos poucos ofícios que sofre uma enorme pressão por mudanças, vindas de todos os lados; muitas críticas e nenhuma ou quase nenhuma ajuda . Já virou senso comum o pensamento de que aos professores e somente à eles cabe o ônus do fracasso escolar em todos os tempos. Esquecem-se, aqueles que assim pensam,de que tanto o professor quanto o aluno são sujeitos de um mesmo processo; ambos sofrem com as ocorrências sociais e pessoais diárias e levam consigo , para as salas de aula, toda a carga dessas interferências.
Por outro lado, não se pode negar que existem papéis a serem cumpridos e responsabilidades a serem assumidas, de ambos os lados.
Como já foi dito acima, aprender as habilidades da leitura e da escrita não é algo simples, rápido e fácil; exige preparo técnico, emocional e social, por parte do professor, e , por parte do aluno,exige: vontade de aprender, motivação, valorização do estudo, suporte familiar e social, boa saúde e predisposição para estudar. Sem esses ingredientes, de ambos os lados, pouco se pode alcançar.
Está claro de que não se pode esperar as condições ideais para então agir, mas é óbvio também que sem o mínimo de interesse pelo estudo, e pelo trabalho que é ensinar/aprender, pouco se consegue.
Faz-se necessário, então, acredito eu: apoio, suporte, acolhimento e interesse sincero aos elos fundamentais da corrente que se chama ensino básico ou fundamental.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Professores Ignorados

Há tempos que trabalho em educação. Quando entrei pra RME, aos 23 anos de idade, já assumi de cara, uma função mediadora entre professores, alunos e direção da escola, e/ou, professores, alunos e pais. Há época, exercia a função de "Supervisor Pedagógico". Acabara de me formar, estava no início de minha carreira profissional, no início da construção de minha família e cheia de energia e entusiasmo.
Não entendia muito bem quando minhas colegas, mais antigas que eu na profissão, manifestavam-se seticamente a respeito das novas políticas educacionais, dos novos planos para salvar o ensino básico, dos novos métodos para ensinar a ler e a escrever.
Neste período decorrido, passei por vários destes planos ou destas reformas do ensino. Desde aqueles que consideravam que as crianças não aprendiam a ler por causa do "Método Global de Contos", Pré-livro "Os Três Porquinhos", da educadora Lúcia Casasanta, até àqueles que consideravam que o problema da não aprendizagem dos alunos estava no fato de eles irem "com fome" para a escola. Então, "vamos dar comida para eles"!
Na escola onde trabalhava nesta época, os alunos recebiam um copo de leite à entrada do turno, almoço antes do início das aulas e, quanto ao método de ensino da leitura e da escrita, mudara para o "Método Fônico", Cartilha "Acorda Dorminhoca".Tivemos, posteriormente, o período do "Construtivismo", teoria da educadora Emília Ferreiro e outras/os; outras formas de intervenção foram/são: doação de livros didáticos aos alunos, dicionários, material escolar completo e kit" literatura, composto pelos autores de sempre...
Na verdade, de lá para cá, nada ou quase nada mudou. As intervenções políticas, ideológicas e oportunistas no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, continuam acontecendo e os professores, nesse imbróglio todo, são praticamente ignorados. Jamais foram ou são consultados sobre o que mudar, por que mudar, onde mudar e como mudar.
Sempre fomos tratados como a peça de menor importância na engrenagem educacional e o somos até hoje. O máximo que fazem os "Secretários de Plantão", e quando o fazem, é comunicar às escolas de que tal ou qual "Seminário, Encontro, Congresso" seja lá o que for, irá acontecer e, as escolas que "se virem nos trinta" para propiciar ao professor (em pleno período letivo) a oportunidade de participar. Eu mesma já participei de alguns desses eventos, mas normalmente, o que se faz lá é referendar aquilo que já foi acordado em reuniões fechadas e para poucos.
Resultado disso? Provavelmente uma parcela substancial da culpa de o ensino público atual estar no fracasso de que todos sabemos.

Tempo de avaliação

Queiramos ou não, final de ano nos obriga a avaliar não só as nossas ações pessoais, as de caráter particular, bem como as de cunho profissional.
Nesse ofício de professor nos enchemos das melhores expectativas ao se iniciar cada ano letivo e estas vão se amofinando, vão murchando, vão minguando à medida que o tempo passa e nos deparamos com o fracasso de nossos alunos.
Alguns de seus progressos são perceptíveis somente para nós, professores, mas não são mensuráveis objetivamente, porque fazem parte do desenvolvimento subjetivo de cada um .
Outras aprendizagens ,mais perceptíveis ,como alcançar proficiência em leitura e escrita, por exemplo, nos frustram , pois às vezes a evolução alcançada pelo aluno é tão pequena, a mudança percebida entre aquilo que já dominava e o que passou a dominar, após um ano de trabalho, nos parece tão insignificante ,diante do que esperávamos ,que só nos resta lamentar e tentar buscar de quem foi a culpa. Quanto trabalho, quanta expectativa, quanto desgaste do aluno, do professor e dos pais, diante de uma página cheia de incoerências, de inadequações, de falta de percepção do significado do ler e do escrever.
O que fazer? Não há tempo para mais nada. O que deu errado? Por que não houve a aprendizagem esperada?

Escola Teatro e Esporte: uma bela e possível parceria

Hoje, todos os alunos da minha escola foram ao teatro. Assistimos a uma peça "A Bela e a Fera", na versão clássica, original, e que foi do agrado de todos.
Os atores conseguiram, por quase 1h, manter mais de 400 alunos, faixa etária entre 9 e 13 anos de idade, atentos e interessados. Ouvia-se, a cada mudança de cenário, a cada mudança de roupa das personagens, a cada fala mais enfática os sinais da aprovação dos alunos.
Há muito que se sabe da importância da parceria artes/esportes e o ensino acadêmico.
Penso que todas as escolas, públicas ou privadas ,deveriam contar , rotineiramente, com uma estrutura paralela, mas presente em cada unidade de ensino , de profissionais das artes e dos esportes: música, dança, teatro, artes plásticas, dentre outras e as modalidades esportivas mais do gosto dos alunos, para, em parceria com o ensino acadêmico, formá-lo na sua totalidade.
O interessante é que essa idéia não é nova e nem é minha. Ela está presente nos programas de ensino nacionais de no mínimo 30/40 anos atrás. Porém, a vontade política para torná-la real nas escolas é que inexiste até hoje, infelizmente. Pobre Brasil! Pobres de nós conformados e submissos cidadãos.

Paulo Freire: educador genial.

Dia desses, relendo a obra de Paulo Freire "Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática Educativa" pude observar que seu poder de síntese, de concisão é tão grande, suas idéias a respeito da relação professor/aluno são tão intensas que já se fazem presentes nos títulos e subtítulos de cada capítulo da obra citada. Se não, vejamos: a obra citada acima se subdivide em três capítulos e estes em subtítulos.
No primeiro capítulo, o autor discorre sobre o tema principal intitulado "Não há docência sem discência" e, numa linguagem característica e coloquial, puxa o leitor para reflexões sobre a imprescindível relação professor/aluno no processo ensino/aprendizagem, quando diz que ensinar exige rigorosidade metodológica; exige pesquisa; exige respeito aos saberes do educando; exige criticidade; exige estética e ética; corporificação das palavras pelo exemplo; exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação; exige reflexão crítica sobre a prática. Para ele, ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural.
No capítulo 2, evidencia a relação professor/conhecimento e as responsabilidades dos mestres, diante da classe, no manejo dos conteúdos trabalhados com os alunos. Intitula-se o capítulo: "Ensinar é não transferir conhecimento", pois, segundo afirma, ensinar exige consciência do inacabado; exige o reconhecimento de se ser condicionado; exige respeito à autonomia do ser do educando; ensinar exige bom senso; exige humildade, tolerância e luta em defesa dos direitos dos educadores; ensinar exige apreensão da realidade; exige alegria e esperança; exige convicção de que a mudança é possível, exige curiosidade por parte do professor.
Por fim, no terceiro capítulo, reafirma a convicção de que "Ensinar é uma especificidade humana", e, portanto, exige segurança, competência profissional e generosidade; exige comprometimento e compreensão de que a educação é uma forma de intervenção no mundo.
Paulo Freire afirma, ainda, que ensinar exige liberdade e autoridade; exige tomada consciente de decisões. Ensinar exige saber escutar e saber que a educação é ideológica; exige disponibilidade para o diálogo.
Por fim, ensinar exige querer bem aos educandos.
Genial! Grande responsabilidade a nossa.
E você, o que pensa a respeito?

Dia Morno

Trabalhei com sete alunos em sala! Dia chuvoso, segunda-feira, horário de verão, final de ano... Tudo isso é motivo para que o aluno não apareça na escola. E, aqueles que vão, pressionam para que não se dê aula! Eles dizem assim: "Ô, fessoôra! Vão ver um filme"...
Argumentei com eles de que eu não esperava tantas ausências, de que não gostaria de passar filmes ou vídeos só para "tampar buracos", digo que em respeito ao esforço deles de terem ido à aula apesar da chuva, do horário de verão, etc, fazia questão de manter o planejamento do dia. Mas nada adiantou. Eles se mantiveram insatisfeitos o tempo todo! Fizeram de tudo para desviar o rumo das aulas de História, Língua Portuguesa e Matemática previstas no horário. Praticamente não renderam nada. Por fim, eu também fiquei desmotivada pois pensava nos alunos ausentes e no fato de, caso avançasse com o conteúdo como era minha intenção, eles ficariam prejudicados por não estarem ali. De qualquer forma a aula teria que ser reposta para eles. Assim, entre a cruz e a espada, passei por mais um dia de trabalho.

Tempo Escolar

Tempo, substantivo masculino, apresenta vários conceitos, nos remete a várias idéias e situações. Tempo pode ser: duração calculável dos seres e das coisas; duração limitada; sucessão de dias, horas momentos; período; época; estado atmosférico; os séculos; ensejo; estação ou ocasião própria, dentre outros conceitos.
A escola lida com o tempo nos seus mais diversos conceitos: há o ano letivo a ser cumprido legalmente, segundo Lei Federal - o ano escolar dura no mínimo 280 dias letivos. Esses dias são distribuídos ao longo do ano conforme orientação das "Secretarias de Educação", sejam elas municipais, estaduais ou do ensino privado. Nesse particular o Brasil é um dos países de menor carga horária no mundo.
Pois bem, todas as escolas organizam o trabalho pedagógico a ser realizado tendo por parâmetro de tempo o "Calendário Escolar". Dessa forma, quanto mais organizada é uma escola, maior a otimização do seu tempo escolar. Mas isso demanda um projeto pedagógico bem definido, metas educacionais claras, objetivas, planejamentos prévios de cada uma das etapas do ano escolar e dos trabalhos a serem desenvolvidos por alunos, professores, corpo técnico da escola, demais funcionários e familiares dos alunos.
A escola que não se organiza dessa forma, perde-se no "apagar incêndios" do dia-a-dia e, ao final do ano letivo, colhe frustrações, cansaço, baixo rendimento dos alunos e conseqüentemente de toda a sua equipe pedagógica ; e, por que não dizer, também dos funcionários e dos pais dos alunos. Não havendo um planejamento e, a partir daí, um controle rígido das ações pedagógicas da escola, o que impera é o espontaneísmo, são as atividades sem conseqüência na aprendizagem dos alunos ou, pior ainda, é a perda da oportunidade de aprender...
Vivo isso e constantemente me pego discutindo com meus pares a urgência de um maior controle das nossas ações, mas são tantas as desculpas, são tantos os entraves, são tantas as situações de abandono dessa idéia - de melhor e maior aproveitamento do tempo escolar, via planejamento pedagógico, planejamento administrativo, que já nem sonho mais com tal organização.
Para mim, o que distingue a escola pública da escola particular não é a clientela, não é o professor, mais ou menos preparado para exercer o seu ofício, mas sim, a capacidade de organização, de liderança e de planejamento da ação pedagógica em cada unidade escolar.
O tempo escolar é sagrado, escasso e não deveria ser negligenciado como vejo acontecer com tanta freqüência.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Democracia e sala de aula

Sou democrata e assim procuro viver independentemente do lugar onde esteja nas minhas relações interpessoais. Ouvir as pessoas, buscar-lhes a razão e o que pensam; colocar-me no lugar delas, para então decidir por esse ou aquele ato, por esta ou aquela opção dá trabalho, mas compensa pois é assim que entendo o respeito às pessoas e a mim mesma em cada situação de convivência seja ela familiar, profissional ou social.
Assim, conduzo minhas aulas baseada na força do diálogo: apresentar o problema ou a situação de estudo; ouvir o que os alunos têm a dizer a respeito; e, a partir daí, estabelecer com eles diálogos sobre a temática em evidência, até chegarmos, juntos, aos conceitos já estabelecidos, e/ou às idéias construídas por eles, naquele momento, é uma das metodologias de trabalho utilizadas por mim, em sala de aula.
Porém, tudo que envolve fala na expressão de idéias, envolve também paixão, entusiasmo, emoção e... barulho, muito barulho! Sim, minhas aulas são barulhentas; meus alunos falam, defendem seus pontos de vista, fazem perguntas para esclarecimentos e perguntas questionadoras: daquelas que implicam, muitas vezes, em tremendas "saias-justas" para a professora.Essa é uma das formas mais difíceis, acredito eu, de conduzir uma aula, pois tanto pode proporcionar momentos mágicos de aprendizagens para todos, quanto pode cair num desvio total de rumo e se perder do seu objetivo inicial. Exige do professor muita segurança não só do conteúdo em pauta, mas também, na escuta do aluno, na filtragem imparcial daquilo que é pertinente ao momento da aula e na mediação segura do tema e do tempo disponível ,conforme o horário das aulas a ser cumprido. Vivemos situações enriquecedoras, de pura vibração quando tudo dá certo e momentos de loucura quando perdemos o controle da discussão e da turma. Isso, porque, há em sala de aula, várias situações de trabalho: apresentação do tema, desenvolvimento do assunto, estudos, leituras e pesquisas a respeito, sistematização do estudo e avaliação da aprendizagem. Ao ser professora de cinco disciplinas em uma mesma turma preciso de um controle enorme sobre as situações de ensino vivenciadas de acordo com a disciplina desenvolvida e o momento pedagógico de cada uma, ou seja, é comum estar introduzindo um estudo de Matemática, desenvolvendo um outro de Língua Portuguesa, sistematizando um tema em História e avaliando um estudo já realizado em Geografia em um único dia de trabalho!
Saio da sala, todos os dias, exaurida! A sensação é a de ter praticado quatro horas e meia de exercícios físicos intensos e sem descanso; quando tudo corre bem - alegria, entusiasmo, vibração, quando perco o controle e sinto que nada foi bom - frustração, tristeza, fracasso!
Vivo isso intensamente, todos os dias, há 13 anos. É a minha adrenalina.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

O Professor Está Só

Trabalhamos sós. Precisamos urgentemente do diálogo com os outros profissionais da saúde, da assistência social e da cultura para nos dar o suporte necessário ao trabalho pedagógico que realizamos com e para os alunos.
Menino doente não aprende. Falo das doenças do corpo, da alma e da sociedade.
Professor doente não ensina: doença do corpo, da alma e social. E mais, sociedade da era da comunicação não pode admitir o isolamento profissional: a falta de interação com os outros órgãos de assistência social, humana, psicológica e cultural, em benefício de alunos e professores.
Como obter o rendimento escolar desejado, de alta qualidade, com criança que se queixa de dor de dente, dor de cabeça, de desânimo! Como obter o tão almejado rendimento escolar de crianças infreqüentes, desatentas, dispersas... Não há o que fazer por elas? Somente o professor e a escola são os responsáveis por este estado de coisas?
Houve um tempo na Prefeitura que contávamos com médicos, psicólogos, dentistas, assistentes sociais, dentre outros, juntos a nós professores, no atendimento aos alunos.
Por questões ideológicas e econômicas, certamente, tudo isso acabou.
A lógica, hoje, é a de que a escola cuida do pedagógico e os outros setores da Prefeitura cuidam das outras questões que envolvem os alunos e suas famílias. Vivemos, então, num total isolamento! Não contamos com nenhum outro profissional sequer para trocar idéias a respeito do por quê do desempenho do aluno X , Y ou Z.
Idealmente deveríamos desenvolver um trabalho pedagógico assentado no coletivo da comunidade escolar, mas nos foi tirado até o tempo de 1h semanal, com o qual contávamos para fazer as reuniões pedagógicas internas. Trabalhamos de segunda à sexta-feira sem ter a menor noção do que acontece na sala de aula vizinha à nossa. E pensar que vivemos em plena era da comunicação, pretensamente, com todos os recursos comunicativos adivindos daí à nossa disposição.
Pois, sim!